Ainda estou aqui

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A sensação que agora ele sentia já não era de desespero como ontem, na verdade Edward acordou daquela loucura que ele fez. Podia estar com muita dor em seus ouvidos, com um pouco de tontura, mas no fundo ele sentia que sua tentativa de suicídio falha tinha sido algo bom. A vida é o bem mais precioso que alguém tem, e só os tolos entregam ela pela honra.

Ele levanta do chão, se apoiando na mesa central de sua sala. Olha pro carpete de sua casa, esta pior do que quando ele só bebia. Edward tenta imaginar uma desculpa para a Megan poder lavar aqueles panos de novo. 

Falando nisso, ele deveria se desculpar à ela, depois da gritaria. Edward pega algumas roupas que ele empurrou ontem, elas estavam limpas apesar de tudo. Ele passa por trás do sofá e vai até o banheiro tomar um banho e tirar o fedo que ele estava. Toda vez depois de uma briga com Megan ele faz a mesma coisa, se veste e vai até o apartamento dela pedir desculpas, e ela sempre aceita. Mas desta vez teria sido diferente se ele não tivesse tentado suicídio. Esse fator pesou na alma dele, ele estaria começando a se arrepender das coisas que fez à ela.

Saindo no corredor, ele olha ao redor e vê que algumas portas dos apartamentos estavam abertos, mas isso não lhe chama a atenção. Nesse horário Megan já estava arrumando as roupas para levar na lavanderia. Ele bate no batente da porta de madeira:

-Megan está aí?  - Esperando que haja uma resposta, mas nada - Megan eu fui um babaca de novo, me desculpa - Não houve resposta.

Ele encosta na porta e ela se abre um pouco. A porta estava aberta antes dele chegar, como se Megan nem tivesse trancado ela: 

-Megan cade você? Sua porta está aberta.. - Ele entra, hesitando um pouco, mas procura em cada canto do apartamento dela - Megan, cade você? - Edward fala baixo.

Percebendo que algo estava errado, as coisas estavam caídas no chão e a cortina da janela da sala estava aberta, e a janela quebrada. A casa de Megan mais parecia a casa de Edward, e não como ele costumava imaginar, um lugar claro e arrumado. Edward corre até a janela e olha para a rua, não havia ninguém, dois carros estavam batidos, um de frente ao outro, os estabelecimentos estavam abertos. A livraria do outro lado da rua estava com a porta automática quebrada, os vidros espalhados no chão. De longe ele ouvia o barulho de carros de polícia, foi quando ele percebeu que algo sério havia ocorrido.

Ele desceu as escadas de madeira, e a grande porta de aço estava aberta, Edward passou por ela e virou para olhar dentro do bar. A visão era de arrepiar, havia algumas pessoas caídas e as mesas viradas, o cheiro que pairava no ar era de muita bebida e vômito. Em sua mente ele já imaginava Megan morta, mas algo estava errado ainda, se havia tantas pessoas mortas e o sangue já estava secando, por que não havia polícias, ou até mesmo repórteres e perícia no local? 

Ele sai pela porta e olha para os lados na rua, vira e observa o apartamento, que ficava em uma esquina, pintado e azul, mas agora ele estava com algumas janelas quebradas e outras cortinas para fora no segundo andar. Ele vai até os carros batidos haviam outras pessoas mortas. Edward não sabe o que fazer, simplesmente parecia  ter ocorrido uma guerra ali enquanto ele estava inconsciente. Atravessando a rua, a livraria que sempre tinha clientes estava vazia, ele passa ela porta quebrada e olha para o balcão quebrado e o computador caído. As prateleiras estavam tombadas. Ele passa por cima de alguns livros que estavam espalhados pelo corredor do canto. Megan gostava muito de ler,  ele havia ido lá com a esperança de talvez achar ela. Mas a mesa que ela costumava ficar para ler não havia  ninguém, muitos livros sobre física e planetas estavam  cima da mesa na verdade. 

