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Parei a bicicleta na calçada, em frente de sua casa e me dei conta que passei o percurso todo pensando nesse trabalho. Droga.

Fiquei ali parado, esperando Haechan chegar. Acho que devo ter esperado uns cinco minutos, e por fim, encontrei-o ali na frente.

— Achei que você iria se atrasar — ele disse, rindo.

— Desta vez não.

— Já chamou Jeno?

Comecei a rir.

— Claro que você não chamou — ele disse enquanto tocava o interfone — Jeno, já estamos aqui.

🌿

Eu não sabia exatamente o que estava sentindo naquele momento. Era uma espécie de angústia, medo e algo que... eu não fazia a mínima ideia se já havia sentido antes.

Com essas mesmas sensações, tive um déjà vu. Como se já tivesse passado por aquilo, mas não me lembrava quando, nem onde, muito menos o porquê.

Sentia meu estômago revirar enquanto olhava para o chão, e percebi estar todo arrepiado. O que era aquilo?

Quando Jeno desceu as escadas, tentei desviar o olhar. Mas percebi que ele estava olhando diretamente para mim.

Meu coração. Ele é frágil, Jeno.

Engoli seco e ignorei meu pensamento repentino. Besteira. Coisa passageira de adolescente, todo mundo passava por confusões de sentimentos desta maneira. Quem sabe um dia eu consiga parar de falar com ele por completo, nem olhar na cara.

Mas eu sabia, que no fundo, não queria isso.

Jeno, por fim, desceu o último degrau e fechou o portão bem devagar, como se estivesse calmo. Se bem que, acho que eu era o único nervoso por ali.

Sorriu.

Sorri quando ele sorriu.

Cumprimentou Haechan, e veio na minha direção, andando com passos pesados. Não sei, mas a atmosfera do lugar estava estranha.

— Achei que você não viria — ele disse, para minha surpresa.

— Eu não deixaria, é um trabalho de escola.

Hyuk me olhou torto, como se desconfiasse de mim. Eu odeio quando as pessoas fazem isso comigo. Apesar de contar mentiras ás vezes, sou sincero na maioria delas. Poucos entendiam isso. Na verdade, só eu me entendia.

O engraçado é que uma das maiores mentiras é um sorriso. E ninguém desconfia dele.

Mentir para seu próprio bem é necessário.

🌿

Eu e Haec deixamos nossas bicicletas na garagem da casa de Jeno. É uma casa de dois andares, ele mora no segundo. Estávamos indo a pé, para o final do bairro. Porém o único quieto ali era eu.

— O Jaemin não é muito de falar — Hyuk me deu uma cotovelada como se tivesse esse direito.

— Sou introvertido — expliquei — é de minha natureza ser assim.

— Tudo bem. Eu percebo as coisas — Jeno respondeu.

— Por que pediu para nós trazermos comida?

Então não havia sido Donghyuk que havia pedido para ele. (Toda vez que, mentalmente, chamo ele de Donghyuk, sinto um tapa na minha cara. "Tudo, menos Donghyuk". Nos primeiros dias em que havia conhecido-o, ele teve a audácia de realmente me agredir, mesmo sem intimidade, simplesmente porque disse: "Donghyuk, pode me emprestar o apontador?")

É uma amizade confusa. Mas eu gosto dela. É verdadeira.

— Sei lá, eu também trouxe. Caso a gente tenha fome no meio do caminho...

— Vai demorar muito para subirmos o "morro" ? — perguntei

— Se o ritmo de vocês não for lento, creio que não.

Ótimo. Donghyuk (sinto um tapa na cara pelo pensamento inadequado) é a pessoa mais devagar que conheço. Terminaríamos o trabalho amanhã.

Enquanto caminhávamos, eu nem prestava atenção na conversa dos dois. Estavam falando sobre algo que eu não entendia, mas gostaria.

Olhava para Jeno, e não sabia se ele perceberia. Sentia o mesmo déjà vu de sentimentos, mas ignorava-o. Não era uma sensação ruim.

Estar com ele nunca foi algo ruim.

Acrofobia • Nomin Onde histórias criam vida. Descubra agora