Conceição estava certa. Carmem lhe procurou pedindo um remédio para o estômago. Andava com muita azia, queixou-se.
Sara foi para o seu carroção e encontrou Pablo deitado.
_Deitado com esse calor, chefe? Estava esperando tua mulherzinha? Cheguei, vamos brincar...
_Espere Sara. A brincadeira de ontem na friagem da noite atacou meu reumatismo. Hoje não vai dar...
_Onde está doendo? Vou curar tua dor com mil beijinhos.
_Meus joelhos, principalmente; já passei o unguento, agora tenho que esperar fazer efeito.
_Esperar aqui dentro, nesse calor? Não senhor; vou colocar uma esteira do lado de fora e tu ficas lá quietinho enquanto eu trabalho.
_Não Sara. Não posso apanhar friagem...
_Vou tornar a passar o unguento massageando bem, enrolar uma faixa e aí tu não vais apanhar friagem. Quando ficares melhor, nós vamos brincar.
Quando Sara, já tendo enfaixado um dos joelhos massageava o outro, Carmem chamou:
_Senhora Sara, está em casa?
_Estou Carmem, pode entrar.
_Vim trazer o remédio para o estômago que o chefe pediu. O que está fazendo?
_Massageando os joelhos dele que estão com reumatismo.
_Que unguento está usando?
_Este aqui; é o que ele costuma usar. O que tem no remédio que tu lhe preparastes e como devo dar-lhe?
_Tem espinheira santa, casca de cajueiro, hortelã, passiflora e capim de cheiro. Coloquei ervas calmantes por que às vezes o que gera mal estar no estômago é a ansiedade, o nervosismo. A senhora deve usar uma colher de sopa para uma xícara de água e servir-lhe bem docinho. Ele deve tomar esse chá à noite, antes de se deitar.
_Obrigado, Carmem. Não vou esquecer, pode ficar tranquila.
Quando Carmem saiu, fingindo-se ofendida Sara perguntou:
_Por que não pediu o remédio para mim, que sou sua esposa?
_Porque Carmem entende melhor de ervas.
_Pensei que não confiasse em mim...
_Confio, meu amor; mas ainda tens muito que aprender.
Toda noite Sara servia o chá ao marido e o cansava até que ele não aguentasse mais. Depois o esperava adormecer e saía de mansinho; ia encontrar-se com Paco, seu verdadeiro amor.
Depois de entregarem-se com ardor, com a amada aconchegada em seus braços Paco falava sobre seus planos: Guardariam o máximo que pudessem e quando acampassem perto de uma grande cidade, fugiriam e iriam viver por conta própria. Enquanto isso tomariam o máximo cuidado para que ninguém desconfiasse.
Antes do alvorecer Sara voltava para o carroção, deitava-se ao lado do marido e dormia profundamente. Era preciso que ele a acordasse para ela servir-lhe o café da manhã.
Viveram assim por pouco mais de um ano. Sara exigia muito do marido, que não conseguia satisfazer a jovem esposa sem tomar o remédio que o mantinha ativo, e como o estômago doía ele tomava o chá que o aliviava. Tomava o chá e dormia como um anjo enquanto os dois amantes, cada vez mais apaixonados, faziam seus planos.
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SANGUE CIGANO.
Historia CortaSANGUE CIGANO: Em uma tribo cigana, órfã de mãe e abandonada pelo pai, Sara foi criada pelas matronas. Ainda menina ela conquistou o coração de Pablo, o velho chefe, e quando completou doze anos ele a raptou e a tomou para esposa, porém Paco, órfão...