Os gêmeos de Auschwitz

O pacto

Recepção da enfermaria feminina de Birkenau, 2:45 a.m.

— Por quê você está aqui Kittel?

— Ora! Está me controlando agora Helena? É isso mesmo?

— Não. Claro que não... eu... apenas me surpreendi com sua "visita" aqui. Você não costuma vir a enfermaria feminina.

— Queria estar em um lugar diferente hoje...

— Lugar diferente? Isso aqui é o puro inferno na Terra! Em qualquer canto.

— Eu sei, mas foi Deus quem me enviou para essa moça né? Ou você tiraria o bebê dela.

— O doutor Mengele faria isso. Tenho certeza.

— É o seguinte Helena, preste muita atenção, não quero saber dessa moça em maus lençóis está me ouvindo? Cuide dela. Dê a ela comida e higiene. Quero o bebê dela.

— Por que quer um bebê judeu Kittel?

— Eu tenho uma grande dívida do passado e preciso salvar a vida de alguém para me redimir...

— Não sabia que você tinha segredos Kittel...

— Todos temos. Até você não é mesmo Helena?

Helena abaixou a cabeça e tragou longamente um toco de cigarro.

— Perdeu a língua Helena?

— Nein Kittel.

— Você me ouviu? Está ciente de que deve ajudar a moça?

— O que ganho com isso?

— Mil marcos.*

— Só isso?

— Por mês Helena! Por mês!

— Pouco para arriscar minha vida.

— Mil e quinhentos marcos e não se fala mais nisso.

— Nein.

— Dois mil marcos por mês.

Helena direcionou um olhar frio para Kittel e sorriu levemente, levantando o canto direito da boca e dando mais uma tragada intensa no toco de cigarro.

— Feito.

O Hauptsturmführer Kittel caminhou em círculos na recepção completamente vazia da enfermaria feminina de Birkenau. Helena continuava a fumar incansavelmente seu toco de cigarro, deixando seus cabelos loiros fedendo a tabaco. Kittel, em um súbito movimento, parou de caminhar em círculos e se aproximou da enfermeira, beijando-a com atitude. Ela correspondeu ao beijo, deixando que as mãos do capitão percorressem seu corpo magro.

— Ás vezes, você vai ganhar isso também. — Kittel deu uma piscadela.

*marcos - dinheiro alemão da época.