Escrito com Sangue e Cinzas

Lua Vermelha

Haverá tanto que eu terei que deixar que se vá
Você está desaparecendo o tempo todo
Mas eu ainda te vejo na luz
Para você, as sombras lutam
Eu tenho que parar de viajar no tempo
Você está sempre na minha mente
Todos nós precisamos de alguém olhando por nós
Sejam os falcões, as nuvens ou a cruz
E então o mar varreu tudo e nos deixou sem palavras

(Tradução livre da música Wish that you were here - Florence and the Machine)

Kylo Ren compreendeu imediatamente a atitude da garota, os sentimentos dela eram claros através da ligação que partilhavam: solidão, medo, terror e violência. Haviam tirado algo dela que não podia ser reencontrado ou propriamente definido, talvez fosse algo como o espírito ou a alma. Mas algo faltava, talvez a escuridão tivesse ido ao encontro cedo demais, cruel demais para ser defensável. O Cavaleiro apenas assentiu e engoliu em seco tentando transmitir alguma segurança, não a deixaria sozinha. Já tinham se separado tantas vezes desde que tudo começara, a história que tinham era triste. Simplesmente triste. Definida pelos infinitos encontros, reencontros e buscas infinitas por respostas que jamais foram oferecidas.

Duas almas solitárias buscando encontrar-se através um do outro.

Exatamente por isso Kylo Ren foi gentil oferecendo os medicamentos e enquanto os pequenos aparelhos cuidavam dos ferimentos de Rey ele não se afastou. A guerra havia acabado e ele em breve seria condenado ao exílio, a jedi parecia já ter cumprido parte de sua missão com seus aprendizes agora. O que havia restado para ambos além da solidão? O que tinham, agora, que eram ambos órfãos que tinham perdido pedaços de si mesmos pelo caminho?

Quando as feridas finalmente foram costuradas e tudo parecia bem a garota colocou novamente o roupão que utilizava e Kylo Ren se aproximou da cama de casal. Rey pulou em seus braços, estavam abraçados agora, mas a jovem mulher chorava silenciosamente como se o sufocamento pelo seu desgosto pudesse ser desfeito pelo sal de suas lágrimas. Claramente, ela estava traumatizada pelos dias sem a luz do sol, da lua e da vida, mas Kylo conhecia a mente da garota e sabia que ela já tinha passado por muito sofrimento. Talvez aquele sofrimento em especial tenha sido a convergência de todos os outros acumulados em sua vida.

Apenas no momento em que a última lágrima caiu dos olhos de Rey se afastaram. A garota deitou de bruços cuidadosamente na cama e Ren assentiu se afastando.

-Fique, eu não quero mais a  solidão, não mais - Pediu Rey com um sussurro ganhando um olhar de compreensão em troca.

Talvez Kylo Ren tenha sido silencioso e cauteloso demais se despindo da cintura para cima e então se deitando de barriga para cima na cama. Eles não se tocaram, mas se fitaram, um na posição contrária do outro e incapazes de fazer a pequena - porém infinita - distância entre eles diminuir. Rey tinha os olhos no rosto dele, mas seu olhar percorreu a cicatriz, o pescoço e o peitoral em alguma tentativa de fechar os olhos. Temia os pesadelos.

-Não tenha medo, estarei aqui - Assegurou Kylo Ren se virando de lado de modo que pudesse fitar a garota com maior facilidade. - Posso entrar em sua mente?

Rey hesitou, haviam sido pretensos inimigos por tanto tempo, era estranho estarem em uma situação na qual a guerra, entre eles, era inexistente. A garota finalmente concordou silenciosamente e Kylo Ren ergueu uma de suas mãos e colocou nos cabelos de Rey, percorreu vagarosamente os cabelos dela até pousar em um ponto confortável e de apoio.

-Feche os olhos - Pediu Kylo Ren em um sussurro, não compreendia necessariamente porque estava sendo tão gentil com Rey.

A garota fechou os olhos e o Cavaleiro de Ren também. Estavam em um outro lugar em suas mentes, naquela paisagem desconhecida para Rey haviam montanhas, a natureza selvagem e um campo branco de flores que ela desconhecia. O local transmitia a ela paz e Kylo Ren projetava a imagem de ambos naquele lugar, Rey caminhava em meio as flores enquanto o Cavaleiro observava a distancia no local verde mais distante.