Insalubres

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A morna luz do Sol adentrava por uma brecha entre as cortinas que tapavam a janela, acabando com a escuridão do recinto e com o sono do esqueleto que estava na cama.

Os raios solares batiam diretamente em seu rosto, a luz excessiva acabou por despertar Dust, que abriu os olhos lentamente enquanto soltava um muxoxo emburrado por ter sido acordado, ele puxou as cobertas por sobre a cabeça voltando para a escuridão, fechou suas órbitas com um bocejo, sentia-se muito cansado, como se não tivesse dormido a noite toda realmente, só mais alguns minutinhos não iriam fazer mal, certo?

Acabou por cochilar por mais uma meia hora até acordar com o rangido da porta de seu quarto sendo aberta, ele virou o rosto naquela direção para fitar o recém-chegado, mas não havia ninguém na soleira, Dust franziu o cenho confuso, lembrava muito bem de ter escutado o som dela se abrindo, não poderia ter sido um sonho.

Ele puxou as cobertas por sobre seu corpo, era impressão sua ou o quarto havia esfriado? Sua respiração começou a se condensar com o ar gélido, os cobertores não conseguiram mantê-lo aquecido, em questão de minutos seus ossos começaram a chacoalhar devido o frio, um barulho de água pingando veio de um canto do quarto, parecia que havia alguém ali escondido na bruma.

- Eu estou te vendo! Saia do meu quarto! – Mandou com a voz mais autoritária que conseguiu, um riso gélido veio da escuridão, a respiração do esqueleto se acelerou enquanto um arrepio gelado descia por sua espinha, a risada da figura parecia preencher o quarto todo, fazendo a cabeça de Dust doer, ela deu um passo cambaleante para frente.

Um esqueleto com os ossos quebrados e torcidos se arrastou lentamente, haviam várias algas, corais e outras coisas marinhas penduradas em seu corpo destruído, uma gosma negra esquisita pingava junto da água salgada que encharcava seus ossos sujando o chão, suas órbitas estavam vazias, seu braço se ergueu como se quisesse agarrar o menor na cama, que recuou assustado, Dust não sabia o que era mais assustador, a aparição ou o fato de saber que era...

- P-P-Papai? – Gaguejou. – Pai! Sou eu! Dust!

- Eu sei disso... – Sua voz congelou a alma do esqueleto menor, que ficou estático com as órbitas arregaladas de pavor. – Ele te quer... Ele te quer... Ele te quer... – Repetia sem parar enquanto se aproximava do filho.

- Q-Quem me quer? Pai! Quem me quer?! – Questionou, estava assustado de uma maneira que nunca pensara ser possível, a figura deu um passo então caiu no chão se desmanchando. – Pai? Pai?! Pai! – Ele engatinhou até a beirada da cama e espiou o carpete, nenhum sinal de seu pai ou das manchas deixadas por ele. – Isso foi... Um sonho? – Murmurou, então voltou a apoiar-se na cabeceira da cama. – Que sonho louco. – Riu nervoso. – Estou fican... AAAHH! – Berrou quando algo agarrou seu braço.

- ELE TE QUER! ELE TE QUER! ELE TE QUER! – Gritava alto enquanto seu aperto machucava o braço do filho, que berrava aterrorizado, a gosma escorreu e começou a se espalhar para o corpo de Dust através de seu braço, ela lhe apertava e sufocava como se tivesse vida própria.

- So... Socorro... Arght... Soc... S-Socorro! – Tentava gritar enquanto a gosma invadia sua boca, tinha um gosto horrível, seu corpo estava gelado e totalmente imobilizado, sua última visão antes da substância esquisita cobrir seus olhos foi a de seu pai rindo como louco e atrás de si havia uma outra figura, uma encapuzada que sorriu ao notar o olhar do menor.

- Ter-te-ei... Não duvides disto... – Disse com um sorriso cruel.

~X~

Dust sentou-se ofegante na cama segurando o pescoço, ainda sentia a frieza dura da gosma ao redor dele, tinha um gosto horrível em sua boca, levantou-se correndo, foi até o banheiro que tinha em seu quarto e vomitou na pia.

Ele engasgou, suas pernas tremiam tanto que caiu de joelhos no chão, apoiou sua testa na madeira do armário da pia enquanto tossia, havia levantado tão rápido que sua pressão caíra, fazendo com que tonteasse, talvez seu ferimento também estivesse contribuindo para sua indisposição, seu crânio latejava tamanha era sua dor, seus ossos estavam tão pesados, pareciam feitos de chumbo.

Ele acalmou sua respiração ofegante, nem percebera que estava respirando de maneira irregular, ficou mais alguns minutos no chão, não estava com nenhuma vontade de levantar ou de fazer qualquer coisa, só queria dormir.

Ele gelou ao escutar a porta do quarto se abrir, mas relaxou ao ouvir a voz de Lilian chamando pelo esqueleto, Dust nem fez menção de responder.

- Oh, Deuses! Dust! – Exclamou correndo e se prostrando ao lado dele. – Você está bem? Está sangrando!

"Sangrando?" Pensou atordoado, não sabia do que ela estava falando, só sabia que sua cabeça estava lhe matando.

- Está me ouvindo? – Ela questionou, uma exclamação de surpresa escapou de seus lábios quando Dust tombou em seu colo, instintivamente o abraçou para aparar sua queda. – Querido?

- Mãe... Não quero ir trabalhar hoje... – Choramingou com uma voz quase infantil, cerrou as órbitas pesadas soltando o ar, estava tão cansado.

- Você está queimando, meu querido! – Murmurou sentindo seus ossos febris sobre seu peito, recebeu um murmúrio como resposta. – Melhor ficar em casa hoje, aquela chuva acabou com você... – Dust assentiu lentamente. – Consegue ficar de pé?

Ela o ajudou a levantar e juntos cambalearam até a cama, Lilian ajeitou o esqueleto nas cobertas sujas de sangue com um semblante preocupado.

- Acho que vou chamar o doutor Gerson para dar uma olhada em você... – A coelha não recebeu nenhuma resposta, Dust havia desmaiado de exaustão, ela descansou a mão sobre as costas cobertas do filho adotivo, estava realmente muito preocupada, ele raramente ficava doente daquela maneira, algo lhe chamou a atenção no chão do quarto, a coelha se pôs de pé e foi investigar, eram manchas escuras, seu cenho foi franzido em estranhamento, mas logo sacudiu a cabeça e saiu do quarto no intuito de chamar o médico, deixando o esqueleto sozinho aparentemente, mas não realmente.

Amor Por PeixeOnde histórias criam vida. Descubra agora