– O diafragma na fotografia é o diâmetro da abertura das lentes – diz Sally Mann, gesticulando com as mãos e com um olhar penetrante que nos atingiam a alma. – Esse diâmetro é um dos fatores que define a quantidade de luz que entrará na câmera, até o sensor. Quanto maior for a abertura, mais luminosa é a objetiva, ou seja, mais apta para locais com pouca luz – explica finalmente recolhendo seus papeis e guardando em sua bolsa, enquanto eu anotava tudo o que ela dizia que nem uma lunática. Percebi que estava passando dos limites quando anotei seu "bom dia", julgando ser importante para as aulas de fotografia. – Próxima aula, iremos utilizar o diafragma e aprender como uma foto pode sair boa, mesmo com a falta de luz. Bom final de semana. – Nos dispensou e eu respirei fundo, catando minhas coisas e insultando-me por ser tão desorganizada.
Meu celular toca e eu bufo, atendendo sem nem ao menos olhar quem é no visor. Será que Shawn não pode esperar por cinco minutos?
– Já estou indo, Shawn. Não precisa ter um ADP – digo enfiando tudo dentro da minha bolsa, sentindo o olhar de Sally Mann queimar em minha nuca. Viro-me em direção a ela como o boneco Chuck, dando um sorrisinho e acenando ao passar pela porta. Como todos os dias, não foi retribuído.
– O que é um ADP? – Arregalo os olhos ao ver que não era Shawn na ligação – ele sabia o que era um ADP. Não precisei nem olhar para a tela do celular para saber quem era, parei de andar na mesma hora. Só pode ter acontecido algo muito grave para que Lucas estivesse me ligando.
– Lucas? – Ele apenas disse um "eu mesmo", dando uma risada. – ADP é ataque de pelanca. Nunca assistiu Branquelas? – perguntei com um sorriso e ouvi sua risada novamente. – Por que está me ligando?
Lucas e eu sempre tivemos uma relação amável, mas poderíamos muito bem atear fogo um no outro em nossas horas vagas.
– Bem, tenho uma boa e má notícia. Qual quer primeiro? – perguntou e eu não soube dizer se era sério ou não.
Logo pensei em meus pais, principalmente em minha mãe, e esse pensamento foi seguido pela faculdade que faz alguns – muitos – dias em que eu não compareço e que, inclusive, irei pegar minhas coisas lá hoje e dizer para o diretor que ele nunca mais vai ver minha cara a menos que ele me contrate como fotógrafa. Tudo com um sorriso no rosto e um cara famoso ao meu lado, que eu ainda vou tentar convencer a não sair do carro.
– Ellie? Ainda está aí? – Despertou-me meu irmão e eu engoli em seco.
– Sim, estou. Acho que vou querer a ruim – digo dando de ombros, uma hora ela iria ser dita, de qualquer maneira.
– Sábia escolha – comentou e eu revirei os olhos. – Mamãe surtou com você na capa de uma revista adolescente ao lado de Shawn Mendes. Ela literalmente surtou. – Comprimi meus olhos com força imaginando o estrago. – Ela ficou muito chateada por ficar sabendo disso pela revista, e não por você...
Eu não queria contar isso para ela porque eu sabia como iria ser. Minha mãe vai querer conhecê-lo e eu tenho mais medo desse encontro do que tinha dos bichos assombrosos no meu armário. Dona Edith consegue ser uma pessoa mais complicada que eu e eu aposto que tiraria a paciência infinita de Shawn se o conhecesse.
Eu não quero terminar um namoro por culpa de minha mãe.
– Eu ligo para ela me desculpando depois – digo em um suspiro. – Qual a boa notícia? Estou mesmo precisando – resmunguei.
– Ela está indo te visitar – diz e eu sabia que ele estava sorrindo. Não aquele sorriso sincero, mas aquele sorriso de "isso é por aquela vez que eu saí escondido e você me entregou". Não duvidaria nada a ideia ter sido sua.
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There's Nothing Holdin' Me Back
Fanfic{concluída} Ellie Bamber é pressionada pela família para se tornar uma médica, assim como todos eles. Seria mais fácil se ela não quisesse seguir uma carreira de fotógrafa e seria ainda mais fácil se ela não começasse a agir por conta própria. E a...