Capítulo 6

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     Enquanto isso Pablo acordava. Sentindo falta de Sara, ele perguntou para Miguel:

     _Miguel, você sabe onde está Sara?

     _Não senhor, chefe. Não parei o carroção para nada.

     _Pois então pare agora e faça sinal para os outros pararem.

     Pablo desceu e foi até o último carroção perguntando pela esposa. Ninguém a tinha visto, ninguém sabia de nada. Quando voltou, ele ordenou:

     _Desatrele um dos cavalos Miguel, e vá até onde a gente estava acampado. Ela costumava tomar banho à noite; na certa dormiu e nem se deu conta da nossa partida.

     Pablo começou a procurar dentro do carroção e viu que ela tinha levado todos os seus pertences. Aparvalhado, ele ainda procurava por alguma coisa quando Conceição, pedindo licença, veio falar-lhe.

     _Você sabe de alguma coisa Conceição?

     _A única coisa que sei é que não encontrei Paco no carroção dos rapazes; _a cigana respondeu chorando; _eles devem ter fugido juntos. Vim aqui lhe pedir pelo Paco, senhor, porque descobri que ele é filho do nosso Pedro. Pelo amor de Santa Sara senhor, não faça nada contra o meu neto, a última alegria que tive nessa vida. Ele era para mim um pedacinho do meu filho.

     Pablo desabou. Mandando Conceição embora, ele começou a recordar sua vida, suas mulheres, seus filhos, seus netos e o surgimento de Paco, um menino valente como o pai, como ele próprio quando era jovem, que preferiu passar fome a servir de mulher para divertir os homens de sua tribo. Lembrando-se do que o menino falou, Pablo deixou que grossas lágrimas lhe descessem pela face: "Não era o filho do Pedro que ia servir de chacota para aquele bando de chacais"!

     Ao ouvir o tropel do cavalo anunciando a volta de Miguel, Pablo enxugou o rosto e foi recebê-lo.

     _Procurei em toda a extensão do rio e não a encontrei, chefe. Também não vi rastros que pudessem atestar que ela foi sequestrada. Até na mata eu a procurei e não encontrei.

     _Então vamos partir Miguel. Se ela quis ficar, pois que fique; não vou perder mais tempo procurando. Vamos embora e deixemos que ela sofra as consequências de seu ato.

     Ninguém entendeu tal ordem, mas o chefe mandava e eles obedeciam.

     Enquanto isso, na cidade, Paco e Sara conversavam:

    _Precisamos economizar o máximo possível, Sara; temos muito dinheiro, mas aqui as coisas custam caro e temos que pagar tudo: hotel, comida, roupa...

     _É verdade, mas não podemos nos desesperar. Em breve estaremos empregados e aí teremos dinheiro para pagar nossas contas sem precisarmos mexer no que está guardado.

     _Espero que assim seja.

     _Onde você guardou o dinheiro?

     _Espalhei nos bolsos das calças e as coloquei no fundo da mochila.

     _Fez certo. Não podemos esbanjar, pois correremos o risco de sermos roubados. Vamos usar nossas roupas surradas para não dar na vista...

     _Para procurar emprego não, Sara; se nos apresentarmos maltrapilhos, ninguém nos empregará.

     _Tem razão. Mas ainda acho que devemos ter muito cuidado.

     Durante quinze dias eles procuraram emprego. Paco oferecia-se como ourives em cada joalheria que encontrava, mas todos o olhavam desconfiado e logo o dispensavam. Sara se oferecia como costureira, bordadeira, mostrando seus trabalhos em todas as oficinas de costura, mas somente em uma delas obteve atenção. O dono levou-a para os fundos da loja e tentou estupra-la. Ele ficou com o rosto todo arranhado e os testículos amassados.

SANGUE CIGANO.Where stories live. Discover now