Introdução

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DEDICO PARA TODOS AQUELES QUE ESTÃO COMPLETAMENTE SOZINHOS

Nada grita mais alto do que o som do silêncio e Kylo Ren, agora, compreendia mais do que nunca o peso da mais absoluta solidão. Continuava sentado estaticamente contemplando o vazio da prisão de vidro na qual estava encarcerado há dias, ao seu redor, nada podia ser visto além da sala branca e as paredes de vidro enquanto os poucos móveis pareciam dispersos com a intenção única de enlouquece-lo pelo tédio, pelo branco e pelo vazio que insistia em prevalecer. A vitória milagrosa da Resistência teria sido impossível sem a traição de Hux e a ascensão dos Cavaleiros de Ren ao poder na Primeira Ordem, bem como seus atos finais na batalha se voltando contra aqueles que liderava e decidindo se aliar a sucateira de Jakku tinha decretado o último suspiro daquilo que quatro anos antes era a poderosa Primeira Ordem.

O isolamento ao qual estava sendo submetido era uma estratégia da Resistência, afinal ele deveria ser julgado pelos crimes que cometera ou receberia algum tipo de perdão que o condenaria ao exílio em outra galáxia. Talvez nenhuma das opções o incomodasse mais do que o fato de não ter morrido durante a batalha, porém Rey o protegeu de um golpe mortal, a garota caiu em seus braços inconsciente porém viva e então já não soube mais o que esperar a respeito dela. Aquele ato de bondade era talvez a maior manifestação da luz que havia testemunhado de modo verdadeiramente altruísta, ela decidira que se entrasse na frente da espada laser sobreviveria, mas se Kylo Ren recebesse aquele mesmo golpe pelas costas no ângulo em que se posicionava acabaria morto. A sucateira decidira que era melhor um ferimento grave a uma morte e defendeu Kylo Ren.

O cavaleiro sabia porque Rey fizera um gesto tão altruísta: desde que se conectaram pela força quatro anos antes já não estavam mais sozinhos e aquele laço inquebrável que por tantos anos os une e os persegue tornou praticamente impossível conceber a morte fácil um do outro. Rey fez por ele aquilo que ela sabia que Kylo Ren também faria por ela, ainda que o cavaleiro provavelmente, encontrasse um modo menos prejudicial de ajudar.

Foi então, que pela primeira vez em dias, um som diferente ecoou pelo aposento.

Finn estava diante da parede de vidro, ele tinha os braços para trás e uma postura claramente desafiadora, porém Kylo Ren apenas dirigiu o olhar para ele com indiferença.

-Rey foi capturada - Começou Finn com a voz claramente abalada - Ela estava praticamente recuperada, porém ainda sedada quando a capturaram.

Kylo Ren estava claramente interessado, afinal havia um mistério curioso em Rey ser sequestrada em tempos nos quais a Primeira Ordem já havia sido esmagada. De certa forma o desaparecimento dela era um sinal de que as ameaças na galáxia são muitas e que uma revolução não pode ser vencida por tempo o suficiente.

-Conseguimos a localização dela até o sistema mais remoto da galáxia, mas não sabemos quem a capturou, quais são os motivos ou intenções - Finn estava claramente muito zangado por ter de dirigir a palavra a Kylo Ren porém prosseguiu - Nenhum dos outros adeptos a força consegue encontra-la então desejamos que use a conexão que possui com ela e a encontre.

-Por que eu faria isso? - Questionou Kylo Ren compreendendo que de certa forma já havia se entregado, o fato de não ter usado a força para se libertar daquela prisão era a prova - Estou cansado disso, estou muito cansado de tudo isso.

-Porque ela salvou sua vida - Começou Finn possesso por ter de responder essa questão - E porque se realizar sua missão ganhará indulgencia e poderá viver em liberdade no exílio.

Kylo Ren se colocou de pé vagarosamente. A derrota naquela maldita guerra havia sido fruto de sua própria vaidade e de sua própria violência enquanto via dois Cavaleiros de Ren em situação subordinada ascenderem como líderes não pôde evitar a tentação de trai-los, assim como eles haviam traído o próprio mestre. Agora estava de volta para General Leia e para a tentação da luz enquanto percebia que o preço da liberdade nunca é alto demais. Faria qualquer coisa para não permanecer como uma marionete nas mãos da Resistência ou da Primeira Ordem.

-Eu realizo a missão sozinho - Decretou Kylo Ren sabendo que teria de abrir a mente para a conexão com Rey, ele havia fechado essa porta desde o ato de altruísmo da garota.

Kylo Ren sabia que em um universo de bondade e crueldade, chegada e adeus, passado e futuro, luz e trevas há sempre algo no meio. Perguntou-se se agora tentado pela luz, destruído pela escuridão e afinal esquecido pelo silêncio havia mais e então soube imediatamente que sim. Para todos os opostos no universo, para toda palavra escrita com o sangue de um coração, havia também o meio e no meio de opostos talvez não houvesse, afinal, solidão.

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Gostaram? Continuo? Por favor motivem a história a continuar caso estejam gostando.

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