Atlanta

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Finalmente estávamos quase chegando, mas a viagem parecia ter durado uma eternidade. Eu observava o sol nascer lá fora, iluminando alguma cidade abaixo de nós. No fundo, queria ter ido até lá com o helicóptero do próprio Matthew, devolver o presentinho dele, mas era longe demais, por isso, fomos de avião. Ao meu lado, Lucas dormia profundamente. Tinhamos discutido feio quando disse que estava partindo para Atlanta e que não poderia permitir que ele fosse comigo. Ele bateu o pé e disse que me impediria de ir. No fim, fomos os dois. E lá estávamos nós, a caminho da toca do lobo. 

Os outros resolveram que iriam se encontrar com Jaabir e os outros em Israel, mas a viagem seria muita longa, e eu esperava que fosse ser longa o suficiente para resolvermos nossos assuntos pendentes. 

Era estranho viajar sem tio Ethan. Era difícil bancar a completa adulta sem ele. As vezes eu me esquecia que ele não estava mais lá e me virava para perguntar ou comentar alguma coisa, só para me dar conta de que éramos apenas eu e Lucas. Ainda doía e, apesar de eu ter matado o Caçador, não sentia que era o suficiente. Não era justo. Ele não merecia aquilo. Várias vezes no dia, eu ainda fechava os olhos e conseguia ver e ouvir tudo de novo, as chamas, os berros, as flechas, tudo ainda era nítido. 

Suspirei, esfregando os olhos inchados de uma noite não dormida, e olhei para Lucas. Não deveria ter colocado ele naquela situação. Ele estava prestes a voltar para o lugar onde o exilaram, onde todos apontam e o chamam de traidor, um lugar onde nós poderíamos nem mesmo sair vivos. Não era certo. Lucas não deveria ter ido comigo. Era eu quem tinha problemas e assuntos a resolver com Matthew. Mas sempre foi assim. Alguém se preocupava comigo, me amava, tomava a frente e morria, assim como papai, assim como tio Ethan. Não poderia permitir que Lucas fosse o próximo. 

  -O que estou fazendo com a gente? -Sussurrei, incerta do que estava fazendo, mas não tinha como voltar atrás. 

O piloto deu o aviso de pouso e pediu para colocar os cintos. Me inclinei sobre Lucas, que segurava minha mão, com a cabeça encostada em meu ombro. Acariciei seu rosto, beijei sua boca adormecida e fiquei observando, preocupada, enquanto ele se espreguiçava, despertando.

  -Bom dia.

  -Bom dia. -Ele respondeu, sorrindo um pouco, piscando devagar.

  -Nós já chegamos. -Comentei, traçando linhas na palma de sua mão, pensativa.

Com certeza, Lucas percebeu que eu estava preocupada, pois se ajeitou no assento e ergueu meu queixo, me analisando.

  -O que foi?

  -Eu não deveria ter deixado você vir comigo. -Admiti. -Ficaria mais tranquila se estivesse vindo sozinha.

  -Acha mesmo que iria se livrar de mim tão fácil?

  -Não queria que tivesse que voltar para aquele lugar. -Expliquei, cruzando os braços. -Não é justo. E se alguma coisa acontecer com você...

  -Nada vai acontecer comigo. -Ele garantiu.

  -Mas e se acontecer, Lucas? -Perguntei, séria. -Por minha culpa? Acha que eu conseguiria...

Minha voz minguou, mas respirei fundo, tentando me concentrar, enquanto o avião tocava o chão com alguns solavancos.

  -Só não quero que nada aconteça com você também.

  -E eu preciso garantir que nada acontecerá com você. -Lucas disse e beijou minha testa. -Não se preocupe, vamos ficar bem. Afinal, vamos entrar, conversar e sair, não?

Esse era o plano... Mais ou menos. Eu não tinha explicado exatamente tudo para Lucas, nem poderia. Por enquanto. Todo o plano dependeria da minha conversa com Matthew. Tinha que funcionar. Se não desse certo, a única frustrada seria eu. Não Lucas. 

As Crônicas dos Daren - Livro V - A Batalha da Última EraOnde histórias criam vida. Descubra agora