Renegando o sangue

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Eu me sentia culpada. Imaginar na pressão que Lucas deveria estar sentindo, me desconcentrava, e, mais uma vez, Matthew me derrubou e minhas costas estavam no chão.

  -Deveria prestar atenção, maninha.

  -Matthew, me faça um favor? -Me levantei, rejeitando sua ajuda. -Não me chame de maninha.

  -Qual é, Am? Não pode passar por cima das coisas?

  -Isso é meio complicado, não acha, Matt? -Provoquei com o apelido.

Ele me enviou um sorriso forçado.

  -Touche, Daren. Sabe, você é parecido com ele.

  -Quem? -Perguntei, dando as costas, pronta para começar de novo.

  -Nosso pai.

  -Seu pai. -Cortei, perdendo qualquer sombra de graça. -Marcos não era nada meu.

  -Não renegue seu sangue, querida.

  -Ele. Não é. Meu. Pai. Meu pai é Jonathan Lewis Daren...

  -Continue mentindo pra si mesma, talvez você realmente consiga se convencer disso.

Rangi os dentes enquanto ele, claramente, se divertia com as provocações.

  -Pare de falar e vamos começar logo com isso. -Falei.

  -Ora, vamos, Amara. Seu nome nem mesmo era para ser esse. Imagine: Amara Abcar Daren. Ou Amara Daren Abcar?

  -Ficou horrível. -Debochei.

  -E falo sério quando digo que você se parece com ele. Tem um fogo determinado nos olhos. Se quer, você vai lá e conquista. Perde a cabeça fácil, não sabe se controlar.

  -Para. -Interrompi, mas ele continuou.

  -Aceite, Amara. Nada disso é ruim...

  -Eu não tenho nada dele.

  -Aceite. -Repetiu. -É o que você tem. É o que você é.

  -Você não sabe quem eu sou! -Falei, aumentando o tom de voz. -Não pense que me conhece, Matthew. Agora, se não for para me ajudar a treinar, prefiro que me avise e eu vou embora.

Ele parou um minuto, me analisando, mas assentiu com a cabeça e girou o bastão kwan.

  -Um dia, você vai aceitar. -Afirmou. -Por ora, preste atenção no ataque. Você não arma guarda, por isso, acaba sendo atingida tão fácil. Me ataca.

Fui pra cima, com raiva. Os treinos com Matthew, pelo menos, eram bons. Em um semana, eu já havia aprendido bastante. Ele era muito bom, e aquilo me preocupava. Eu sabia que Lucas também era, mas será que era tão bom quanto?

Eu sabia que ambos pegavam mais leve comigo, por que eu sentia que eles faziam tudo mais lento, com menos força. Eu sabia que não aguentaria o tranco se eles viessem com tudo pra cima de mim, mas aquilo me irritava. Apelei mais nos golpes, apertando e ficando mais agil. O suor escorria por minhas costas, minhas pernas e braços queimavam, ardentes, como se lava escorresse pelos meus ossos. Rugi, tentando acertá-lo, até finalmente acertar meu pé em seu rosto, derrubando-o. Coloquei a ponta do bastão em seu peito, observando sua respiração ofegante.

  -Satisfeito, Matt? -Perguntei, sarcástica.

Minha vitória foi breve. Matthew girou o bastão, batendo minhas pernas, derrubando-me. Meu crânio ressoou, vibrando enquanto o teto cheio de luzes de led giravam em minha cabeça. Matthew se levantou, triunfante, sorrindo.

As Crônicas dos Daren - Livro V - A Batalha da Última EraOnde histórias criam vida. Descubra agora