Capítulo 5

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     Conceição estava certa. Carmem lhe procurou pedindo um remédio para o estômago. Andava com muita azia, queixou-se.

     Sara foi para o seu carroção e encontrou Pablo deitado.

     _Deitado com esse calor, chefe? Estava esperando tua mulherzinha? Cheguei, vamos brincar...

     _Espere Sara. A brincadeira de ontem na friagem da noite atacou meu reumatismo. Hoje não vai dar...

     _Onde está doendo? Vou curar tua dor com mil beijinhos.

     _Meus joelhos, principalmente; já passei o unguento, agora tenho que esperar fazer efeito.

     _Esperar aqui dentro, nesse calor? Não senhor; vou colocar uma esteira do lado de fora e tu ficas lá quietinho enquanto eu trabalho.

     _Não Sara. Não posso apanhar friagem...

     _Vou tornar a passar o unguento massageando bem, enrolar uma faixa e aí tu não vais apanhar friagem. Quando ficares melhor, nós vamos brincar.

     Quando Sara, já tendo enfaixado um dos joelhos massageava o outro, Carmem chamou:

     _Senhora Sara, está em casa?

     _Estou Carmem, pode entrar.

     _Vim trazer o remédio para o estômago que o chefe pediu. O que está fazendo?

     _Massageando os joelhos dele que estão com reumatismo.

     _Que unguento está usando?

     _Este aqui; é o que ele costuma usar. O que tem no remédio que tu lhe preparastes e como devo dar-lhe?

     _Tem espinheira santa, casca de cajueiro, hortelã, passiflora e capim de cheiro. Coloquei ervas calmantes por que às vezes o que gera mal estar no estômago é a ansiedade, o nervosismo. A senhora deve usar uma colher de sopa para uma xícara de água e servir-lhe bem docinho. Ele deve tomar esse chá à noite, antes de se deitar.

     _Obrigado, Carmem. Não vou esquecer, pode ficar tranquila.

     Quando Carmem saiu, fingindo-se ofendida Sara perguntou:

     _Por que não pediu o remédio para mim, que sou sua esposa?

     _Porque Carmem entende melhor de ervas.

     _Pensei que não confiasse em mim...

    _Confio, meu amor; mas ainda tens muito que aprender.

     Toda noite Sara servia o chá ao marido e o cansava até que ele não aguentasse mais. Depois o esperava adormecer e saía de mansinho; ia encontrar-se com Paco, seu verdadeiro amor.

     Depois de entregarem-se com ardor, com a amada aconchegada em seus braços Paco falava sobre seus planos: Guardariam o máximo que pudessem e quando acampassem perto de uma grande cidade, fugiriam e iriam viver por conta própria. Enquanto isso tomariam o máximo cuidado para que ninguém desconfiasse.

     Antes do alvorecer Sara voltava para o carroção, deitava-se ao lado do marido e dormia profundamente. Era preciso que ele a acordasse para ela servir-lhe o café da manhã.

     Viveram assim por pouco mais de um ano. Sara exigia muito do marido, que não conseguia satisfazer a jovem esposa sem tomar o remédio que o mantinha ativo, e como o estômago doía ele tomava o chá que o aliviava. Tomava o chá e dormia como um anjo enquanto os dois amantes, cada vez mais apaixonados, faziam seus planos.

SANGUE CIGANO.Where stories live. Discover now