A semana foi muito produtiva, tanto na faculdade quanto no estágio, menos na sexta-feira a noite que poucos alunos compareciam, segundo Dadá, por causa dos bailes que rolavam, mas ele ficou lá comigo para eu não andar sozinha na favela e eu o ajudei com português:
-Mas isso não faz sentido nenhum! -Dadá disse fechando o caderno e levantando o olhar para mim impaciente.
-Claro que faz, para de se fazer, seu preguiçoso! Você só precisa arrumar a frase! -digo abrindo a caderno dele novamente. -Eu te ensinei a ordem direta que é o sujeito, o verbo e o predicado, tem esses três elementos na frase só achar, a única diferença é que tá na ordem inversa!
-Ah não fode, ensina de um jeito depois quer pedir outra coisa, esculachou!
-Não fodo mesmo não, seu boca suja, eu te ensino! Vamos lá: "Irritado e com preguiça, na sala Dante está." Quem está na sala?
-Eu, o Dante.
-Isso! E qual o verbo?
-Ser, na 3ª pessoa do singular. E irritado e com preguiça é adjetivo, ou pode ser chamado de predicativo do sujeito, certo?!
-Isso mesmo, essa é a forma mais formal de dizer, agora coloca a frase na ordem direta.
-Dante está na sala irritado e com preguiça.
-Realmente... -digo brincando ao fazê-lo repetir a frase em voz alta.
-Ih não fod... não ferra, Heloisa.
-Que foi? Você tá certo, pô -digo debochando dele.
-Ah, sai daí doida -ele diz me tacando uma bolinha de papel e eu jogo de volta.
Ficamos mais algumas horas lá na sala, ele estudando e eu fazendo minhas obrigações da faculdade, atazanando um ao outro, mas dando um espaço legal para não atrapalhar, assim que deu o horário ele me levou até em casa e nos despedimos com um abraço carinhoso.
E nesses pequenos detalhes cada vez nos tornávamos mais próximos.
Durante o sábado li os textos dos alunos que pedi para as turmas do ensino fundamental II fazerem sobre as histórias que eles queriam compartilhar, alguns abordaram sobre a convivência com os amigos, outros falavam dos esportes que praticavam, outros falavam da família e ainda outros contaram sobre o tráfico, que infelizmente fez parte da maioria das histórias.
Esses separei com etiquetas coloridas na devida ordem: lilás, verde, azul e vermelho.
Depois separei os textos por salas e coloquei os maiores erros que a sala cometia, dessa forma:
6 Ano A: Erros de concordância nominal.
7 Ano A: Erros de acentuação e uso da vírgula.
8 Ano A: Problemas com gírias e substituição por uso de termos cultos.
E assim por diante, dessa forma pude preparar minhas aulas para todas as turmas e começar a me orientar no planejamento didático de cada ano.
Ente os textos, os que me chamaram mais atenção foi o do Jorge, e um que estava assinado como anônimo da série 9º ano. O do Jorge porque ele quis compartilhar a morte do pai e o "anônimo" por contar coisas sobre o "chefe".
Texto do Jorge:
"...Oi profesora, vou contar sobre uma historia muito legal de quando meu pai ainda estava aqui teve um dia que fomos no shopping e comemos muita pipoca bebemos refrigerante e a gente comprou um monte de presentes pra mim pro pai pra mãe pro tio pra minha vó mais depois deu briga lá em casa nao sei o porque mas minha mãe gritava o tempo inteiro
Nota fiscal não é brincadeira
Nota fiscal isso e aquilo outro até falou de um ministério do sítio, da fazenda nao sei eu tava vendo tudo e ai eles paro e o pai veio falar que tenho que estudar muito pra ter essa tal de nota fiscal mais de qualquer geito foi muito divertido um dos melhor dia...
...sinto saudade do papai e da mamae mas amo o tio que eu chamo de papai augusto ele é muito legal comigo mais tambem numca vamos em lojas mais tambem nunca falta nada pra mim..."
Texto do anônimo:
"...Oi, bom vou falar sobre a vida no tráfico porque é tudo que aprendi nesses 15 anos de vida.
Primeiro nunca vi uma coisa dessa mas augusto conseguiu, nem nome de bandido ele tem, da a cara a tapa mesmo, mas isso vem porque o irmão dele sempre foi o fodão ele tinha nome de bandido, só depois que ele morreu que descobriu seu nome de batismo, mas augusto parece mais foda porque ele nao se esconde mesmo! assim que ele assumiu o morro foi la nos fdp's dos vizinhos e disse que queria paz no morro dele, todos aceitaram porque a maior tropa eh a nossa neh jamais que vão peitar aqui no morro a gente vive tranquilo, cada um no seu aqui policia nao se mete porque o chefe faz a lei a nóis assina para morar debaixo do teto dele, se remelar vai pagar pra ficar ligado que isso aqui nao eh bagunça. aqui é mó bom de viver ele cuida da nossa segurança e até comida no prato ele põe se faltar vende suas drogas e cuida dos seus. aqui ninguém morre de bala perdida nao tem invasao nem violencia policial aqui na nossa favela eh lugar de respeito! diferente de umas e outras que ta a nossa volta e parece que nem tem chefe mas a gente nem se envolve nois se respeita porque respeita o chefe, ele é bonzinho mas não deixa virar zorra..."
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Oi meus amores, tudo bem? Vocês estão um arraso mesmo viu? +250 votos, eu to muito feliz!
E esse Dante, muito dedicado hein?! 👀
PRÓXIMO CAPÍTULO TEM BAILE, espero que vocês estejam ansiosos pra mais um rolê hahaha
Mas enfim como vocês pediram mais um capítulo e que ele fosse maior, tentei providenciar, espero que gostem, comentem e votem bastante! 💛
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A Estagiária no Morro
Teen Fiction"Segura minha mão e vem comigo que no caminho eu te explico..." Plágio é crime!
