Perseguida

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Lucy

Corria insensantemente por ruas bem menos movimentadas de Nova York perdida em devaneios e absorvida na guitarra de Linkin Park que explodia nos meu fones de ouvido.
Sempre gostei de fazer corridas de madrugada,era uma forma que eu encontrava de lidar com os monstros da minha vida.
E me chamariam de louca se eu dissesse o quanto falava no sentido literal da palavra.
Nunca fui uma criança normal, não conseguia me aproximar demais das pessoas com medo delas enxergarem em mim uma aberração... Ou o contrário, também.
Mas eu tinha minha irmã gêmea, Rachel, e isso certamente me ajudou para que eu não tivesse me suicidado há muito tempo.
Ela também carregava seus demônios internos, era perturbada somente quando dormia com pesadelos terríveis. Presenciei diversas vezes seu berros de horror enquanto tio Nick tentava acalmá-la.
Nossa mãe morreu quando nos deu a luz numa noite de sexta-feira 13, e às vezes colocava em minha cabeça que todo esse tormento acontecia comigo e com Rachel por termos sido maldiçoadas...
Eu sei, é uma ideia irracional e estapafurdia mas já havia me perguntado tantas vezes que as respostas diminuiam a cada ano.
Meu pai... Bem,não tinha muitas lembranças dele sendo que nunca estava disponível para suas filhas.
Depois de sua morte também passamos a morar com seu único irmão mas agora não precisávamos mais de alguém para tomar conta de nós. Ou pelo menos era o que eu dizia para mim mesma.
Tínhamos um pequeno apartamento não muito distante da universidade mas tio Nick fez questão de nos dar um carro de presente.
Levei o ar gelado aos meus pulmões depois de virar uma esquina e segui por uma estrada vazia, nublada e direta;sem mais esquinas.
Me considerava a irmã Mitchell mais bizarra por ver coisas anormais entre as pessoas, criaturas que não deveriam existir e que sem sombra de dúvida só existiam na minha mente.
Rachel e eu fizemos tratamento psicológico desde pequenas e depois passaram para os remédios. Mas não havia medicamento ou terapia que conseguisse nos curar e então resolvemos nos calar antes que o último artifício fosse nos internar. Apesar de achar improvável tio Nick permitir aquilo, ele estava tão assustado quanto qualquer uma de nós.
Rachel aprendeu a não gritar mais enquanto sofria seus pesadelos seu pesadelos e eu me limitei a sorrir e dizer que estava tudo bem quando na verdade só estava piorando.
Parei de supetão quando me deparei com uma criança sentada no meio da rua de costas para mim. Preocupada com o que ela poderia estar fazendo em uma pista deserta em plena 5h20 da manhã, resolvi me aproximar.
A curta distância que já nos separava pude perceber que estava em uma capa de chuva azul e que era um garoto de aparentemente 8 anos de idade.
-Ei, tudo bem com você?- perguntei assim que me agachei em sua frente.
Tinha os cabelos loiros e úmidos grudados na testa e mantinha um olhar vidrado no chão, sem notar a minha presença.
-O que está fazendo aqui sozinho?-mais uma vez fiquei sem reposta- Onde está seus pais?
-Não estou sozinho...-disse ele finalmente erguendo o rosto para me olhar-E eu estava esperando por você-sua voz de repente mudou quando disse aquilo,era grave e ao mesmo tempo aguda.
Seus olhos foram se revirando até se tornarem totalmente brancos e com o susto eu caí de bunda para trás.
Não,não,não... De novo não!
O rosto angelical e inocente agora estava tomado de perverção.
Fui recuando pelo chão a medida que aquela criatura avançava.
Procurei algo no bolso do meu moletom que me defendesse mas nada tinha ali além do meu celular e dos fones que ainda permaneciam nos meus ouvidos-Só que estranhamente a música havia cessado.
-O que quer de mim?!-gritei com medo e pavor na voz.
-Você e sua irmã!!-grunhiu a aberração vindo com tudo na minha direção.
Sem pensar duas vezes peguei uma pedra pontuda no asfalto e enfiei na testa daquela coisa fazendo ele urrar por um tempo. Foi o bastante para me levantar e correr na direção que eu tinha vindo,sem olhar para trás.
Foi a primeira vez que uma daquelas figuras demoníacas falava diretamente comigo, e aparecia exclusivamente para mim.
Ele disse que nos queria... Queria as irmãs Mitchell e isso me arrepiava dos pés a cabeça. A medida que fui me distânciando o rock voltou a estourar nos meus ouvidos encobrindo as batidas fortes do meu coração.
Quando já começava a sair daquela rua sem civilização,me atrevi a olhar para trás e fiquei aliviada e ao mesmo tempo incrédula a não ver nada lá.
Nenhum vestígio que comprovasse que a coisa esteve ali, a alguns minutos de me matar.
Isso me fez pensar e repensar se não fora uma simples pegadinha da minha mente, como em todas as outras vezes que eu fazia.
Suspirei cansada e retornei para casa, dessa vez, caminhando e com o sol espalhando-se pelo horizonte com todo seu explendor.
Aquilo era o que me diferenciava da minha irmã; ela tinha seus tormentos somente em sonhos...
Eu precisava enfrentá-los ao vivo e acores,em qualquer hora e lugar.

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Pra lá... Esse menino era o George de It, a Coisa!
U.u

O Segredo Das Irmãs Mitchells.Onde histórias criam vida. Descubra agora