Os fios de seu cabelo vermelho eram levados pelo vento,as mechas quentes bailavam ao por do sol como a chama de uma lareira recém-acesa. Seus olhos tremeluziam esperança, seus lábios tremiam de nervosismo,o sangue fervendo em adrenalina.
Ela caminhou em passos lentos até a ponta do lago. Dobrando os joelhos,se curvou lentamente para vislumbrar o próprio reflexo. Ela finalmente se via, entre os borrões de água e a luz do sol poente que refletia no lago.
Ela se via.
Sem ser o que o mundo esperava que ela fosse, sem as expectativas que deveria cumprir,sem o peso de seu perfeccionismo próprio e deformado. Ela finalmente se via. Sem as correntes que foram impostas a si mesma carregar,sem temer o futuro,sem duvidar do presente e questionar o passado.
Ela se via.
Como um canário a tempos preso em uma gaiola. Como uma folha pequena e leve, que poderia dizer adeus a sua arvore na primeira rajada de ar que viesse. Como um velho livro empoeirado,que logo teria um novo capitulo. Como os sonhos de uma criança,que jamais teriam fim,que iriam até onde seu pequeno e dourado mundinho de imaginação pudessem levar.
Puxando tanto ar quanto seus pulmões pudessem carregar,ela gritou. Mesmo que ninguém a ouvisse naquele lugar deserto,ela gritou. Gritou tudo o que sentia,tudo que pensava,tudo que estava guardado dentro daquele jovem coração. Seus medos,suas alegrias,suas tristezas,suas dúvidas,seus prazeres.
Se curvou novamente para as águas,limpando pequenos e delicados cristais que caiam de seus olhos serenos. Pondo-se de pé novamente,abrindo os braços na tentativa de acariciar o vento. Fechando os olhos para apreciar o contato com sua amiga,abrindo-os novamente para encarar a imensidão do céu azul.
Seu pequeno rosto queimava sobre o alvorecer,refletido entre as águas. Ela sorriu,respirando fundo e abraçando a si mesma. Apreciando a nova sensação que preenchia seu peito. O poder de conseguir ir além do pensava que poderia ir.
Ela era livre.