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Na saída da escola, como de costume, fui para casa de bicicleta sozinho, ouvindo música, com medo de ser atropelado, bater em alguma coisa ou em alguém. Normal.

Mas só conseguia pensar naquele trabalho, e não era por valer 40% da nota.

Eu percebi hoje. O Jeno. Aquela maneira como ele me olhava. Eu notei que ele queria conversar comigo, voltar a ser meu amigo como antes. Parecia que me questionava porque havia me afastado dele, se éramos tão íntimos.

Haechan também torcia para que eu voltasse a conversar com ele frequentemente. Forçava a barra, fazia planinhos. Ele é muito infantil ás vezes (ou, na maioria delas).

Vejo os dois conversando bastante, e não consigo me sentir confortável com isso. Eles parecem felizes sendo amigos, apenas colegas ou qualquer coisa. (Já que, não é conveniente ver meu melhor amigo conversando com o cara que eu me afastei de propósito por motivos que só eu fui capaz de compreender na época).

Parei a bicicleta no meio do percurso, na calçada, e aproveitei para olhar as pessoas ao redor. Algumas iam para o horário de almoço, uns voltavam da escola, sempre em grupo. Sozinhos apenas aqueles que iam para um lugar que quase ninguém frequentava, o que era o meu caso.

No meu prédio ainda não moravam muitas famílias, acho que, apenas umas quatro, contando com a minha. E, a maioria tinha, no máximo, três ou quatro pessoas.

Voltei a pedalar, desta vez mais rápido. Estava com fome, não devia ter parado. Fiquei pensando a mesma coisa ali, encostado num muro, por uns dez minutos. Costumo fazer isso.

🌿

Quando cheguei, passei pela portaria e deixei minha bicicleta na garagem. Subi as escadas, bati na porta de casa, e lá estava minha mãe.

— Por que se atrasou desta vez?

— Foram dez minutos, mãe.

Ela apenas me ignorou e voltou a olhar o catálogo que estava em suas mãos.

Deixei minha mochila no quarto, mudei a roupa, comi e mais tarde voltei ao meu quarto. Fiz o que sempre faço. Fico no celular, estudo, ouço músicas, paro para ir na cozinha comer novamente, coisas assim.

Mais a tarde, estava na sala, assistindo qualquer coisa na televisão (o que era uma programação bem ruim, por acaso) E senti meu telefone, que estava no meu bolso, vibrar.

iMessage:
Haec| Eu e Jeno combinamos que vamos usar a câmera dele para fazermos as fotos.

Tudo bem, eu não tinha câmera mesmo. Só um telefone velho com memória cheia, por conta dos álbuns que vivo salvando para ouvir no percurso de ida e volta para casa.

Já se passavam das dez horas da noite, e de manhã cedo eu teria aula. Nem havia tomado banho ainda.

Peguei a toalha, entrei no banheiro e tranquei a porta. Desta vez colocaria a água quente, eu merecia um descanso, nem que fosse ficar ali debaixo do chuveiro olhando para a parede com azulejos azuis e pensando em qualquer coisa.

Durante o banho, não conseguia parar de pensar sobre aquele trabalho. Maldito trabalho. Eu não queria conversar com Jeno novamente. Não aquele tipo de conversa corriqueira que temos nos treinos de basquete, mas uma conversa de verdade. Eu não queria, de maneira alguma.

Nem sempre temos o que queremos.

Quando me dei conta, minha mãe já estava batendo na porta. Quanto tempo demorei ali?

Penso demais nas coisas. Sinto que não deveria.

Acrofobia • Nomin Onde histórias criam vida. Descubra agora