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Por volta das seis da manhã meu despertador tocou e eu levantei. Ainda tinha que me acostumar a acordar cedo e, pensando bem, talvez não seria tão difícil assim.

Fui diretamente para o banheiro. Após tomar banho escovei os dentes e vesti meu uniforme. A farda era toda branca com alguns detalhes azuis e laranja. Eu odiava usar essa roupa, mas era obrigatório para todos os alunos. Logo depois de me arrumar, desci para preparar o café da manhã. Eu sempre acordava mais cedo que meus pais, então eu fazia o café e arrumava a mesa com pães, bolos e os frios. Assim que terminei de arrumar a mesa e me sentei, meus pais apareceram. Eles trabalhavam juntos no hospital na cidade vizinha e as vezes eu ficava sozinho por alguns dias. Meu pai era médico e minha mãe enfermeira. Foi trabalhando que eles se conheceram, se apaixonaram e hoje estou aqui. O destino fez eles se encontrarem no mesmo plantão. Quando eles iam trabalhar sempre passavam por perto da escola, mas eu gostava de ir caminhando. Apesar de serem trinta minutos andando, eram trinta minutos bem gastos pois eu podia pensar bastante e ia me preparando para o dia na escola.

- Bom dia, meu amor! - Disse minha mãe me dando um beijo no topo da cabeça enquanto se sentava de frente para mim.

- Bom dia filhão. - Disse meu pai enquanto se sentava ao lado de minha mãe.

- Bom dia. - Respondi não muito animado terminando de arrumar meu pão.

- Preparado pro primeiro dia de aula filho? - Perguntou minha mãe enquanto se servia de leite e café.

- É, acho que vai ser normal. O pior que pode acontecer é eu cair em turma diferente do Max e da Ana, ficando sozinho pra sempre. Ou os outros alunos serem chatos mesmo. - Continuei comendo.

- Sabe que não vai viver com seus amigos pra sempre, não sabe? Você deveria conhecer pessoas novas, meu amor. Não tô falando pra deixar eles de lado, muito pelo contrário, eles te fazem bem. Mas acho que deveria fazer novos amigos além deles. - Ela sorriu enquanto me olhava e logo em seguida voltou a atenção para o café.

- É mãe, quem sabe. - Digo terminando de comer.

- Quer uma carona hoje, filho? - Perguntou meu pai.

- Não obrigado, aliás, vou me adiantar. Beijos. - levantei da mesa, peguei minha mochila que já estava arrumada desde a noite anterior, guardei minha chave de casa no bolso da frente da mochila, coloquei nas costas e saí de casa. Eu teria trinta minutos pela frente até chegar ao motivo de meu sofrimento diário.

Depois de trinta e dois minutos caminhando cheguei na escola. Os portões já estavam abertos mas eu havia chegado um pouco cedo de mais, então fui para o lugar onde meus amigos e eu costumávamos sentar. Era um banco grande de concreto perto do jardim na parte de trás do pátio da escola. Alí nunca era movimentado, por isso era o lugar perfeito para ficarmos durante o intervalo. Cerca de 15 minutos depois olhei para o corredor e fiquei animado. Ana estava vindo eufórica em minha direção.

- Yuri! - Exclamou ela enquanto se aproximava de mim. Ana era um pouco mais baixa do que eu, tinha a pele negra e tinha cabelo preto com cachos lindos e bem formados. Seus olhos eram castanho escuros e ela era muito linda. Ela ficava bem em qualquer roupa, consequentemente ficava bonita na farda da escola também.

- Oi Ana! - Disse em um tom alegre e me levantei abrindo os braços. Ela me abraçou bem forte.

Maxuel chegou logo em seguida, veio em nossa direção e nos abraçou. Era um tipo de abraço triplo onde Ana me abraçava e Maxuel abraçava nós dois abraçados, sempre fazíamos isso.

Maxuel era pardo, tinha o cabelo cheio e encaracolado da cor castanho claro. Seus olhos também eram castanho claros e ele era poucos centímetros mais alto do que eu.

- E então meninos, como foi as férias de vocês? - Ana perguntou enquanto estávamos sentados no "nosso" banco esperando dar o horário de irmos para a sala.

- Bom, eu só fiquei em casa mesmo, como sempre. - Falei olhando o chão.

- Eu viajei pra Minas Gerais, casa dos meus parentes que moram na roça, literalmente. Não que eu não goste, eu gosto mas tem muitos insetos por lá. - Disse Maxuel enquanto fazia cara de nojo fazendo Ana e eu rirmos.

- Bom, eu também não fiz muita coisa. Fui em alguns jantares à negócio com meu pai e os sócios dele. Foi entediante, mas pelo menos teve comida. - Todos rimos.

Descobrimos que por sorte, nós três ficamos na mesma sala. Sentamos nos lugares de sempre. Ana na última cadeira do canto direito encostada na parede, Max na frente dela e eu ao lado esquerdo de Ana. Formava uma espécie de triângulo. A sala foi enchendo aos poucos e a professora chegou logo depois. Tinham algumas pessoas novas mas a maioria eu já tinha visto por aí.

Quando o sinal tocou e a professora ia fechar a porta pra começar a aula, um menino chegou com bastante pressa. Ele era um pouco mais alto do que eu. Ele tinha olhos azuis nos quais se destacavam bem por causa do contraste de sua pele quase pálida com o cabelo preto. Ele era muito bonito. Todos estavam olhando para ele. Comecei a suar frio e senti meu coração bater mais rápido quando vi que ele estava vindo em minha direção.

- Oi, tem alguém sentado aqui? - Disse ele enquanto apontava pra cadeira ao meu lado. Não consegui dizer nada, apenas balancei minha cabeça negativamente. E então ele se sentou. Eu fiquei sem reação.

Quando finalmente me acalmei, a professora já havia começado a aula. Era biologia e eu gostava bastante, mas o desespero voltou quando o menino virou para mim e chamou minha atenção com um leve toque no meu ombro esquerdo.

- Oi eu sou Miguel, como se chama?
- Ele estava olhando diretamente nos meus olhos. Aqueles olhos azuis cor do mar eram lindos.

- Y-Yuri. - Disse nervoso e ele estendeu a mão. Não sei como e nem porque, mas eu acabei segurando a mão dele em forma de cumprimento.

- É um prazer te conhecer, Yuri. Acho que vamos nos dar bem. - Ele estava sorrindo para mim e seu sorriso era muito bonito. Fiquei sem reação. Logo em seguida ele se virou pra frente e começou copiar a matéria, enquanto Ana e Max observavam aquilo. Eles estavam tão sem entender quanto eu.

Thinking 'Bout YouOnde histórias criam vida. Descubra agora