Bela Adormecida - Lucas

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Ao meu arredor, pessoas caíam e tropeçavam, confusas e ou completamente apagadas. Me desviando de alguns demônios, corri até uma moça, que piscava frenéticamente. Ela começou a ficar mole, bocejando, como se estivesse com sono, mas tratou de se recuperar, como eu fazia nas aulas de biologia e voltou para a luta. Então é isso. Estão ficando com sono. Fiquei aliviado, apesar de ainda estar preocupado com os outros. Continuei na luta até que haviam apenas alguns poucos demônios menores, que já estavam sendo incurralados e mortos. Quase todos estavam de pé, poucos dormiam, enroscados no próprio corpo, no chão. 

Eu estava ensopado, exausto e ofegante. Comecei a procurar Amara em meio a multidão, tentando enxergar por cima das cabeças, e percebi que muitos olhavam para cima. Cobri os olhos e pude ver. Um demônio voava para fora, muitos níeis acima de nós. Pendurada em suas garras, Amara se balançava sem parar, de ponta cabeça. Meu peito se comprimiu, desesperado. Ela enfiou a espada no demônio, que se contorceu e a soltou, e ela começou a cair e cair, os braços e pernas balançando no ar. Em pânico, corri para onde deveria ser sua queda, sabendo que aquilo seria inútil. No último minuto, ela se agarrou a beirada de uma das passarelas, balançando perigosamente. 

Corri para o elevador mais próximo, empurrando um monte de pessoa e enfiando a espada no cinto. Apertei o botão do nível 6 milhares de vezes, como se aquilo o fizesse subir mais rápido. Tirei o excesso de água do rosto, meu cabelo pingando em minha testa, e pulei para fora assim que as portas se abriram. 

Na passarela, tive uma visão muito estranha e ruim. Matthew segurava Amara semi consciente no colo, apertando-a forte contra si, acompanhado por alguns rapazes que eram arqueiros. Senti como se bolhas de lava estourassem dentro de mim. Fui até ele, pisando forte, tentando me controlar. Assim que ele me viu, fechou a cara, ficando sério e frio, mas eu mesmo não deveria estar muito diferente. 

  -Obrigada. -Agradeci a contragosto. -Agora, pode deixar que eu a levo para o quarto. 

  -Não. Acho que não. -Matthew disse, apertando-a mais. -Tomo conta disso...

  -Já disse que eu vou leva-la. -Falei, mais firme. -Me dê ela, Matthew. 

  -Posso fazer isso. Além disso, não sei se ela vai querer que você a leve. Sei que as coisas não estão bem entre vocês. 

  -Você não tem nada com isso. Olha o estado dela, eu preciso e vou leva-la para o quarto. Não vou repetir, me dê ela! 

Amara resmungou alguma coisa, empurrando o peito de Matthew para longe enquanto ele tentava mantê-la. 

  -Posso andar sozinha. -Ouvi-a dizer. 

Matthew a soltou e, por pouco, Amara não caiu, com as pernas bambas e braços pesados. Sustentei seu peso, segurando em sua cintura, sabendo que, se ela insistia que queria andar, era melhor deixá-la tentar andar. A levei para o elevador, ciente do olhar furioso de Matthew as nossas costas. Apertei o botão e fiquei encarando-o da passarela, enquanto as portas se fechavam. Amara despencou, mole, mas eu a segurei a tempo, pegando-a no colo. 

  -Ei, fala comigo. -Pedi. 

Ela tentou olhar para mim, mas seus olhos reviraram e sua cabeça caiu para trás. Olhei-a, preocupado, rezando para que ela estivesse apenas dormindo mesmo. Levei-a para o quarto, rápido, e, antes que eu a colocasse na cama, enrolei-a na toalha. Seus lábios tremiam de frio. Rapidamente, procurei roupas nas gavetas de Am, achando uma blusa qualquer e calça de moletom. Ela não ia gostar daquilo, mas eu não podia deixá-la molhada. 

Retirei sua regata, que estava inteira manchada de sangue de demônio, peguei uma toalha úmida e tentei limpa-la e seca-la da melhor forma possível, passando o tecido pelo pescoço, braços e em seu rosto. Achei que tirar o top seria demais, sentia que era algo muito errado, então, só coloquei a blusa por cima, deu um trabalhão, e continuei. Nunca vou entender como meninas conseguem usar leggin. Ainda mais molhada, foi algo ainda mais trabalhoso. Tirei a calça, depositando na pilha de roupas no chão, e comecei a passar a toalha em suas pernas. 

As Crônicas dos Daren - Livro V - A Batalha da Última EraOnde histórias criam vida. Descubra agora