She says that she's never afraid

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Quando suas mãos me deixaram senti meu mundo remexer-se em um claro sinal de desaprovação. Foi como se Shawn, ao renegar meu toque, tivesse levado com seu acanho uma de minhas pernas, deixando-me despreparada para o mais novo equilíbrio ao qual eu deveria me acostumar.

Mas eu não me acostumei.

Olhei no fundo de seus olhos e pedi uma mísera explicação para seu comportamento tão estranho, quando, na verdade, era pra ele estar me abraçando e me dizendo que iria ficar tudo bem, como sempre faz. Mas não acho que Shawn iria fazer isso, ele não parecia nem ao menos querer. Fitei pontos estratégicos de seu rosto que entregavam que ele não dormiu essa noite; seus olhos cansados e as olheiras evidentes sob eles, o seu cabelo, sua postura e até mesmo sua voz demonstrava um cansaço além do normal. Algo, ou alguém, o fez perder horas de seu precioso sono e me perguntei se já poderia levar essa culpa no cartório ou teria de esperá-lo assumir em alto e bom som.

– O que você não sabe se deveria me mostrar? – perguntei. Fiquei admirada pela minha voz ter saído audível e consistente, tendo em vista que a última vez que falei foi ontem à noite.

Ainda estávamos parados um em frente ao outro, eu porta dentro e ele porta a fora.

Seu suspiro foi tão alto que me pareceu mais um grunhido frustrado e eu franzi o cenho, cruzando os braços na altura de meu peito. Não via razões para que Shawn estivesse agindo assim, só poderia ser uma coisa muito ruim para que logo ele demonstrasse tanta irritação, mesmo que essa irritação seja pra encobrir sua mágoa.

Dei espaço para que Shawn entrasse, e assim ele o fez. Sentamos lado a lado no sofá, com as posturas desleixadas e os olhares vazios, cada um fitando um nada diferente. E lembrar que esse sofá já presenciou tanto... Se pudesse, ele estaria mais confuso do que eu em meio as minhas crises adolescentes quando tentava lembrar o porquê de tanto sofrimento e acabava sem nenhuma resposta concreta. Consigo entender melhor agora.

– Não vai me falar? – perguntei novamente ao virar-me para ele. Shawn parecia travar uma luta interna e eu só queria que o lado que nos favorecesse saísse vitorioso.

– Ellie, ontem você foi a uma festa – aponta e eu assinto, sentindo meus pelos se arrepiarem ao lembrar-me da catastrófica noite anterior. – Não tem nada para me dizer?

O que eu poderia dizer a ele? Que fui para poder esquecer um pouco sua ausência? Ou o fato de ele estar totalmente estranho? Ou que fui assediada pelo meu ex quase amigo?

Não fui correndo chorar em seus braços sobre Edward por dois simples motivos. 1) Sentia-me envergonhada. Eu sei que não deveria e Katherine repetiu isso tantas vezes que me senti tonta ao final, mas eu não conseguia fazer com que esse sentimento fosse pelo ralo toda vez que esfrego meu corpo no banho – e eu já tomei uns dez banhos de ontem pra cá –. 2) Não sei qual seria sua reação. Não sei se ele iria atrás de Edward e se meteria na maior confusão com seu lado agressivo que nunca coloquei os olhos ou me condenaria por uma traição, o que eu não creio que Shawn faria, mas minha imaginação não consegue descartar hipóteses.

– O que eu teria para te dizer? – retruquei. Meu namorado passou a mão na perna, depois nos cabelos antes de se afastar do sofá e se manter em uma pose analítica de homens de negócios. Costas curvadas, cotovelos sobre as pernas e as mãos cruzadas rente aos joelhos.

– Não tem nada para me dizer? – perguntou novamente. Antes que eu pudesse cogitar em uma resposta, ele pega seu celular e me entrega, se jogando de volta no sofá, logo depois, destruindo sua pose séria para uma de quem só espera ser resgatado pelos ETs a qualquer momento.

Em seu celular tinha uma foto. Uma foto em que Edward e eu estávamos presentes. Uma foto em que Edward me assediava. Uma foto que materializava todo o meu terror.

There's Nothing Holdin' Me Back Onde histórias criam vida. Descubra agora