- Como assim?
Perguntei confuso. Que era aquela mulher?
- Garoto, você quer saber o que faz minha sobrinha sofrer?
- Sobrinha? Sofrer? O que? Você tá falando da garota de cabelo rosa?
Tudo estava ainda mais confuso.
- Sim menino, ela é minha sobrinha e eu só quero o bem dela, por isso decidi contar isso a alguém próximo.
Ela explicou.
- Mas não somos pró...
Ela me interrompeu.
- Eu sei que depois do que eu fale agora eu você pode me achar uma tia terrível e...talvez eu seja.
Ela chorava copiosamente.
- Eu abandonei minha própria sobrinha com aquele homem. Talvez eu seja um monstro como ele.
Ela se jogou nos braços do mendigo, chorando, e ele a abraçou de lado.
- Desculpe moça, mas eu não entendo. O que está havendo?
- Oh meu amor, desculpe-me.
Ela limpou as lagrimas e se na minha frente ficando mais ou menos do meu tamanho.
- Eu disse que ia lhe explicar e vou.
O que aquela mulher me disse aquele dia eu nunca esqueci. Acho que aquela foi a coisa mais dolorosa que já ouvi. Saber que alguém passava por aquilo me doeu tanto.
- Minha sobrinha é filha única, minha irmã engravidou jovem demais e ao descobri isso o babaca irresponsável do namorado dela fugiu e a deixou sozinha com aquela criança na barriga.
Mais que idiota.
- Meus pais não aceitaram muito bem o fato de minha irmã ter engravidado antes mesmo de terminar a escola, na verdade eles não aceitaram e expulsaram-na de casa e eu era só uma adolescente na época, não fui capaz de impedir.
Que espécie de pais são esses. Fiz uma expressão de choque.
- No final minha irmã conseguiu se virar, mas era tão perceptível o sofrimento dela, cuidar de uma criança, estudar e trabalhar para se sustentar não era fácil. Ela estava morrendo aos poucos, até que ele apareceu.
Ele?
- O cara era um baita de um filha da put*, mas foi o melhor pra ela naquela época. Ele deu casa, comida e abrigo pra ela e minha sobrinha.
Ela soltou um suspiro sôfrego.
- Ele era um desgraçado sempre foi tão possessivo e agressivo, mas ela amava ele, não via a sua verdadeira face que estava escondida até que ela...ela...
As lagrimas se formaram novamente em seus olhos.
- Até que minha irmã morreu.
- Depois que minha irmã se foi por culpa de uma doença em estágio terminal foram até mim e meus pais por causa da minha menina. Meus pais se recusaram a cuidar da criança e como não sabiam o paradeiro do pai desnaturado a guarda ficou em minha posse e com o padrasto dela.
Ela olhava para o céu parecendo recordar-se dos acontecimentos.
- Nos primeiros meses deu tudo certo, eu cuidava dela com ajuda de umas amigas com quem eu dividia o apartamento e ele me ajudava a sustenta-la, sem se meter na criação dela.
Ela deu uma pausa na história, deu um suspiro e olhou para o chão.
- Na época eu tinha o sonho de ser modelo, todos diziam que eu tinha perfil e eu resolvi tentar. Ia em algumas agências e fazia seções de fotos, geralmente fazia tudo enquanto ela estava na escola, ou achava alguém pra ficar de babá. Mas teve um dia que uma agência muito famosa e renomada me contatou. Eu fiquei muito feliz, um contrato com uma empresa grande logo de cara era uma dadiva dos céus, mas o contrato era internacional e apesar de a empresa bancar quase tudo eu teria que me manter lá e levar uma criança comigo estava fora de cogitação.
Mesmo com o rosto baixo, pude notar as lagrimas grossas escorrendo por suas bochechas.
- Eu não tinha muito tempo pra pensar então só fiz, arrumei as coisas da minha pequena e a levei até a antiga casa de minha irmã, expliquei a situação por cima e uma semana depois eu sumi da vida dela sem olhar pra trás. E esse foi meu pior erro.
Levantou o rosto e olhou em meus olhos.
- Alguns meses depois eu recebi um link por e-mail de uma reportagem. "Homem drogado joga enteada no rio" era o título da notícia.
Eu já imaginava o resto da história, aquilo estava tão errado.
- Eu tentei imaginar um milhão de motivos para aquela reportagem estar ali, dedicada ao meu e-mail, mas era tão óbvio e tudo ficou ainda mais claro quando eu vi a foto da minha menininha. Ela estava pálida, muito mais pálida do que o normal, com os lábios roxos e vários machucados pelo rosto e pelo corpo, sentada em uma ambulância. Na reportagem dizia que ele fez aquilo porque aquela garota havia matado a mulher que ele amava.
- O que?
Exclamei surpreso.
- Naquela semana os médicos haviam descoberto e anunciado algo que minha irmã tentou esconder todo aquele tempo, a causa da sua morte. Minha irmã contraiu uma doença na gravidez que levaria ao seu fim, mas não contou pra ninguém.
- Eu só queria voltar e estourar os miolos daquele infeliz, mas eu tinha um desfile aquela tarde. E hoje eu queria voltar no tempo e me atirar na frente de um trem por achar que um desfile era mais importante.
Ela ditou de olhos fechados, puxando o próprio cabelo.
- Aquele perturbado foi preso, mas logo foi solto e recebeu a guarda dela de volta por falta de opção.
Dessa vez quem falou foi o mendigo que se colocou ao lado da mulher.
- Depois tudo só ficou pior. Todos da vizinhança sabiam do padrasto que torturava a própria enteada no sótão da casa abandonada no final da avenida principal.
- Ele a culpava pela morte de minha irmã. Eu deixei de receber notícias sobre esse assunto e aos poucos as pessoas pararam de comentar, mas todos sabiam.
- Todos sabem.
Eu fiquei sem reação.
Aquela era uma baita história de filme, mas era real e acontecia bem ali, na minha vizinhança, apenas a algumas quadras da minha casa.
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N/A: Gente eu sei que o capítulo tá longo, mas isso era o mínimo que eu tinha que enfiar nesse cap pra história não se estender muito.
A ideia inicial era que Pink Hair tivesse apenas 5 capítulos, mas eu acabei me empolgando.
Talvez o próximo cap demore a sair. Eu tô com um bloqueio monstro com essa história e também em semana de prova, então me desculpem.
PS: Mídia pela minha frôzinha Mistic_web
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Pink Hair
Teen Fiction[•ficção•short hitory•drama•] Onde Will pensa todos os dias na bela moça de cabelos cor de rosa, a qual ele nunca soube o nome.