Capítulo Vinte e Oito

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Trevor também permanecia mergulhado em pensamentos, ele mal notou quando sai nua do banheiro para me trocar. Ele ficou lendo várias documentações que confiscou no escritório do Líder Wuntter. 
E pela a expressão no seu rosto, as documentações não trazem boas notícias.

Curiosa e intrigada, aproximo-me.

— Qual é o problema?

— O Rei Akhenaton aumentou o imposto do Clã Skylon. — Disse num tom amargo. — O desgraçado estava cobrando cinco baús de ouro. É um valor exorbitante e corrupto.

Minha boca ficou seca, minha voz simplesmente não saia. Eu conhecia a personalidade ambiciosa e ardilosa do meu pai, mas ele sempre agiu com razão. Nunca foi um Rei cruel com seu povo. Não está fazendo sentido, por quê ele aumentaria o valor?

— O maldito pensou em tudo. Ele usou o Clã para conseguir o que queria. 

— Eu não estou compreendendo, Trevor. — Digo, um pouco temerosa.

— O Rei Akhenaton queria você longe da Capital para não causar um escândalo. Os boatos sobre a sua gravidez estavam em todos os cantos da Capital. Ele sabia… 

— O quê? Trevor, não estou entendendo.

— Minha vingança. Eu pretendia me vingar e me unindo a você… — Ele hesitou, balançando a cabeça. 
 
Ajoelho-me na sua frente, deslizando as minhas mãos nas coxas fortes do macho. Trevor me encarou com seus olhos repletos de fúria e uma confusão que não consigo identificar.

— Você pretende se vingar de quem?

Trevor abre a boca, deslizando o seu olhar no decote da minha camisola. Ele molhe os lábios com a língua, cortando contato visual.

— Esqueça! Nosso dia foi cansativo, vamos dormir.

— Não quero dormir, eu quero conversar. Quero falar sobre minha irmã, sobre a nossa ligação.

Trevor suspirou fundo. Ele prendeu o cabelo com uma tira de couro, voltando sua atenção na nossa conversa. Sinceramente? Estou com receio. E se Kaira souber de tudo?

— Kaira não sabe. — Disparou Trevor. — Você é uma lobisomem. Diga-me: Se uma fêmea tentasse me seduzir, qual seria a sua reação?

Borboletas no estômago? Não, com a pergunta do Trevor sinto uma debandada de pássaros voando aqui dentro, aquele frio na barriga familiar me fez estremecer. E imaginar uma fêmea percorrendo as suas mãos no meu parceiro me causou uma revolta descontrolada.

"Não, eu nunca permitiria. Ele é meu". — Esbravejou a Loba. A reação dela só aumentou minha ânsia, minha raiva e medo de perdê-lo.

— Eu a mataria. — Minha resposta não surpreendeu só a mim, mas também o próprio Trevor que enrubesceu. Ele pigarreou, coçando a barba.

— Bom, acho que tem a sua resposta. Ela poderia desconfiar, mas não está ciente de toda a verdade.

— Oh! Acha que minha irmã tentaria…

— Você não? Se fosse você no lugar dela o faria?

Novamente aquela sensação de raiva, revolta e enjôo. Maldição, só de imaginar uma fêmea tocando no meu companheiro me causa uma repulsa descontrolada, não quero pensar em como Kaira vai se sentir com toda a verdade.

— Você não sabia, Breanne. — Murmurou Trevor, acariciando o meu rosto. — Quem errou nessa história foi o Príncipe Tristan.

— E se Maya…

— Maya é uma fêmea doente; — Corta-me. — Ela não tem uma saúde mental estável. Maya perdeu um filho, ele nasceu natimorto. Depois desse acontecimento trágico, ela mudou totalmente. 

Não, um calafrio arrepiou os cabelos da minha nuca.

— O bebê, era seu filho?

— Não; — riu cabisbaixo. — Não era meu filho, Breanne. Eu apenas ajudei uma fêmea que era especial para mim. E depois da minha ação, Maya se apaixonou ou pensava que estava apaixonada. Na minha opinião, ela gostava do poder, da soberania e vivendo como minha amante ela conseguiu o que sempre desejou.

— Quem era o pai do bebê?

— Não sei, o corpo do recém nascido não tinha um cheiro familiar. Acredito que o pai possa ser um mercador ou um turista que ela se envolveu e engravidou.

— Ela vai procurar o Príncipe Tristan. Eu tenho certeza. 

— Breanne, não é fácil adentrar na Ilha Sul. É complicado. — Trevor levanta-se, arrumando os cobertores de peles e travesseiros. — Morfeu é um Rei astuto, todos que entram no Reino precisam de uma carta de legalização que garante a estadia na Capital. Alguns conseguem a permissão como turistas e quem escolhe viver no Reino a legalização é mais complexa.

Na Ilha Lunne as embarcações são bem-vindas. Nossa maior fonte de renda são dos viajantes, mas uma carta de legalização não é uma péssima proposta.

— Quanto tempo para conseguir uma carta de legalização?

— No máximo três luas cheias. É um processo demorado. O conselho Real determina, tem pessoas que estão na fila de espera para conseguir legalização permanente, os turistas ganham liberação de poucas semanas.

Meu coração começou a maratonar no meu peito, quando permito-me pensar em tudo que posso perder a qualquer momento. 
Pensar no meu passado é inevitável, porque no fundo eu tenho medo.  Essa é verdadeira resposta, fico pensando no Tristan porque tenho medo que ele volte e destrua o que estou construindo com o Trevor. 
E tenho medo de não ser o suficiente para o meu companheiro, eu sou explosiva e muito impulsiva. Não tenho disciplina e sempre estou passando por cima de regras, mas agora tudo que quero é seguir em frente sem olhar para trás.

— Trevor; — sussurrei, observando cada detalhe do seu corpo. Eu amo as tatuagens, amo a cor dos seus olhos e principalmente quando estou nos seus braços.  — Não quero te perder.

O macho sorriu sem jeito, olhando para os lados sem entender meu momento afetuoso.

— Breanne…

— Quero que me ajude a cuidar do meu filho, tenho certeza que você será um pai maravilhoso; — todo o sangue do seu nome esvaiu. — Você é minha família, Líder Trevor. E pretendo ficar do seu lado e meu filho também.

Aproximo-me do seu corpo, não resistindo a nós dois. Eu fiquei nas pontas do pés, entrelacei meus braços ao redor do seu pescoço. E sem esperar um segundo grudei nossos lábios. 
Nosso beijo foi devastador. Um misto de amizade e desejo. É o que somos, amantes e amigos. Não podemos mais evitar o que nossos lobos escolheram, não podemos evitar nossa sintonia, nosso respeito e admiração.

— Escolha um nome; — peço, roçando nossos lábios. O macho gemeu, mordiscando meu lábio inferior. — Nosso filho precisa de um nome.

— Breanne, você não entende…

— Eu estou entendendo perfeitamente. E cada dia ao seu lado só me faz perceber que meu lugar é no Clã Halister.

— Você é tão jovem e sonhadora. É linda, leal e uma fêmea admirável. No entanto, ainda é muito cedo para pensar de tal forma.

— Eu não me importo com o tempo, só me importo de vivê-lo com você. E prometo que a partir de hoje vou ser uma fêmea ponderada e pensar antes de agir.

— E seguir minhas regras?

Eu gargalhei, meneando a cabeça.

— Nem todas; — Trevor riu descontraído, o som da sua risada era apaixonante. — Diga um nome, marido.

Ele ficou em silêncio por alguns minutos, apenas admirando meu rosto. Aqueles olhos acinzentados marejados por uma ternura sublime. 

— Devlin, ele vai se chamar Devlin. 

A ESCOLHIDA - Clãs LunaresOnde histórias criam vida. Descubra agora