Capitulo 2: Explicando

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Continho caminhando ate a entrada do prédio onde temporariamente estava sendo minha casa, se é que depois de tudo ainda posso chamar algum lugar de casa. Minha casa havia sido consumida pelo fogo naquela noite, depois disso tudo havia se tornado apenas uma moradia, se qualquer valor sentimental ou apego.

Rick Blanco ou simplesmente Blanco como era chamado pelos seus subordinados era meu homem de maior confiança e o responsável pela minha segurança, havia sido escolhido pessoalmente por Scar para ocupar esse posto, o que me trazia total confiança em suas habilidades. Blanco havia insistindo para que descesse do carro apenas em frente ao prédio, mas depois do inesperado episódio com o policial Heitor eu queria caminhar um pouco para tentar espairecer, sabia que quando adentrasse na cobertura seria uma chuva de perguntas, e naquele momento não gostaria de responder nenhuma.

Blanco alem de leal e competente era completamente discreto em momento algum questionou o que aconteceu durante meu rápido sequestro, apenas dirigiu ate o local indicado para me buscar e me deixou na porta do condomínio conforme meu pedido, eu sabia que era impossível que eu não estivesse sendo monitorada principalmente após o sumiço, meus homens eram perfeitos, sabiam me manter em segurança a distancia, me deixando livre pra viver meus próprios dilemas.

A caminhada apesar de ter levado meia hora não havia sido o suficiente para que eu colasse meus pensamentos no lugar e tentasse entender Heitor, mas eu sabia que havia alguém que poderia me ajudar nessa tarefa.

- Boa tarde Dona Catarina. – saudou o simpático e já idoso Gilmar, porteiro do prédio.

- Boa tarde seu Gilmar. – cumprimentei subindo a pequena escadaria que levava da calça ate o prédio.

Desde que meus homens me informaram sobre o ocorrido com Ana Vitoria eu não havia pensando em muita coisa alem da minha melhor amiga, havia sido completamente relapsa durante os últimos anos, mesmo havendo motivos para justificativa dos meus atos, nada apagaria da minha memória que parte da culpa pelo que havia acontecido era minha, afinal eu havia a deixado exposta e desprotegida enquanto estava vivendo pelo mundo a fora.

Simplesmente peguei meus homens e retornei a cidade, divididos eles estavam responsáveis por manter a segurança de Ana Vitoria e a minha e para capturar quem havia sido o monstro a fazer aquilo com a minha amiga. Ana vitoria estava sobre proteção policial quando cheguei a cidade e não foi difícil furar o cerco da policia, eram fracos e destreinados que demoraram dias para descobrir que Ana Vitoria não se encontrava mais dentro da residência.

Mas não poderia culpar Heitor por colocar a segurança de uma vitima em risco a quantidade de dinheiro disponibilizada para seu departamento era tão insignificante quanto uma leve brisa em um calor de 40ºC, era notável, mas nada que incomodasse ou mostrasse alarde, Heitor fazia o que podia com o que tinha, se com um orçamento minúsculo e homens corrutíveis Heitor já representava uma pedra no sapato de muitos homens na cidade, com um bom patrocínio eu estaria atrás das grades em alguns meses.

Apesar do tempo passado Ana Vitoria ainda era a mesma, sensível, carinhosa e gentil, no momento ainda se encontrava em choque, mas quem poderia culpa-la às vezes parecia que iria voltar a realidade, mas era apenas durante algum tempo, fragmentos do ocorrido eram relembrados por ela e ela voltava para sua bolha. Ninguém poderia culpa-la viver tudo que viveu e sair sem uma cicatriz emocional era praticamente impossível. Juntando todos os fatos aos pais desequilibrados que ela possuía piorava ainda mais seu estado. Uma beata que havia prometido a filha para ser freira e que havia depositado todas as chances de resgatar seu casamento já desgastado. E um ex-alcoolatra completamente frustrado que descontava suas frustrações na família. Depois que Ana Vitoria havia conseguindo sua liberdade e realizado seu sonho de cursar pedagogia o casamento dos seus pais ruiu e havia sido descobertas traições de ambos os lados.

