No caminho pra escola

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Acordei no dia seguinte lembrando do dia anterior, ou melhor, a cada dia que se passava parecia que minha memória era encurtada, estava ficando difícil lembrar qualquer coisa, mas lembrava de antes de dormir que havia um gato preto lá fora que quase me matou de susto. As lembranças do tempo no manicômio ainda eram nítidas, talvez para me lembrar que não poderia enlouquecer novamente. Nada mais importava pra mim, poderia ficar lá até o fim da minha vida, mas não podia por causa do Toby, ele era a única coisa que me fazia se esforçar para continuar sã.

Minha tia Mikaella havia avisado sobre o dia de hoje. Hoje tudo voltaria ao normal, foi assim que ela disse "Você vai voltar pra escola e tudo ficará normal novamente". Essa era minha esperança, isso me manteria ocupada definitivamente. Mas não podia negar que estava sentindo algo dentro de mim, como se algo muito ruim fosse acontecer e hoje seria apenas o início do fim.

Finalmente terminei de me arrumar e desci pra ver minha família reunida, sempre que fazia aquilo tentar imaginar meus pais e meu irmão me esperando lá embaixo. Mas como sempre estavam minha tia Mika e minha adorável prima Rowena, Toby não estava lá o que me deixou curiosa.
— Onde está Toby? – perguntei antes de sentar a mesa.

— Ele não está se sentindo bem, ainda está dormindo. – Tia Mika falou com aquela voz bondosa de mãe.

— Então vou fazer companhia pra ele. – falei, queria mesmo não ter que ir pra escola, estava com medo, tudo iria mudar.

— Não querida, você precisa ir a escola. Já avisei no trabalho que vou faltar pra ficar cuidando dele. Você não precisa se preocupar.

Não questionei novamente, confiava bastante na minha tia, não confiava era na filha de porcelana dela. Rowena sempre parecia uma boneca de porcelana, toda perfeita e adorável, mas algo nela me soava falso e podre, ela poderia ser a boazinha o quanto quisesse, não gostava dela nem um pouco. Ela estava na mesa olhando o celular, não falou comigo e também não falei com ela. Não queria que ela se oferecesse pra me acompanhar até a escola, queria ir sozinha, mas tia Mika como sempre queria ser gentil de todas as formas.

— Querida, sua prima vai te acompanhar até a escola, pra você se adaptar novamente, imagino o quanto pode ser difícil depois de tudo que aconteceu... – eu e Rowena nos olhamos, ambas sabíamos que não queríamos a companhia uma da outra.

— É que eu vou de moto... – Rowena começou, mas falei logo antes que ela pudesse terminar.

— Eu quero ir sozinha. – falei olhando pra minha tia. – A senhora não precisa se preocupar. Quero caminhar um pouco. – levantei da mesa e peguei minha mochila. Ouvi alguém buzinando do lado de fora e Rowena saltou da cadeira toda sorridente e convencida.

— Meu amorzinho chegou. – ela falou e saiu, acompanhei pra sair também e vi ela subindo em uma moto preta. O garoto que estava pilotando estava de capacete, não podia ver o rosto dele, mas quando me encarou vi os incríveis olhos verdes brilhando. Ele então retirou o olhar rapidamente e saiu veloz com Rowena abraçada firmemente em sua cintura.

Comecei a caminhar e pensar naquele garoto. Era ele. Tinha certeza. Lembrei repentinamente do sonho estranho que havia tido e novamente ele estava lá, em todos os lugares. Rudy. Porquê era tão difícil pensar nele? Talvez porque éramos amigos e depois não mais? Quando fui internada deixamos de ser amigos? O que aconteceu entre nós dois? Ele havia me decepcionado. Conseguia sentir que era isso. De alguma forma ele tinha me magoado e agora parecia que não podíamos nem nos ver.

O céu estava bastante nublado e uma brisa fria passeava levemente, a rua estava deserta, mas não me sentia assustada, ali parecia ser o bairro mais seguro que existia. Mas de repente parecia que alguém estava me seguindo, passos leves atrás de mim, por um segundo fiquei assustada e me virei, mas nada estava na minha frente, então olhei pra baixo e o gatinho preto estava lá, parado lambendo a patinha como tranquilamente.
— Você tá me seguindo? – perguntei, ele então começou a se esfregar nas minhas pernas, fazendo carinho. — Se quiser pode me acompanhar.

Coral RosesOnde histórias criam vida. Descubra agora