Apenas Um Milagre

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Senti minhas pernas tremerem. Parecia que elas não queriam me obedecer e continuavam caminhando, sem eu mesmo perceber.

Seria tudo tão rápido na cabeça de alguns... mas pra mim foi em câmera lenta. Vi tudo desabar lentamente a minha volta, e o pior é que não havia nada que eu pudesse fazer. Só esperar alguma ajuda e talvez, quem sabe, um milagre.

Quando acordei essa manhã, com os primeiros raios de sol atravessando a janela do meu quarto - que era branco e sem graça -, já sabia que o dia não seria bom. Hoje teria que enfrentar o meu maior medo. Fiz todo o esforço do mundo para abrir os olhos e enfrentar o que vinha pela frente.

Apresentações escolares, para muitos, é algo suportável e normal, podem ser até mesmo legais e divertidas. Porém existem outros que simplesmente não pertencem ao palco. Eu me enquadro nesse grupo. Um menino desajeitado de pernas compridas, ruivo, lotado de sardas e muito tímido. Esse sou eu. Prestes a subir a escadaria de um lugar que apelido carinhosamente de inferno.

Começo a transpirar mais do que o normal e, por um segundo, esqueço até como respirar. O trombone que estava em minhas mãos caiu em cima do meu pé e a dor foi instantânea. Queria correr para o mais longe possível dali, mas não dava. Meu corpo não me obedecia e quando pensei que não podia piorar, todos os olhares estavam fixados em mim. Uns riam, outros possuíam um olhar que já vi tantas vezes na minha vida: Pena.

Senti algo úmido passando pelas minhas pernas e foi aí que voltei pra realidade. E mesmo mancando, saí correndo desesperadamente ao som de gargalhadas. Aquelas de explodir o tímpano. Foi quando avistei um milgare. O meu milagre.

Cada um tem o seu, sabe? Pode ser seu pai ou até mesmo seu cachorro. Sua tia ou seu tio, sua avó ou seu avô. Pode ser aquela pessoa especial que tem um lugar diferente reservado no seu coração. Mas o meu era a minha mãe, que me pegou no colo no instante em que me aproximei.

Eu, um garoto que já tem quase 7 anos, fui humilhado na frente de todos. Mas apesar de tudo, eu ainda tinha algo pra consolo. Aquele momento nos braços da minha mãe, ninguém tiraria de mim.

M.Carolina Barreto Ribeiro

Uma História Nada Clichê  #Wattys2018Onde histórias criam vida. Descubra agora