E nesse exato momento ambos estavam vivendo sob o mesmo tempo que eu graças a um pedido de Ana Vitoria que eu não havia como negar, mas devo confessar que estavam extrapolando o limite da minha paciência.

Entrar em casa e ser recebida por uma discussão da qual você não faz ideia do motivo, mas os gritos são estarrecedores ao ponto do prédio todo ouvir, o momento da paciência ter esgotado era esse, aturei demais por Ana Vitoria, mas já estava mais do que na hora de colocar esses dois em seu devido lugar.

- CHEGA. – gritei os assustando, estavam tão absortos na discussão que nem haviam notado minha presença. – Primeiro: eu não quero saber quem começou ou por qual motivo absurdo estão discutido dessa vez, ou da anterior ou muito menos na próxima. Segundo: não quero mais chegar à minha casa e ouvir esse tipo de recepção, ou melhor, não quer ouvir gritos de nenhum dos dois em qualquer outro momento do dia que não sejam em seus sonhos onde estão livres para matar um ao outro com a minha permissão.

- Mas... - começou Felícia tentando se justificar, mas, foi rapidamente interrompida por mim.

- Eu não terminei e sinceramente Felícia e Rodrigo vocês já se olharam no espelho recentemente? Já viram a que ponto ridículo vocês chegaram? Sua filha esta passando por um trauma e a única coisa que fazer e ficar jogando um na cara do outros erros de um casamento fracassado de 20 anos atrás ao invés de dar o apoio que ela merece. – por um momento eu me vi como uma mãe tentando colocar ordem na bagunça dos filhos. – Vamos fazer o seguinte, já que não entendem por bem nem por mal, vamos ser práticos, o que vocês acham? Não importa quem eu sou, mas sim do que sou capaz e vocês já notaram que eu tenho muito poder e dinheiro ao meu favor, certo?

- Sim... - respondeu Rodrigo com um leve fiasco de voz.

- Era uma pergunta retórica, não há necessidade nenhuma de vocês responderem, apenas de entender. Pois bem, vamos voltar ao ponto principal da conversar. A partir de agora vão ser pessoas melhores por bem ou por mal, vão ser os pais daquela garota que esta no quarto chorando precisa, vão ser atenciosos, preocupados, gentis e amorosos e principalmente e mais importante vão conviver pacificamente como pessoas normais em harmonia, não a necessidade de retomarem um casamento de fachada, apenas de se tratar civilizadamente. Vocês entenderam? Caso isso não aconteça eu vou fazer questão de meter uma bala na cabeça de cada um de vocês e enterrar vocês dois juntos para que quando cheguem ao outro lado continuem juntos ate o fim.

- Você não teria coragem. – exclamou Rodrigo enquanto Felícia ainda parecia horrorizada.

- Você quer realmente descobrir se tenho ou não coragem? – questionei sacando minha arma da bolsa e a engatilhando. – Vai me custar um tapete novo e talvez algum vizinho ouça, mas sabe como é nunca liguei para bens materiais e os vizinhos ricos possuem muitos segredos para se preocupar com um tiro a toa. Ninguém vai sentir sua falta ou ligar para a policia. - avisei enquanto apontava a arma para ele.

-Para de ser um idiota Rodrigo. – resmungou Felícia.

- Acho que temos um trato, certo? – questionei me retirando na sala e caminhando em direção ao quarto onde Ana Vitoria estava hospedada, mas primeiro aproveitei o pânico que havia se instalado na sala e para minha diversão pessoal fiz questão de guardar minha arma na bolsa com movimentos lentos para aterrorizarem ainda mais.

SANTORINI - Ficar ou Fugir?Onde histórias criam vida. Descubra agora