epílogo, part ii

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Theo Raeken-Dunbar

24/12/1994

14/06/2088

- Oi, Theo. - Liam sussurrou, sorrindo para a lápide. Com dificuldade, abaixou o corpo até estar com um dos joelhos sobre a grama e pousou o lindo e colorido buquê de flores encostado na pedra, ao lado de um outro, murcho por ter ficado uma semana ali. - Hoje trouxe um pouco de tudo e você nem vai acreditar onde colhi essas flores dessa vez!

O homem de cabelo branco deixou-se escorregar até estar sentado na grama, lado a lado com a lápide e os dois buquês de flores - um lindo e vivo, o outro já desfalecendo e com pétalas ressecadas. Prendeu a bengala entre as pernas e recomeçou a falar:

- Ontem fui visitar nossa casinha na árvore com Violet e ela me ajudou a colher as flores. Claro, estamos quase no outono e elas estão começando a ficar escassas, mas o que um esforço de pai e filha não consegue. - Ele riu sozinho, erguendo o rosto para o céu e vendo as nuvens se afastarem para o sol retornar novamente. - Ela me prometeu que estava cuidado para que a casa ficasse bem conservada e que todas as nossas antigas tralhas continuam exatamente no mesmo lugar. Obviamente, não pude subir para ver com meus próprios olhos, mas confio que nossa filha está cuidado de tudo muito bem.

Liam, então, fechou os olhos e deixou o vento frio deslizar sobre sua pele, que logo foi ligeiramente aquecida pelo sol que retornava. O silêncio ali era cortado somente pelo som do vento tocando as folhas de uma árvore não muito distante e pelo pio dos poucos pássaros que ainda se aventuravam a ficarem na cidade em época tão próxima ao inverno.

Liam e Theo tiveram uma vida longa e feliz juntos desde o começo. O início oficial do namoro deles não foi surpresa para ninguém da família dos dois e, doze anos depois, quando resolveram que era a hora de se casarem, foram perseguidos pela mesma pergunta onde quer que anunciassem: "por que demoraram tanto?" Sim, apesar dos muitos olhares tortos que ainda recebiam das pessoas, a união deles fora o motivo de festa de muitas outras.

Claro, nada era apenas flores. Como qualquer outro casal, eles brigavam com certa frequência - porém, sempre conseguiam resolver tudo ao final. O Styles estudou Artes, e se tornou um pintor conhecido mundialmente poucos anos depois, ao mesmo tempo que a carreira no futebol de Theo estava em seu clímax. O Raeken, ainda mais, havia formado uma banda como hobbie oficial e lançado dois álbuns - Liam até mesmo cantava junto com o marido em algumas das canções.

Entretanto, o crescimento da vida profissional dos dois levou ao colapso do casamento. As brigas se tornaram tão frequentes e intensas que, em uma manhã fria de domingo, Liam havia pedido pelo divórcio. Naquele mesmo dia, Theo saiu de casa com nada mais que uma pequena mala, palavrões engasgados na garganta e a certeza que o belo conto de fadas dos dois havia chegado ao fim de uma vez por todas. A reunião para assinar o divórcio fora marcada para um mês depois e, durante todo esse tempo, os dois não se falaram nenhuma vez. O silêncio entre Liam e Theo logo se tornou corrosivo e triste demais.

Liam passou a sentir falta das roupas de Theo jogadas pela casa, de suas panquecas queimadas e até mesmo da Theoça que se acumulava na pia da cozinha. Sozinho em um hotel, Theo havia passado a desprezar qualquer flor que via, morrido de saudade da infinidade de botas coloridas em seu guarda-roupas e dos diversos potes de cremes perfumados espalhados pelo quarto. E foi assim que, na noite anterior ao julgamento que determinaria o divórcio, Liam se pegou andando desesperadamente pelo apartamento, repuxando seus cachos e com lágrimas nos olhos. Ele não queria se separar de Theo e tomou consciência disso enquanto corria em direção ao quarto para se trocar e ir em busca do seu marido.

No entanto, Liam não teve nem tempo de chegar no quarto naquela noite. A campainha tocou antes disso e ele sentiu que iria desmaiar ao abrir a porta e se deparar com um Theo ao choro do lado de fora. Nenhuma palavra fora necessária e logo ambos se jogaram nos braços um do outro. Naquela noite fria, os dois tinham feito amor por horas e, no dia seguinte, nenhum dos dois apareceu no Tribunal.

Dois anos depois, eles estavam adotando a pequena Violet que, com sua pele cor de chocolate e seus raros olhos violetas havia conquistado os corações de Liam e Theo. Fora difícil conseguir a adoção da menina, mas tudo valeu a pena quando os três entraram juntos em casa pela primeira vez. Com seus seis anos de idade, Violet trouxe ainda mais vida e cor para a vida do casal, completando a família. Meses depois, no aniversário de Liam, Theo surgiu com a pequena gatinha Dusty em casa e tudo se tornou perfeito.

O velho homem reabriu os olhos, deparando-se com o céu. Sua linha de memórias foi quebrada e ele se viu sorrindo para o vazio, os olhos guardando algumas lágrimas.

- Eu sinto sua falta, Theo. - Sussurrou essas palavras pela primeira vez em dois anos. Nunca permitira dizê-las em voz alta. - Sinto tanto, tanto a sua falta que dói. Violet também sente. Ela gostaria de ter vindo te visitar hoje, junto comigo, mas não tinha ninguém para cuidar dos meninos. Oh, Theo, eu queria tanto que você pudesse ver como os nossos netos estão grandes. Quase não reconheci os dois ontem!

Uma lágrima teimosa escapuliu, escorrendo pela pele enrugada de Liam. Seu rosto carregava marcas dos anos que havia vivido. Ele havia prometido para Theo que jamais deixaria de sorrir para o mundo porque seu sorriso "é muito precioso, Li", então Liam buscava todos os dias motivos para sorrir. E ele nunca deixara de cumprir sua promessa naqueles dois longos anos, por isso sorriu para o céu, agora sem nuvens.

Deslizou a mão pela corrente de ouro que tinha ao redor do pescoço até alcançar o pingente preso nela. Era uma pequenina garrafa de vidro e, dentro dela, haviam sementes de dente de leão, uma flor famosa por conseguir sobreviver até quase o inverno, permanecendo viva o máximo possível. Liam fechou uma mão ao redor da garrafinha e a outra pousou sobre a lápide de Theo.

O homem sabia que não tinha mais tanto tempo de vida pela frente e não tinha medo disso. Entretanto, tinha certeza de que encontraria Theo novamente -fosse em algum paraíso ou em uma vida futura - então, sempre carregava aquelas sementes de dente de leão consigo. Dessa forma, onde quer que Liam encontre com Theo, sempre teria como plantar flores e dá-las a ele.

Como Theo gostava de reforçar em todos os anos que viveram juntos, eles eram infinitos.

E sempre haverão flores no infinito.

fim

Flowers - ThiamOnde histórias criam vida. Descubra agora