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Ensaio dois.

— Se quiser mesmo que eu faça isso, vai precisar mudar esse roteiro. — Taylor cruzou os braços, logo depois apontando para a roupa. — E esse figurino tosco também.

Ele estava cômico naquela fantasia de soldado. Confesso que ele não precisava vesti-la, mas eu fiz questão só pra caçoar um pouco da sua cara.

— Você mal chegou na peça e já quer mudar tudo? — Segurei a risada. Ele arqueou as sobrancelhas e pôs as mãos na cintura, deixando sua imagem mais engraçada ainda. Desabei em risadas.

— "Mika.. você vai embora e vai me deixar só. Eu também preciso de você.. não sei o que vou fazer. A guerra se espalha cada vez mais e você é minha única razão para continuar"?? — Taylor leu. — Que puta texto de corno! Isso é deprimente. Não vou falar isso nem fodendo.

Suspirei, mudar uma só fala não faria tanta diferença, certo?

— E o que você propõe? — Perguntei. Ele pareceu surpreso por eu ter ouvido-o.

— Bom.. Mika, nós podemos foder a noite toda. Nós podemos fazer um sexo selvagem e..

— Sem chance. — Conclui. — Sabe, por um segundo eu achei que você falaria alguma coisa que preste.

— E qual o problema? Como de pessoas do século passado não fizessem sexo. — Ele comentou, dando de ombros.

— É sério, você precisa parar com isso. Não é saudável falar de sexo 99% das horas. Você é ninfomaníaco.

— Isso é falta de sexo. — Ele apontou pra mim. — Qual é, Vegas, eu tenho certeza que você é mais que uma menina chata que gosta de história.

— E eu sou. Mas não faço questão de ser mais que isso pra você. — Falei. Taylor engoliu em seco.

Hayes deu um sinal para começarmos, Caniff largou o telefone que ele tanto segurava e eu fiz uma pose dramática.

— Roman, a vida na guerra vem se tornando cada vez mais difícil. Esse é um amor proibido. Como vamos prosseguir? — Comecei.

— Mika.. nós podemos foder à noite toda. Nós podemos aproveitar a nossa última noite. Sabe, Mika, a vida é mais que a guerra. A vida é linda. E eu posso mostra-lá a você. — Taylor disse, olhando nos meus olhos. Seu olhar me passava tanta certeza como de ele estivesse falando aquilo pra mim.

Taylor podía ser um lixo desqualificado, mas ele fazia as coisas direito quando queria.

Tentei lembrar essa fala, falhando — ele havia a criado. Fiquei sem resposta, não esperava que Taylor fosse tão bom com palavras.

— Taylor.. — Balbuciei. Ele sorriu de canto, satisfeito com o efeito que ele tinha causado em mim. — Sabe todas as vezes que eu disse que deu cérebro é do tamanho de uma ervilha? Então, eu continuo achando isso, mas agora acho que é do tamanho de uma maçã.

Taylor me encarou, frustado. Era obvio que ele esperava que eu fosse elogia-lo. Mas eu não pegaria tão leve assim.

Ele continuou em silêncio, como se estivesse ofendido. Percebi o tamanho de minhas palavras, e logo então me senti culpada.

— Olha, não foi isso que eu.. — Tentei me explicar.

— As pessoas não são o que parecem, Vegas. Você acha que eu tenho um cérebro do tamanho de uma ervilha, mas você não me conhece. — Suas palavras exibiam odio.

— Me perdoa, eu..

— Não tem eu. Me deixa em paz, Vegas.

Taylor pegou sua mochila, saindo do palco. Se isso tivesse acontecido a alguns minutos atrás, eu provavelmente gritaria pra ele voltar. Mas eu estava tão envergonhada que não consegui fazer nada.

E Taylor foi a primeira pessoa que me deixou envergonhada.

THEATER ➶ t. caniffOnde histórias criam vida. Descubra agora