Estratégias Arriscadas

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Emillia e Jasiel, o velho casal que ajudou Edward, agora estavam brigando entre eles. Pareciam desesperados, e Edward não entendia muito bem o que eles estavam falando, pois falavam espanhol, e em meio de tantas gritarias e palavras rápidas, os senhores olhavam para Edward um pouco assustados.

Após escaparem dos drones, e subirem vários andares de escadas, eles chegaram em um grande corredor com algumas portas, a senhora ajudou Edward a subir as escadas, ele sentia muita dor por conta do ferimento e estava sangrando bastante. Eles abriram uma porta de madeira rústica envernizada, e foram entrando na sala que se apareceu, um sofá vermelho a direita encostado em uma parede fina, e o chão todo coberto com um carpete cinza, oposto ao sofá uma enorma televisão, realmente enorme. Edward passou pela porta e sentia o cheiro de tavernas antigas, o lugar realmente foi feito para ser rústico, a direita tinha um pequeno corredor e uma cozinha no final, mas Edward não pode ver muito pois a senhora estava quase o arrastando e colocando ele no sofá, enquanto brigava com o senhor e fazia curativos nos ferimentos de Edward. O primeiro ferimento não estava tão forte, era uma queimadura de leve, mas o segundo era grande e fundo, e Edward estava parando se sangrar devido ao ferimento ser uma queimadura, mas ainda assim ardia e doía como ele nunca imaginou que sofreria.

Jasiel parou de falar, parecia que tinha perdido a discussão, ele então deu as costas para Emillia e Edward e caminhou até a porta e ficou olhando por um momento. Emillia olhava para ele com um tom de sucesso, se virou para Edward e falou:

-Você fala português certo? - Emillia falava português quase que perfeito, ela tinha um sotaque forte mas Edward entendia ela - Não se preocupe com Jasiel, ele vai ficar bem.

-Você sabe o que aconteceu? Onde foram todos? Cade as pessoas? - Edward falou com um tom eufórico e tenso.

-Calma amigo - Emillia fala colocando a mão sobre o ombro de Edward,  então olha para Jasiel e fala - Até o momento, nós não sabemos muita coisa também - ela abaixa a cabeça.

-São os malditos militares russos - Jasiel começa a falar, seu sotaque também é marcante - Malditos sejam! - e então soca o batente da porta.

-Jasiel, não sabemos o que está acontecendo, pare de tirar conclusões precipitadas! - Emillia retruca como se fosse mãe do senhor - Edward, vamos te contar tudo o que sabemos, mas antes você precisa se acalmar.

Edward tinha perdido bastante sangue por causa de ter corrido com um ferimento aberto. Jasiel carregou as malas e bolsas de Edward até aquele local que estavam agora, e todos no recinto estavam mais calmos após Edward tomar alguns remédios que Emillia lhe havia dado:

-Para que são? - Edward falou após tomar os remédios.

-Infeções - Emillia calmamente falou - Edward, o que vamos te contar agora pode ser estranho, mas você tem que acreditar em nós - Jasiel se virou.

-Edward - Jasiel pronunciou com um tom que quase fez Edward chorar de medo - nós somos as únicas pessoas vivas na Terra que podemos ter notícias atualmente.

- Si.. sim, eu acho que ja percebi isso - Edward responde um pouco cabisbaixo - Mas como tudo isso aconteceu?

- Eu e Jasiel estavamos de viagem a Bogotá, queríamos conhecer um pouco da cultura latino americana, quando aqueles aviões, grandes e cinzas, parados no ar, começaram a aparecer.

- Aviões? O ... o que você quer dizer? - Edward olha confuso para Emillia e Jasiel, que lentamente se sentavam no chão perto da grande televisão, apesar de falarem bem português, eles tinham um sotaque muito forte.

- Esses aviões apareceram por todos países, por todo canto da Terra. Os exércitos se mobilizaram e faziam reconhecimento, mas nenhuma nação se manifestou sobre a origem daquilo - Jasiel percebeu que estava difícil para Edward entender e então começou a falar mais devagar e gesticular mais - Foi quando uma dessas naves apareceu aqui em Bogotá. Após dois dias de grande movimentação do exército, algo aconteceu com a Internet e com as comunicações de fio, televisões pararam de funcionar nos canais, e só os rádios funcionavam.

