12

71 23 3
                                    

Três meses depois do primeiro beijo & cinco meses antes da expulsão.

Cada dia que passava eu me afundava mais em preocupação. Estava me tornando uma pessoa paranoica e mais insegura do que já era. Todas as vezes que passava pela minha mãe o medo me tomava e eu acreditava, com todas as minhas forças, que no meu rosto estava escrito em letras garrafais “eu beijo meninas”. Ou melhor, menina. Singular.

Minha família sempre foi religiosa. Quando era criança lembro que sempre íamos à igreja. Mas o tempo foi passando e tanto minha mãe como meu pai se tornaram profissionais de renome em suas respectivas áreas e no fim não tinha tanto tempo livre para igreja. Quando eles começaram a não ir assiduamente, nos mandavam ir do mesmo jeito. Eu e Maria nunca tivemos tanta inclinação religiosa. Com o Bruno era diferente. Ele sempre gostava de ir à igreja, e vai até hoje. Mesmo sozinho.

Maria diz que acredita em Deus, mas um diferente do que nos ensinaram. Ela nunca me explicou como esse “Deus” seria.

Eu nunca soube se acreditava ou não nesse “algo maior” que rege tudo e todos. Eu ficava em cima do muro. Lembro que quando eu era pequena e sentia medo, ou algo do tipo, costumava rezar, pedindo para “Deus” me proteger. O hábito foi morrendo à medida que cresci.

Bruno leu a bíblia por puro interesse. Ele segue as doutrinas e tudo mais.

Um dos motivos que mais me causa medo e apreensão é esse. Perder meu irmão por ele não concordar, não achar certo, quem eu sou.

Por isso eu só contei a Maria. Eu tinha minhas dúvidas em relação ao que aconteceria e ainda sim, eu sabia que ela não viraria as costas para mim. Não por causa disso. Eu não sentia essa firmeza em relação a Bruno, entretanto. Ele ia à igreja todo santo domingo.

Minha mãe abre a porta e dá duas batidas enquanto coloca o corpo para dentro do meu quarto.

Ninguém nunca disse a ela que era o contrário?

– Lua, parece que não te vejo há dias. – Minha mãe falou sentando na cama. Eu tinha chegado da escola cinco minutos atrás. E estava pretendendo tomar banho antes de sair, mas com minha mãe me acompanhando com o olhar cada canto que eu ia, só queria sair logo daqui.

– Como você está filha?

Fui ao guarda-roupa e peguei uma camisa de manga. Lua cheia significava frio para mim. Independente da estação do ano.

Respirei fundo. Tentando não deixar a desconfiança subir a superfície. Não me lembro da última vez que minha mãe perguntou como eu estava.

– Eu estou bem, mãe. Só estou com pressa.

– Lua, senta aqui comigo um instante.

Virei em sua direção e Paula Hernandes estava com aquele olhar irredutível. Era melhor eu fazer o que ela queria, senão seria pior.

– Está acontecendo algo, meu amor? Você anda tão diferente.

Minha mãe estendeu a mão e pegou um cacho que havia se soltado do rabo de cavalo, colocando atrás da minha orelha. No mesmo instante me lembro de Leah e meu corpo enrijece.

– Eu estou bem mãe, de verdade. Por que pergunta?

Ela me observava atentamente. Às vezes suspeito que Dra. Paula tem o dom de ler mentes e nunca disse nada a ninguém. Quando havia algo de errado ela sabia, era incrível.

– Você fica linda de qualquer jeito, Lua. Mas eu realmente acho que você deveria deixar seu cabelo liso. Às vezes você parece uma maluca. – Ela falou trocando de assunto.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora