Milho

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Primeira lenda

Em tempos perdidos na noite da antiguidade, quando viviam os índios muito afastados uns dos outros, cada família devia por si só cuidar e procurar o sustento na caça ou na pesca.
Dois caçadores, porém viviam juntos e eram os únicos que ajudavam na caça e repartiam o produto dela entre si e suas famílias. Um dia quando foram pescar, disse um deles: Não seria possível que "Nhandeyara", o grande espírito, que manda nas aves do céu e os animais da terra para nosso alimento e o de nossos filhos, se dignassem de por sobre a terra outra casta de alimentos que fossem mais fáceis de colher? Os frutos silvestres têm sua curta estação, a caça e pesca, costuma faltar e por vezes e muito mal passaríamos, se as raízes de umas plantas e os grelos das palmeiras não nos servissem de sustento.

Em tais conversas passaram horas, pois a pesca não foi muito abundante naquela ocasião. No dia seguinte cedo, aprontaram-se os dois caçadores seus arcos e flechas e dirigiram-se ao mato à procura de jacus. Caminharam muito, detendo-se por vezes para escutar o ruído de uma caça levantada que fugisse. Porém, a batida não deu resultado melhor que a pesca do dia anterior. As aves e os quadrúpedes tinham-se retirado para outra região e apenas obtiveram o indispensável. A escassez fazia-se sentir por toda aquela lua. Uma noite, conversavam os dois amigos assentados sobre um toro que lhe servia de banco perto da porta, quando lhes apareceu um valente guerreiro, que saíra da escuridão todo envolvido em raios de luz. Aproximando-se deles, disse que era enviado de Nhandeyara, que tinha escutado sua conversa na escuridão e que o mandara para proporcionar-lhes o alimento que lhes faltava. Para este fim devia lutar com cada um, para ver qual deles era o mais forte, tendo o mais débil de sacrificar-se e ser enterrado perto da cabana. Da sepultura nasceria uma planta, que daria frutos suficientes para sustentar todo o tempo as duas famílias e a quantos a cultivassem.
E imediatamente a luta começou. O mais fraco era Avaty. Deu-lhe sepultura o amigo sobrevivente, que lamentava a inevitável separação e o estranho guerreiro, desapareceu na sombra de onde saíra. Aquele tinha que trabalhar com afinco e demorar-se mais nos bosques e campos para granjear o alimento indispensável para a sua família e a do amigo. Em um dos primeiros dias da primavera foram surpreendidos pela agradável nova de que no túmulo de Avaty tinha nascido uma formosa planta de muitas folhas verdes e espigas douradas. Viu então o caçador cumprida a promessa feita pelo guerreiro e tranqüilizando-se compreendeu a grande sabedoria de Nhandeyara, que pode sacrificar um homem de bem para o bem de todas as outras criaturas.
Desde então, chamam os guaranis aquela planta "Avaty", em homenagem ao índio sacrificado e os nativos daquela terra cultivaram com esmero nas suas pequenas roças o primoroso grão, cuja espiga, ao ser assada de mão em mão, simboliza a união e afetuosa amizade. Pois nenhum bom índio olvida que a abundância que proporciona esse admirável alimento, tanto aos homens como aos animais, provém do sacrifício de um amigo fiel.

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Segunda Lenda

Um grande chefe Pareci, dos primeiros tempos da tribo, Ainotarê, sentindo que a morte se aproximava, chamou seu filho Kaleitoê e lhe ordenou que o enterrasse no meio da roça assim que seus dias terminassem. Avisou que três dias depois da inundação, brotaria de sua cova uma planta que algum tempo depois rebentaria em sementes. Mas avisou para que não comessem e sim, guardassem-na para replanta, deste modo, ganharia a tribo um recurso precioso. Assim foi feito e o milho apareceu entre eles.

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