A Casa do Leão

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Ira voltou até o seu quarto na ala superior de forma cabisbaixa, quase esqueceu das marcas das chamas roxas na parede, parecia uma eternidade desde o acontecido, mais um mistério sem solução. Actus preso era um retrocesso, Ira sentia um cansaço fora do comum, um desânimo sufocante, cada vez mais distante ficava a justiça de Jojô e Nana, Ira sentiu um soluço se formar na garganta só de lembrar deles, a situação de não poder fazer nada era deprimente, tudo era deprimente.

Ira deitou em sua cama e ficou encarando o teto pelo que pareceu horas, lembrava do Rio de Janeiro e de como era a vida lá, como era acordar cedo todos os dias ainda com o sol nascendo e pegar o ônibus com o pai até a escola de ricos, parecia um castelo da Barbie e dentro mais ainda, lembrava que seu pai era faxineiro e isso dava direito a uma bolsa de 100% para a sua filha. Ira então afugentou esses pensamentos, logo mais estaria pensando na sua mãe e ninguém merecia isso.

Trovões faziam a porta de madeira balançar, a cada reverberação era um súplica para finalmente a porta ceder, mesmo que as correntes presas nos pulsos mostrassem que seria impossível sair, com porta ou não. O barulho do mar agressivo também era perceptível, era como se estivesse em uma torre-prisão no meio do oceano e uma tempestade a estivesse castigando. Um vento muito forte causou arrepios na espinha e uma explosão fez a porta desaparecer, revelando um ser de sobretudo preto entrar na torre, extinguindo imediatamente qualquer som, só deixando claro as próprias batidas do coração de Ira, seria a morte vindo busca-la ?

Ira acordou com sobressalto, os sonhos apocalípticos estavam cada vez mais aterrorizantes. Seria um presságio? Ira sentira os amigos em perigo real e confiou nos instintos, por sorte chegou a tempo, deveria confiar nos sonhos também ? Houve uma batida na porta e em seguida entrou Eali no quarto, seus olhos ansiosos pediam permissão para poder se aproximar, Ira então sorriu com tamanha delicadeza.

- Tudo bem, Eali ? Perguntou com a voz meio rouca, Ira.

- Tudo ótimo, princesa. Desculpa dizer, mas fiquei muito preocupada quando escutei que o conselheiro chefe a sequestrou. 

Ira sentiu um frio na barriga cortante ao lembrar de Actus preso e toda a insegurança do dia anterior veio a tona, quase vomitando, levantou e pegou um suco na bandeja de Eali.

- Você guardaria um segredo da sua majestade, Eali ? Perguntou de forma falsamente autoritária, Ira

- Claro que sim, prince...Majestade! - Respondeu Eali quase em posição de sentido.

Ira riu ao ver o pequeno corpo magrinho de Eali se esforçar em ficar ereto como um soldado, era uma menina de ouro, existia um sentimento quase que fraternal pela serviçal, sempre presente atenciosa.

- Então confiarei em você, Eali. Escute com atenção, você será a minha confidente e o segredo da Coroa está nas suas mãos, tudo bem ? 

- Eu aceito o fardo, minha majestade, o que precisar de mim é só falar. Respondeu de forma austera, Eali.

Ira então contou que Actus não havia sequestrado ninguém e sim a levado para aprender a se defender, os conselheiros queriam o poder e usaram isso para tira-lo de cena. Ira esperou alguma expressão de surpresa, mas Eali parecia entender a situação bem até demais.

- Sabe, majestade. Eu nasci no castelo assim como meus pais, somos uma família de servos há décadas dos Stonewall, desde a morte do seu pai, não posso negar que sua postura mudou e sinto como se fosse outra pessoa, eu adoro isso, adoro lhe servir, porém, também tenho família do lado de fora do castelo e muitos deles sofrem de fome e miséria. Eles sabem que o reino está matando pessoas por suas dívidas, isso nunca aconteceu, os soldados eram sinônimo de proteção e não de opressão. Tudo isso graças a morte do seu pai, o Imperador, imagino que a culpa automaticamente é de quem comanda, Actus, Cairon e os conselheiros fantasmas.

Ira Stonewall  - A Herança de MadriacOnde histórias criam vida. Descubra agora