Acordar de madrugada estava virando rotina para Eloisa. Logo ela que prezava tanto o sono, estava cada vez mais inquieta a noite.
Guto continuava a passar pela sua cabeça como uma imagem gostosa.
Na noite anterior eles tinham ido bem mais longe que de costume, mas a tela do computador foi ficando ameaçadora demais para ela.
- Se eu tirar a sua camisola, o que vejo?
Ela olhou no espelho que ficava à frente da cama, e viu a imagem de uma mulher de banho tomado, sem maquiagem, sem cor e sem vida.
Se tirasse a camisola, ele veria a Elô. Aliás, ela já via a Elô. Via e não gostava do que via.
Por mais que ela se cansasse de Eloisa Ramalho, sabia que ela tinha um brilho, um magnetismo que atraia os homens.
E as mulheres também.
Ela imaginou-se descrevendo seu corpo para Guto, e um desespero foi tomando conta dela. No meio da descrição, ele provavelmente diria, estou ficando com sono, podemos continuar amanhã e depois disso nunca mais a procuraria.
Seu coração disparou só em pensar nele. Era tudo o que ela queria, ir mais a fundo na relação com aquele homem tão especial.
Como ele seria?
Ela imaginou a imagem dele chegando para ela, no computador.
A troca, contudo lhe deixava desesperada. Receber uma imagem a obrigava a dar uma imagem. E ela não estava preparada.
Elô esticou as mãos e pegou o celular que estava do seu lado, desligado. Parou por um tempo se certificando de que era mesmo segunda-feira. Claro que era, o seu celular já era programado para desligar no sábado e religar só na segunda, ás oito horas da manhã.
Aos seus amigos íntimos, que eram poucos, ela dava o e-mail, os outros ficavam mesmo sem ter como falar com ela no final de semana.
Alberto era um dos que odiavam isso, mas fazer o quê, ela não abria mão. Abrir exceção para ele estava fora de cogitação, ele, inclusive era o que mais a incomodava em sua folga.
Ela desistiu de olhar as horas, e colocou o celular novamente na mesa. Quando fossem oito horas, não só ele ligaria, como despertaria para acordá-la. Se é que ela iria conseguir voltar a dormir.
Com a ansiedade aumentando, se levantou e sentou-se na beirada da sua cama. A sua imagem refletia á frente no espelho.
Ultimamente, ela estava reparando muito em espelhos e isso a estava incomodando. Por alguns instantes continuou ali, só olhando a sua imagem com cabelos arrepiados e cara amassada refletir à sua frente.
O espelho começou a ficar embaçado, ela focou o olhar e a imagem no reflexo mudou.
Talvez fosse o sono que estivesse lhe impedindo de ver direito.
Ela se levantou, deu dois passos até o espelho e passou a mão no reflexo, enquanto bocejava. O que aparecia do outro lado se transformou em alguma coisa que não era mais ela, era uma menina adolescente, quase criança.
Eloisa se apalpou, olhou ao redor, conferindo se não estava mesmo dormindo. Não, não estava.
A menina estava do outro lado do espelho, onde deveria estar o seu reflexo.
Alguma coisa tentava puxa-la para o abismo e ela se esforçava para não ir. Estendia as mãos em direção a Eloisa, pedindo por socorro.
Era estranho porque era ela, mas... não era. Era como se fosse uma versão dela, de anos atrás tentando lhe pedir ajuda para não ser levada para algum lugar que ela também não sabia onde.
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Entre o real e o surreal - O jogo do amor
ChickLitQuando Eloisa desceu do ônibus, começava para ela uma nova vida. Nessa nova etapa, ela se tornou uma cantora de sucesso, fez novos amigos e se apaixonou por Guto, um chefe de cozinha renomado, mas que enfrenta problemas depois de um acidente. Em res...