Acrofobia • Nomin

06

— Vamos ter que subir por aqui — dizia Jeno — não se preocupem, não é muito alto.

Levantei um pouco meu pescoço. Droga.

Hyuk me olhou de lado.

— Eu... não acho que seja baixo — respondi com a voz falhando — eu... nós... precisamos subir tudo isso?

— Só parece ser muito porque estamos olhando de cima para baixo.

— Ok Haec, mas qual é a diferença? Não vai deixar de ser alto ou baixo de qualquer ângulo que eu esteja enxergando.

— Olha... é só um trabalho. Não vamos arriscar nossas vidas por isso. Vamos subir logo, ok? Preocupem-se em me ajudar a tirar boas fotografias, não com a altura.

A voz de Jeno me acalmava, mas meu coração continuava a bater rápido por conta de sua presença. Sentimentos confusos. Nem eu sabia o que estava acontecendo.

Olhei para ele e sorri. Foi quase involuntário, nem pensei antes de fazer isso. Acho que ele sabia que tenho acrofobia desde que me conheço por gente.

Ele retribuiu o sorriso, parecendo estar um pouco surpreso.

Woah, que sorriso.

E então, começamos a subir. Andando num lugar que era, de certa maneira, pouco inclinado.

— São quantas fotos?

— Acho que dez — respondi para Haechan enquanto Jeno olhava sua câmera, como se estivesse admirando-a.

🌿

— Mas você disse que não era alto, Jeno! — Hyuk disse, indignado.

— Eu disse que não era alto, mas também não disse que o percurso seria rápido se você andasse nesse ritmo.

Não aguentei. Dei uma gargalhada muito alta. Haec me deu uma cotovelada e Jeno começou a rir também.

Por alguns (ou vários) momentos, esquecemos de nossos problemas. Esquecemos inclusive do trabalho, porque estávamos realmente nos divertindo conversando enquanto subíamos o "morro que não era alto" (mas me dava muitos arrepios).

Falamos sobre tudo: escola, família, como Jeno é bom em matemática (e eu sou péssimo), viagens, jogos, o quanto o vizinho de Haechan irritava-o, música, livros empoeirados da biblioteca que me davam alergia, os bicicletários enferrujados da escola, qualquer coisa.

Mas eu senti falta de um assunto. Um assunto que eu nunca conversei com ninguém. Uma coisa que guardava dentro de mim. Se tudo desse certo, conseguiria manter aquilo
em segredo pelo menos até... quando passar.

Talvez estaria sempre ali.

Nós que o ignoramos. Eu que ignorei.

Mas aquilo, o que era?

Se não sabia nem o que estava sentindo, como poderia me expressar? Restava-me a opção de ficar calado e continuar andando, prestando atenção no olhar e no sorriso de Jeno.

Ás vezes me perdia na conversa por causa disso, nem entendia o que eles estavam falando. Conseguia pensar só em uma coisa enquanto olhava para os dois, e mantive-me quieto.

As pessoas perdem assunto, não sabem o que dizer, estão distraídas ou não querem conversar?

É, eu estava só distraído.

🌿

Chegando em determinado ponto do percurso, paramos para descansar um pouco.

— Eu não aguento mais! — reclamava Haechan — eu odeio atividades físicas.

— Se quiser parar por aqui, tudo bem. Sua parte do trabalho não precisa que você venha junto conosco. Não vamos demorar muito.

Jeno é gentil.

Vi os olhos de Haec brilharem e senti meu coração quase saindo pela boca.

— Sério? Quanto tempo vocês vão demorar?

— Bem, contando com o tempo de chegarmos ao topo, uns trinta minutos.

— Obrigado Jeno! — ele disse sorrindo — espero vocês dois voltarem aqui — ele disse sentando no chão e tirando seu telefone da bolsa.

Engoli seco.

Alguma hora o destino me forçaria a isso.