Maré Vermelha

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"Não, nada de nada...
Não, não me arrependo de nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal – tudo isso tanto me faz!
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!
Com minhas recordações
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!
Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.
Não, nada de nada...
Não, não me arrependo de nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, tudo isso tanto me faz!
Pois minha vida, pois minhas alegrias
Hoje, tudo isso começa contigo!"

(Tradução Livre de Non, Je ne Regrette Rien - Édith Piaf)


Kylo Ren era um excelente piloto e ainda assim adentrar naquele planeta fora difícil demais para que se sentisse tranquilo. Talvez fosse a aparência do planeta de nome  Anagonia localizado nos extremos da galáxia que o confrontasse tão negativamente: dunas de areia vermelha em um extremo contrastando com a fina camada branca de neve cobrindo montes e colinas verdes ou avermelhados. O céu era igualmente vermelho, como uma ferida tentando ser estancada numa imensidão de sangue já derramado. A rápida varredura de Kylo Ren pelo território o fizera descobrir que o pequeno e esquecido planeta nos limites da galáxia era em grande medida desabitado já que o território - relativamente gigantesco- era cercado por um mar vermelho e o pedaço de terra que condensava o arquipélago possuía um clima difícil de definir, em um extremo neve e já no outro deserto enquanto que no meio talvez se concentrasse vida.

Encontrar uma entrada segura no campo de força protegendo o planeta apenas fora possível pelo apoio do Mestre Decodificador que aguardava na Millenium Falcon e da Nova República. As horas de interrogatório semanas antes para que a missão e o consecutivo perdão fosse oferecido era distante agora, mas ainda assim sabia que o retorno da garota era ansiado por muitos, ela foi uma heroína para a galáxia e agora novas forças pareciam conspirar para derrota-la.

Os quarenta e cinco dias em que Rey permanecia em cárcere pareciam agora muito mais extensos, porque quando o Cavaleiro se concentrava na garota podia perceber de imediato a dor, a exaustão e um desespero solitário crescente dentro dela. Ele estava preso nesses pensamentos quando pousou a nave em uma clareira, já havia notado que as vilas estariam ao leste enquanto que uma base militar se concentrava a oeste. Kylo Ren não gostava de Anagonia, não apenas porque era um planeta completamente fora do radar e das expectativas tanto da velha República, quanto do Império quanto também da Resistência e da Primeira Ordem. Era um recanto esquecido na galáxia e pelas primeiras e longínquas impressões que tivera se tratava de um local extremamente primitivo.

Quando a nave finalmente pousou já era noite e o Cavaleiro respirou profundamente de exaustão caminhando até o próprio aposento na nave e retirando as luvas e os trajes negros. Agora suas roupas negras eram sutilmente diferentes daquelas usadas durante o tempo em que estivera na extinta Primeira Ordem. Quando finalmente encontrava-se sem suas botas e usando apenas calças pôde se sentar confortavelmente na cama e encarrou o próprio pulso onde um chip de localização havia sido implantado. A Nova República havia inserido o chip de forma hábil o bastante para que não pudesse ser retirado sem que um sinal de alerta fosse enviado e Kylo sangrasse até a morte, ou seja, de fato era obrigado a cumprir a missão e salvar a sucateira.

De certa forma não se incomodava com esse fato, Rey havia salvado sua vida antes e ambos haviam lutado em zonas cinzas desde o dia em que se conheceram em uma tentativa cega de convencer um ao outro a se tornar algo que não poderiam ser. Agora, tudo isso estava no passado e parecia já tão distante; o novo mundo que se construía já não precisava mais de jedi, Sith ou de extremos. Era um mundo condescendente, talvez a galáxia se tornasse terrivelmente chata porém seriam novos tempos de paz.

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