Capítulo 24

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"Eu não consigo entender, mas aceito a dor.

Me dê a verdade, eu e meu coração vamos em frente."

Demi Lovato – Stone Cold

Eu e Chris estávamos arrumando a casa, fazendo com a que a bagunça do dia anterior parecesse pelo menos um pouco menor. Gabriel havia dormido comigo, mas sua noite fora agitada e eu quase não consegui descansar. Vi que seu telefone estava sobre a mesa de centro na sala, e já havia tocado um aviso sonoro duas vezes.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que mexe no que não é meu, principalmente em relação coisas íntimas de namorados e afins, mas devido aos últimos acontecimentos, eu sentia que a resposta para as atitudes de Gabe estavam ali diante dos meus olhos.
Como resistir?

Acho que somos todos naturalmente curiosos, porém quando a pessoa que está ao seu lado se recusa a dividir suas aflições com você pairam duas hipóteses: a primeira é que você seja o motivo da angústia, e a segunda é que você não possa saber sobre o assunto. Em qualquer uma das opções é doloroso e cruel ficar imaginando que ele não confia em você para ajudá-lo a resolver.

Eu sabia das restrições da mãe de Gabriel ao nosso relacionamento, sabia dos problemas que ele estava enfrentando com uma Alice se descobrindo na vida adulta. Mas meu instinto dizia que nenhuma dessas razões era o que faziam Gabe agir da forma estranha da noite passada.

Chris me fitou encarando o aparelho sobre a mesa. Ele parou do meu lado e ficou observando a luz azul piscar intermitente como se estivéssemos descobrindo uma forma de desarmar uma bomba. "Pense positivamente, Alex. Pode ser somente alguma coisa muito difícil no trabalho e ele realmente estar muito estressado. Pode não ser tão ruim quanto você está imaginando.", ele disse me apoiando, pois eu já havia dividido com ele a minha preocupação. Eu respirei fundo. Um assunto de trabalho faria Gabriel chorar? Eu duvidava.

Peguei o telefone e abri as mensagens. No mesmo momento que vi quem havia mandado as duas últimas, foi como se um choque me atingisse, me fazendo incapaz de respirar. Li as mensagens e me virei para Chris, somente para encontrar Gabriel vindo para a sala usando somente a calça social do dia anterior. "Tem duas mensagens de Lorelay pra você.", eu disse vendo sua expressão se anuviar instantaneamente. "A primeira diz 'Você já contou a ela?', e a segunda diz 'Te vejo 16h?'. O que isso significa, Gabe?".

Gabriel permaneceu mudo e esfregou as mãos no rosto. Ele sempre fazia isso quando estava nervoso, como se tentasse desfazer com as mãos a tensão que se acumulava nas linhas de sua testa. "O que isso significa?", eu gritei jogando o telefone dele no chão, próximo de seus pés. Não consigo dizer em quantas partes o aparelho se quebrou. Chris permanecia ali parado, olhando a cena, mas foi se aproximando de mim bem devagar ao ver meu nervosismo.

"Eu não queria que você soubesse assim.", ele começou a falar após pensar alguns segundos, "Eu sinto muito, muito mesmo, Vi. Lorelay está grávida.". Eu demorei um tempo para assimilar aquela frase.

Eu sei, não é de hoje, como são feitos os bebês. Inclusive eu sempre me cuidei para não fazer um. Porém para isso ser tão relevante para Gabriel significava que ele era o pai. Se ele era o pai do bebê, então ele havia mentido pra mim sobre não ter dormido com ela, só me restava saber quando.

E essa foi a minha próxima pergunta. "Grávida de quanto tempo?". Ele apertou os lábios. Eu vi seu olhar de culpa crescer e ele ainda pensou, como se decidisse me contar ou não. Minha voz chamou o nome dele num suspiro e ele não teve outra alternativa senão me encarar. "Quase 3 meses.".

Eu fiz rapidamente as contas na minha cabeça. Isso daria fevereiro ou março. Isso dava exatamente nas viagens que ele fez com ela no início do ano. E a conta fechava justamente nas minhas principais desconfianças.

Meus ossos doíam, se é possível descrever, eu diria que fui quebrada em pedaços iguais ao telefone dele naquele momento. Nem quando perdi meu pai a dor que eu senti chegou a esmagar meu corpo daquela forma, se tornando até física. Eu parti pra cima dele, gritando, xingando e empurrando. Chris me segurou pelas costas e Gabriel me segurou os braços, pedindo que eu o escutasse.

Eu não via e nem ouvia nada com clareza no meio do meu surto, eu só gritava pra ele sumir, e Chris me jogou sobre o sofá enquanto eu chacoalhava as pernas no ar, tentando acertar algum chute em Gabe.

Ele tentou chegar perto de mim, mas Chris o enfrentou "Não, não! Fique longe dela.", meu amigo gritava empurrando Gabriel. Chris era uma das pessoas mais pacíficas que eu conheço, mas se transformou completamente para me defender.
Gabriel pegou suas coisas e foi embora enquanto eu chorava deitada no sofá.

VioletOnde histórias criam vida. Descubra agora