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No dia seguinte eu gostaria de ter ido a pracinha para ver se a moça bonita estaria lá, mas fiquei em casa cuidando de minha mãe.

Meu pai me falou que teria uma viagem a trabalho e falou pra mim tomar de conta de tudo enquanto ele estava fora, o que não tinha muito sentido por eu ter só oito anos na época, acho que no fundo meus pais não entendiam que tinham uma criança em casa.

Quando ele me falou dessa viagem, talvez por eu ser muito novo não tinha estranhado o fato de haver uma viagem logo após os recentes acontecimentos, pra mim era só uma viagem a trabalho, depois de um tempo achei que foi só uma desculpa para se afastar de minha mãe pelas brigas e pela agressão, mas eu descobri que o real motivo daquela "viagem a trabalho" era pra encontrar sua amante, que é minha madrasta hoje em dia.

Á noite, faltando pouco para as 19h, minha mãe me viu encarando o movimento no final da rua pela janela.

Eu estava pensando nela, pensando se ela estaria lá.

- Quer ir brincar, filho? Ainda é cedo. A missa das 19h deve estar para começar, deve ter um grande movimento na pracinha, deve estar cheia de crianças brincando. Tome. Compre uma pipoca e se divirta.

Disse a última parte tirando um real do bolso de sua saia e me dando.

Me animei vendo que ela estava bem e fui correndo para pracinha.

Cheguei lá e assim como minha mãe havia dito, estava uma agitação só, cheia de pessoas e crianças correndo de um lado pro outro.

O sino tocou indicando que missa estava prestes a começar fazendo a maior parte das pessoas que estavam na pracinha entrarem deixando o lugar quase vazio, dando a visão ampla de quem ainda estava ali.

O pipoqueiro, as moças dos pratinhos típicos, que haviam acabado de começar a montar sua barraquinha, um mendigo que sempre estava por ali rondando a praça, e algumas senhoras de cabelos brancos que conversavam animadamente, elas provavelmente estavam ali desde o fim da última missa e também alguns adolescentes que haviam acabado de chegar.

Os adolescentes estavam com algumas caixas e banquinhos, um deles estava com um violão e usavam roupas esquisitas que se assemelhavam a roupas de ciganos. Entre eles havia um garoto que eu reconheci como o garoto loiro que defendeu a garota bonita de cabelos róseos.

Fiz menção em ir até lá, mas um garoto com quem eu sempre brincava me chamou para ir jogar bola num campinho improvisado que havíamos feito atrás da igreja.

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A missa havia acabado e jogo estava empatado, mas ninguém parecia mais querer brincar.

Estávamos sentados observando a lua e jogando conversa fora quando ouvimos alguns gritos e uma música vindo da frente da igreja. Curiosos fomos ver o que estava havendo.

Os jovens que eu falei antes estavam dançando e batendo palmas pela praça, dando um movimento legal aquelas roupas largas e estranhas.

Estava tudo uma bagunça e meus amigos já haviam se perdido no meio da multidão, já que a praça estava novamente cheia de pessoas, essas que cantavam e dançavam junto com os adolescentes.

Lá no meio daquelas pessoas pude ver um cabeleira rosa que na hora eu reconheci.

Ela dançava e rodava sua saia cor de ouro, encantado com a cena da bela moça dançando.

Naquele momento me deliguei de tudo e só fiquei lá, parado, só a observando.

- Ela é linda, não é?

Uma voz grossa vida de trás me assustou, ao virar vi o garoto loiro que havia reconhecido mais cedo.

- Pena que tem uma vida tão sofrida.

Deu dois tapinhas leves em minha cabeça e foi embora.

Ao voltar minha atenção para as pessoas dançando notei que havia a perdido de vista. Então tomei rumo até o pipoqueiro, comprei o que queria e voltei pra casa, pois já estava ficando tarde.

Mas mesmo voltando pra casa e deitando na cama pouco antes da minha hora de dormir, durante a noite não consegui pregar os olhos.

Não consegui, pois, um pensamento me corroía.

"O que ele quis dizer com vida sofrida?"

Eu só não esperava que a resposta estivesse tão próxima de vim. 

Pink HairOnde histórias criam vida. Descubra agora