Capítulo Treze

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"Então quando eu estiver pronta para ser corajosa
E meus cortes curados com o tempo
Conforto irá descansar em meus ombros
E vou enterrar meu futuro para trás
Eu sempre irei lhe guardar comigo
Você sempre estará em minha mente
Mas há um brilho nas sombras
Eu nunca saberei se não tentar

Com cada pequeno desastre
Eu vou deixar as águas paradas
Me levar para algum lugar real

Porque dizem que lar é onde seu coração está gravado na pedra
É onde você vai quando está sozinho
É onde você vai para descansar seus ossos
Não é apenas onde você deita sua cabeça
Não é apenas onde você faz sua cama
Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?
Lar"
Home, Gabrielle Aplin

"O tempo nos pune, tomando tudo – mas ele também nos salva, tomando tudo."
Sarah Manguso, Ongoingness: The End of a Diary

Hawkins, Indiana, 1998

Ele estava na quadra da escola quando ela chegou. Tinha a cabeça baixa e as mãos no bolso, enquanto equilibrava o peso do corpo ora num pé, ora no outro.

Nancy se aproximou o suficiente para dizer:

— Steve me contou tudo.

Jonathan levantou então os olhos, encarando-a na penumbra.

— Tudo?

— Sim... me contou sobre o que meu pai fez no passado, como foi ele que te fez pensar que não era o suficiente pra mim e como você simplesmente aceitou isso calado. Por que fez isso? Como pode, Jonathan? Como pode me deixar?

Ele voltou a encarar o chão, respirando de forma ritmada, tentando conter os pulos do próprio coração que parecia querer saltar pra fora e sair por sua boca.

— Seu pai tinha razão naquela época. Eu nada tinha pra te oferecer.

Nancy já sentia as lágrimas salpicarem seus olhos.

— Você tinha tudo.

Ele meneou a cabeça.

— Você sabe que isso não é verdade...

— Você tinha um amor verdadeiro e quem sabe, a possibilidade de uma relação de verdade, baseada no afeto e no respeito entre duas pessoas. – disse Nancy dando um passo a frente.

Ele estava balançado pelas palavras, mas sobretudo pela presença dela; que mesmo após tantos anos ainda era capaz de causar uma poderosa vertigem nele, deixando-o à deriva, sem chão, sem ter como se esconder. Nancy o obrigava a encarar seus atos, seus erros, seus medos. Foi assim quando Will sumira pela primeira vez e estava sendo assim agora.

— Isso seria o suficiente pra você?

— Como pode me perguntar isso? É claro que seria... – o rosto dela se contorceu de uma maneira singular e ela parecia presa em um fluxo de pensamentos contraditórios. — Mas talvez tenha sido como tinha que ser. Nós éramos imaturos, nossa relação podia ter se desintegrado... eu estava indecisa quanto a Yale, podia ficar frustrada se não tivesse tentado entrar na faculdade dos meus sonhos... sei lá. Pelo menos uma vez, eu tinha que tentar.

Jonathan deu um passo a frente e aproveitou para se inclinar na direção de Nancy e tirar uma mecha que caía sobre seus olhos. Os cabelos dela estavam revoltos, mas ela parecia ainda mais linda aos olhos dele assim ao natural.

— E como foi?

— Yale? – ela questionou e ele assentiu. — Muito diferente do que eu pensava... não fui tão feliz no período que estive lá quanto pensei que seria quando era mais nova, mas Quantico me trouxe de volta a vida. Nunca me imaginei uma agente do FBI, mas aqui estou.

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