- E o exército começou a atacar a nave com mísseis, dava para ver eles explodirem na superfície daquele avião, mas nada acontecia com eles. Então algumas pessoas começaram a agir de maneira estranha.

- O que elas faziam? - Edward se arruma no sofá, como se ouvisse uma história fantástica sobre um ataque extraterrestre.

- Caminhavam até de baixo do avião, ficavam em baixo daquela nave. Foram inúmeras pessoas que se juntaram em baixo daquilo. Talvez todas as pessoas da cidade foram até lá, as mães e bebês, crianças, homens e mulheres, todos foram até la, a multidão chegava a ficar espremida. Eu e Emillia viemos para o quarto, ajoelhamos e rezamos, ficamos sem sair daqui aquele dia todo, e então quando acordarmos, não havia mais ninguém, e a nave havia sumido.

- Foi a coisa mais assustadora da minha vida. - Emillia complementa apertando a mão de Jasiel.

- Você esta dizendo, que toda a humanidade foi abduzida por extraterrestres?

- Nós não sabemos... - Emillia e Jasiel falam quase que juntos

- Tem algo de errado. Como ocorreu tudo isso, e eu ainda estava inteiro no meu quarto quando acordei? E os drones?

- Eles apareceram no dia seguinte que as pessoas sumiram - Jasiel fala.

- E a energia?  Por quanto tempo durou?

- Após as pessoas sofrerem esse controle mental, bem, sem manutenção nas redes, foi uma semana, certo Jasiel?

- Sim, foram oito dias com energia. Mas e você? O que você fez esse tempo todo?

Edward tinha esclarecido muitas coisas, ele ainda estava engolindo tudo, mas algo não batia na história. Na noite que Edward tentou suicídio, ele não lembrava de ter grandes naves, muito menos uma grande comoção de pessoas nas ruas, e no dia seguinte, o mundo ja estava vazio. Isso significa que algo aconteceu com Edward durante esse tempo, da tentativa de suicídio até a abdução das pessoas.

Após explicar tudo o que tem feito para o casal, eles se espantam:

- Você então tem um carro na entrada da cidade, e um drone na sua mochila igual os que tentaram te matar? - Jasiel fala com um pouco de dúvida

- Sim, e as coordenadas estão apontando para uma usina hidrelétrica, acho que la provavelmente deve haver alguma resistência, ou pessoas que não sofreram com o controle mental, eu originalmente estava indo pra lá antes de entrar em Bogotá.

- Mas algo ainda me intriga - Emillia interrompe a conversa entre Jasiel e Edward - E está rádio? Você não trouxe o rádio contigo por quê?

- O rádio não funcionava com pilhas, era uma espécie de Home Theather, apenas tomadas.

- Que pena... - Emillia volta a falar.

- Nós podemos encurtar o caminho, Edward - Jasiel olha para ele enquanto põe a mão no queixo e arruma os cabelos grisalhos. - Desculpe não falar antes,  mas eu piloto helicópteros, era jornalista na Espanha antes disso tudo acontecer. Bogotá tem um aeroporto, talvez se formos até  la poderemos arranjar um e nos tirar daqui.

- Vocês viriam comigo?

- E por quê nao iriamos? - Emillia volta a se pronunciar - Não temos mais para onde ir, só nos resta ficarmos com você mesmo.

- Então vamos! - Edward se levanta, ainda com um pouco de dor.

- Não, não vamos a lugar algum agora! - Jasiel interrompe a caminhada triunfal de Edward - Aqueles drones la fora, viu o que fizeram com você?  Você acha que pode correr delas? E Emillia? Ela jamais conseguiria seu tolo, nós vamos pensar antes de agir! - E empurra Edward no sofá. Edward permaneceu calado após isso, e os dois, Emillia e Jasiel, voltaram a brigar em espanhol.

Edward estava de certa forma feliz, ele conseguiu um dos objetivos, ja tinha descoberto metade das coisas que estava acontecendo, e então só lhe faltava chegar as usinas Hoover e ter uma conclusão plausível. Mas algo ainda o intrigava, após tanta conversa, o que aconteceu com ele durante aquele tempo após o suicídio dele? Algo realmente aconteceu, e isso deixava a mente de Edward perturbada.

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