Voltando para a rua, sua percepção não estava muito boa devido a tanta droga que ele tomou ontem, mas ainda conseguia ouvir os sons de sirenes. Esperando encontrar alguém, caminha em direção ao som, passando por um mini mercado que estava todo bagunçado, algumas casas com os portões automáticos abertos, e dobrando a esquina, ele encontra os carros de polícia. Estavam perto da pequena igreja, as sirenes continuavam a tocar, e Edward caminha em direção àquele barulho infernal. As grandes portas de madeira da igreja estavam abertas, e alguns dos vasos de plantas que ficavam na porta tinham sido tombados. Olhando para dentro da igreja, um calafrio lhe vêm a espinha, várias pessoas estavam ajoelhadas, todas mortas, em frente aos bancos, o altar onde o padre e os bispos ofereciam suas bênçãos estava todo quebrado, e não havia ninguém lá em cima. Agoniado com a cena Edward grita, como se tivesse sofrido um golpe. Ele agacha ao lado da porta da igreja, em sua mente começam a passar vários pensamentos. "Será que algum grupo extremista passou por aqui? Ou talvez teria sido um ataque militar? Evacuaram a cidade e pensaram que eu estava morto?".

Sem uma resposta concreta, Edward corre de volta ao seu apartamento, e liga a televisão. Mas não há sinal, esta tudo preto, nenhum canal esta passando programações. Talvez a cidade tenha mesmo sido evacuada, era algo maior que ele pensou. Ainda não se sentindo muito bem, ele senta no sofá, e começa a pensar em alguma solução para sair daquela situação. "Provavelmente na saída da cidade deve ter alguma barreira, ou talvez ainda tenha policiais ou militares pela cidade".

Seus sentidos não haviam melhorado muito, mas ele sabia que poderia pegar um carro e dirigir até encontrar alguém. Megan tinha um, mas como nos apartamentos não tinha uma garagem, ela o guardava em um grande galpão vazio duas ruas após a igreja, o dono alugava pra ela claro. O cara era um fissurado em armas de caça e tinha uma coleção no galpão.

Pegando as chaves no apartamento de Megan, Edward volta até a igreja, não consegue olhar por muito tempo para aquela cena macabra que estava. Passando pelas ruas, mais casas com os portões abertos, carros parados no meio da rua, e ninguém estava la, apenas Edward.

 Parecia que todos os portões estavam abertos, como se todas pessoas quisessem sair de sua casa o mais rápido possível, talvez tenha tido algum tipo de aviso antes do acontecimento que levou àquela cena.  

Chegando no galpão, que ironicamente parecia o único lugar intacto, ele tenta abrir o portão azul de metal, mas ele realmente esta pesado. Edward não tinha forças para empurrar o portão, mas aos poucos ele conseguia. Ele já via o carro cinza de Megan, um modelo mini van que cabia mais gente que Megan pudesse levar. O galpão era realmente grande, as luzes estavam acesas e eram bem claras, iluminando todo o galpão. O carro de Megan estava perto da entrada, e mais ao fundo a grande coleção de armas do dono. Tinham alguns modelos de submetralhadoras na direita e umas armas diferentes que Edward não sabia distinguir na esquerda, e no meio algumas pistolas. Entre toda essa organização armada, tinha algumas mesas com escopetas e balas de amostras, mas um pouco mais pra frente tinha uma espingarda polida com algumas duzias de caixas com balas. 

Ele abre o carro e da a partida, passa pelo portão, mas pensa antes de sair. Algo lhe dizia para pegar uma das dezenas armas do dono do galpão, Edward devolveria depois. Desce do carro e volta ao galpão, realmente era um grande armazém de armas. Ele pega a espingarda e três caixas de balas. Ele volta para o carro e começa a ir embora. Enquanto dirigia pelas ruas, as cenas se repetiam, carros parados que ele tinha que desviar, alguns batidos, as casas estavam abertas e os estabelecimentos quebrados, as vezes ele via alguém morto na rua. O carro estava com o tanque cheio, graças aos pensamentos sempre otimistas de Megan, ela nunca deixava o carro com algum problema ou sem combustível, mas claro que ela levava isso para toda sua vida.

Edward chega em um posto perto da rodovia que leva para fora da cidade, os carros estavam parados fazendo fila, mas não havia nenhuma alma. A loja do posto, como todos os outros lugares, quebrada. Ele passa por la e avista a rodovia, que mais parecia uma cena tirada de algum filme apocalíptico, vários carros parados, impedindo a passagem, nesse momento Edward agradecia por morar em uma cidade pequena e que nem todos conseguiram chegar na rodovia, que apesar de ter muitos carros parados e batidos, ele conseguia manobrar o carro entre eles e lentamente se dirigia a saída da cidade.

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