Fronteiras do Amor

Capítulo 5 - O beijo

Soraia segurou a respiração. Sentiu como se seu coração tivesse parado de bater. Sentiu-se morta.

Fernando não retrucou e Anita não insistiu no assunto. Soraia, então, soltou a respiração e entrou na cozinha, como se não tivesse ouvido absolutamente nada.

— Aí está você! — exclamou Fernando. — Estávamos falando de você agora mesmo. Meus pais adoraram você.

Ricardo e Anita confirmaram com a cabeça e sorriram forçosamente. Soraia voltou a sentar-se na cadeira.

Para piorar a situação, Paola apareceu, minutos depois. Seus olhos encontraram os de Soraia, o que fez a garota abaixar a cabeça.

— Sente-se para jantar. — convidou Ricardo, aliviado de ver a nora.

— Obrigada. — agradeceu Paola, sentando-se ao lado de Fernando.

Paola fez questão de dar um beijo no rosto de Fernando, e Soraia lançou um olhar desafiador para a rival. Anita foi a única que notou a raiva da garota.

— Está tudo pronto para o casamento. — anunciou Ricardo a Paola. — Vamos montar o templo no jardim e chamar alguns convidados. Será um presente maravilhoso para vocês.

— Eu já encomendei o vestido, minha amiga me indicou uma estilista que faz belos vestidos. Ah! — Paola virou-se para Fernando. — Isso me lembra que você ainda não foi buscar o seu terno, meu amor.

— É, eu me esqueci... — disse o rapaz. — Do que estávamos falando mesmo? — perguntou, lançando um olhar significativo aos pais, que imediatamente procuraram puxar assunto com Paola.

Fernando fez sinal para Soraia levantar-se da cadeira e segui-lo. Ela o aguardou sair da cozinha e levantou-se, saindo discretamente do local. Encontrou-o na porta que levava ao jardim.

— Que sufoco ficar perto da Paola! — exclamou ele. — Não vou me casar com ela, não mesmo.

— Mas é o que seus pais querem! — disse Soraia. — Você não pode jogar tudo para trás e seguir em frente, não estaria agindo certo!

— Perto da Paola eu não me sinto à vontade. — explicou. — Mesmo porque, sabendo que ela ameaçou você, é o que me deixa mais decidido a acabar com o noivado.

— Eu não sei se é certo... — Soraia disse, expressando um pouco de sua culpa por não ter seguido o conselho de Paola. — Não sei se é certo você ficar me protegendo e ficar contra ela. Acho que nós devemos nos afastar, Fernando, seus pais poderiam achar ruim a minha presença aqui...

— Não, imagina, eles adoraram você!

— Não adianta fingir. Sua mãe disse que não acha certo você deixar a Paola e ficar comigo. E se ela, o seu pai ou até mesmo a Paola descobrirem que eu sou católica, vão acabar com a nossa amizade por mal. Eu sei que você é judeu.

— Você ouviu...

— Eu não queria, mas acabei ouvindo.

Fernando balançou a cabeça, completamente assustado. Depois, olhando para Soraia, continuou:

— Aquilo que você ouviu não é verdade. Meu pais estão entretidos na lábia daquela mulher, acham que dependem dela e somente dela para eu ser feliz. O sonho deles é me casar com uma judia, mas não sabem que eu tenho a minha própria vida, tenho total liberdade para escolher com quem eu me caso. A verdade é que eles me tratam como uma criança, uma criança que não cresceu, que parou no tempo. Mas... — suspirou profundamente. — Se você quer se distanciar de mim, eu agradeceria se pelo menos não voltasse a me encontrar, não me procurasse nunca mais. Você é quem decide.