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- Vai embora agora, Miguel. - Disse com lágrimas nos olhos enquanto puxei a foto da mão dele.

- Calma Yuri! Por quê? - Ele aparentava estar confuso, mas eu estava sentindo um aperto tão grande no peito que eu não conseguia diferenciar se era raiva, tristeza, angústia ou mágoa. Talvez fosse um pouco de cada.

- Miguel, vai embora agora! - Falei em meio à lágrimas desesperadas. Eu estava claramente surtado. Apenas entreguei a foto pra ele e fui empurrando-o porta a fora.

Assim que Miguel saiu da minha casa e eu tranquei a porta, sentei no sofá com as mãos na cabeça e apenas deixei rolar. Eu não conseguia acreditar que era ele. A pessoa pela qual eu sofria até hoje por ter partido estava bem aqui, de volta. Cheguei perder a fome, dormi resto do dia e acordei quando era aproximadamente meia noite.

Minha cabeça estava explodindo, desci para beber água e voltei para o quarto logo depois. Decidi usar o computador para tentar me distrair um pouco. Mas assim que eu abri o Facebook, haviam dezenas de mensagens de Miguel. Não é possível que ele não tivesse lembrado de ter ido embora, não tivesse se lembrado de mim. Eu sentia um misto de raiva, tristeza, angústia e até mesmo um pouco de felicidade. Mas além de tudo, eu estava confuso. Ele não podia simplesmente voltar assim do nada e ficar tudo bem, agindo normal como se nada tivesse acontecido.

Depois de acordar aquela hora, não consegui mais dormir. Tudo aquilo ficava martelando em minha cabeça e eu não consegui sequer pregar os olhos. Decidi que não ia pra escola no dia seguinte. Não sabia como encarar a realidade, na real, eu não sabia o que fazer.

Fiquei deitado o dia inteiro. O tempo estava um pouco nublado e estava muito frio, o que facilitou eu continuar na cama até meus pais chegarem do plantão. Quando escutei a porta se abrindo desci rapidamente.

- Oi pai, oi mãe. - Cumprimentei os dois com um beijo no rosto.

- Oi meu filho. Ficou bem durante o plantão? - Perguntou meu pai depositando um beijo na minha testa. Minha mãe apenas beijou minha bochecha e foi até a cozinha.

- Sim pai, foi tudo ótimo. - Forcei um sorriso e então fui atrás da minha mãe que estava pegando algo na geladeira. Como eles chegavam bem cansados, geralmente comiam algo já pronto e iam dormir logo em seguida.

- Trouxe o que de bom pra mim?

- Trouxe eu, serve? - Ela sempre dizia isso.

- Serve né. - Sorri e bebi um copo d'água. Logo em seguida voltei para o quarto.

Minhas conversas com meus pais eram normalmente desse jeito. Bem curtas e diretas. Eles sempre estavam cansados de mais e eu não gostava de incomodar. Eu sabia o quanto eles me amavam e eu também amava muito eles. Mas eu preferia não falar muito, pra mim sempre foi complicado ter uma aproximação com pessoas, até mesmo com meus pais. Nós éramos muito unidos, mas falávamos somente o necessário.

Já estava no final do dia e meus amigos não haviam mandado mensagem alguma, ou sequer ligaram. Eu preferi assim, pois não queria ter que falar com ninguém e muito menos explicar a situação. Eu estava arrasado.

Acabei dormindo logo em seguida e quando acordei no dia seguinte já estava me sentindo um pouco mais leve. Me arrumei rapidamente, pois estava um pouco em cima do horário. Tomei um café rápido como de costume e fui para a escola. Quando cheguei lá, já estava quase ultrapassando o limite máximo de tolerância, todos já haviam ido para a sala de aula. Quando entrei, eles estavam sentados quase como sempre. Mas dessa vez Ana estava sentada ao lado de Miguel e não de Max. Eu não quis sentar perto deles, então fui para o outro canto da sala, perto da janela. Me sentei na última cadeira e fixei meu olhar no quadro branco ainda sem palavras escritas.

Thinking 'Bout YouOnde histórias criam vida. Descubra agora