o4| Onde a luz do sol ainda não alcança

122 30 153
                                    

- Eu sei muito bem o que você fez, mocinha – ela fala com aquele tom de reprovação. – Onde você estava com a cabeça quando entrou no meio da noite no quarto de nosso hóspede? Espero que não tenha esquecido que ele é um homem Larsa!

Cruzo os braços.

- Ele estava precisando de ajuda. As tosses cessaram quando ele tomou o que preparei – justifico. – Eu não posso simplesmente observar uma pessoa definhar na minha frente – lhe lanço um olhar determinado. – Não mais.

Por alguns instantes ela desvia o olhar, mas volta a se recompor, decidida a me vencer nessa batalha.

- Saiba que ele vai se recuperar rápido...

- Você sabe muito bem que não vai tia – saio da defensiva. – Até quando ia esconder de mim? Você sabia esse tempo todo que ele veio só para morrer, não foi? E ainda assim aceitou os riscos sabendo a enfermidade que ele carrega. Mesmo sabendo que podemos pegar o que ele tem, a senhora aceitou os riscos, porque precisa de dinheiro para Dênis – ela dá alguns passos para trás e cobre a boca com a mão para abafar o choro. – Eu não a culpo, ao contrário... agradeço. Obrigado por aceitar apesar de minhas relutâncias em recebê-lo – vou até ela e a envolvo em meus braços. – Obrigado por tudo tia, mas não tente me impedir de ajudá-lo.

- Perdoe-me Larsa – ela enxuga as lágrimas na manga do vestido longo. – Eu não sei onde estava com a cabeça ao aceitar essa proposta, colocando assim nossas vidas em risco também. Podemos corrigir isso, posso pedir que ele parta, se assim você desejar.

- Não, ele ficará conosco e vai melhorar – seguro seu rosto com as duas mãos e deposito um beijo em sua testa. – Agora vamos deixar isso de lado e nos preocuparmos com a feira que se aproxima, esse ano vamos ter bastante gente agora que o mundo está se reerguendo após a guerra. As pessoas estão se permitindo sorrir novamente e abrindo seus corações para onde a luz do sol ainda não alcança, mas com o tempo voltará a alcançar.

- Você diz palavras bonitas Larsa, fico feliz ao ver que a esperança ainda mora em seu coração – ela sorri. – Tem razão, mas peço somente uma coisa, que evite o máximo possível o contato com Vincent, a enfermidade dele parece ser bastante contagiosa.

- Isso não posso prometer – me afasto dela e vou até a porta. – Fiz uma promessa para mim mesma de que não vou deixar outra pessoa definhar ao meu lado sem fazer nada. Eu vou ajudá-lo até o fim...

- Larsa, muito cuidado com o que você fala. Temo presumir o que você pensa e não estou gostando...

Deixo ela falando sozinha e corro em direção ao meu pomar. Corro com toda velocidade pelo corredor e uma risada escapa de mim. De repente colido com alguma coisa e caio de bunda no chão, não alguma coisa... alguém. Massageio a testa, e olho irritada para a pessoa na minha frente, vejo Garry me observando com uma careta. Ele ajeita o terno de grife onde colidi com a cabeça e pigarreia levemente, mostrando claramente o profundo desagrado ao me ver. Seu olhar segue para minhas pernas, que estão abertas de frente para ele. Meu rosto entra em combustão e rapidamente fecho as pernas e levanto. Ele abre a boca para falar algo, mas saio correndo e esbarro em seu ombro de propósito.

- Seu bunda mole pervertido, saia do meu vale! – grito por cima do ombro enquanto corro. – Não quero ver sua cara feia no meu chalé quando voltar!

 – Não quero ver sua cara feia no meu chalé quando voltar!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Vale das MariposasOnde histórias criam vida. Descubra agora