Uma História Nada Clichê #Wattys2018

Nossas rachaduras

Ela não fazia ideia! Como poderia? Tudo que sabia, era que ele jamais voltaria. Isso partia seu coração em cacos tão pequenos quanto pedrinhas de cristal. Ela realmente pensou que tudo estava prefeito, que a vida não lhe daria outra rasteira. Não foi ingenuidade, foi desespero. Ela achou que sua cota de tombos já havia se esgotado.

O sol estava radiante, o que tornava irônica toda aquela situação. Ela não entendia o poder de suas palavras, não imaginava que seriam levadas tão a sério. Ele deveria saber que ela falava sem pensar quando a raiva a dominava. E ela deveria saber que ele agia sem pensar quando ela fazia isso.

O álcool, quando adentrava a garganta dele, falava por si só. As consequências vinham depois. E essa foi sua última consequência. A mais perigosa, a que pôs o ponto final. Ela não sabia disso, mas ele sim. Ele transformou tudo o que sentia em palavras, que foram devidamente colocadas em um pedaço de papel cor de marfim.

A visão dela se tornou embaçada ao ler tudo que ele lhes dizia através daquilo. Ela conseguia ouvir sua voz, aquela voz grave e suave que pertencia ao homem que ela amava. Ele foi tirado dela subitamente, e sua última lembrança era a forte luz branca que se espalhou por toda a escuridão.

Ele a queria de volta. Ele sabia disso. Nem sequer se questionava sobre seus sentimentos quanto a isso porque para ele era uma coisa tão óbvia, que chegava a ser natural. Chegava a ser parte dele.

Mas e quanto a ela? O que se passava naquele coraçãozinho tão confuso e desorientado? Depois de tudo que eles passaram... Sim, ela ainda o amava, ainda o desejava mais que tudo, mesmo depois de tanto tempo. Mesmo depois de tanto sofrimento.

Supostamente isso fazia com que tudo fosse mais simples. Supostamente ainda havia reciprocidade entre eles.

Supostamente ainda restava esperança.

Mas não é assim que as coisas funcionam...
Perdoar não é esquecer. As coisas, as lembranças, atos, palavras e até mesmo pensamentos, nos machucam. Mesmo quando não queremos. Mesmo quando tentamos ao máximo deixar pra lá. Nós simplesmente não controlamos nada.

E por mais que algo nos faça bem agora, não vale a pena manter conosco se a longo prazo isso irá nos destruir.

Não tem porque abrigar o motivo de todos os choros ao seu lado, nem se ele for o mesmo motivo dos seus melhores sorrisos. A vida é uma só, com milhares de pessoas diferentes em um mundo inteiro pra ser explorado.

Não se prenda ao caos quando você pode se soltar por um infinito de paz.

M.Carolina B.Ribeiro e Julia Werlang