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Uma semana antes da expulsão.

Eu estava à beira de uma crise nervosa.

Decidi apresentar Leah a todos como uma nova amiga. Ela era uma pessoa tão maravilhosa que todos irão se apaixonar por ela instantaneamente e talvez a questão da minha sexualidade nem fosse um problema tão enorme assim. Eu estava delirando claro, e sendo extremamente positiva. Os últimos dias eu tinha sonhado com meus pais falando "se é para se apaixonar por uma garota, filha, então ficamos felizes que tenha sido uma garota como Leah." Eu estava apaixonada, não meus pais. Tive que lembrar-me disso assim que acordei, pois a aquela ilusão já estava arrastando-se pela minha pele e criando uma pseudo felicidade.

Tentava continuar positiva, entretanto.

Passado alguns minutos a campainha tocou. Meu coração que já se encontrava acelerado passou a pular de forma preocupante. Eu sentia o sangue correr pelo corpo, eu sentia a carótida pulsar e tenho certeza que qualquer pessoa que olhasse bem para o meu pescoço também conseguiria ver.

Eu abri a porta e uma Leah muito bem arrumada me encarava de volta. Ela usava seu all star branco com uma calça capri azul marinho e uma blusa cinza que cabia duas dela dentro. As mangas estavam dobradas e suas mãos estavam enfiadas dentro do seu bolso. Ela estava linda.

Tão linda.

Avancei um passo e a abracei apertado sentindo seu cheiro. Seus lábios brincaram com minha orelha e eu soltei um sorriso nervoso. Quando a larguei aproveitei para dá mais uma boa olhada na minha namorada. De baixo para cima, lentamente.

Maria se aproximou por trás de mim e colocou seu braço sobre meus ombros.

- Leah, você está simplesmente incrível! E você maninha, - disse minha irmã aproximando sua boca para mais perto do meu ouvido - pare de babar tanto. A mãe já está se perguntando o porquê de toda essa demora.

Ouvindo isso eu puxei Leah pela mão para dentro de casa fechando a porta logo em seguida. Ainda com a mão entrelaçada nas de Leah eu a levei até a cozinha, onde meus pais conversavam com Bruno.

- Vocês tem que entender que a bíblia foi escrita há vários anos atrás. Era outra cultura, realidade e principalmente referências. O que tem escrito aqui - ele falou apontando para bíblia - deve sempre ser lido levando em consideração o seu tempo.

Revirando os olhos pigarreei alto o suficiente para atrair atenção de todos.

- Posso saber qual o debate da vez? - perguntei, nervosa, pois minha mãe tinha visto Leah e agora a analisava cautelosamente.

- Tatuagens. - falou Bruno, seguro de si. - Eu irei fazer uma.

Em uníssono meus pais falaram "NÃO".

Todos riram depois disso, até mesmo Leah.

- Hem, hem - cocei a garganta preparando para falar, tentando acalmar o nervosismo. - Mãe. Pai. Está é a Leah.

Meu pai abriu um sorriso simpático e ofereceu a mão para um aperto.

- Bem-vinda, Leah. Você deve saber meu nome, não?

Leah apertou a mão do meu pai firme sem demonstrar que estava nervosa. Na verdade estava começando a imaginar que talvez ela não estivesse mesmo, ou ela era muito boa em mascarar.

- Bom, se seu nome for "pai" então eu sei. Caso não...

Meu pai deu uma alta gargalhada e falou "boa, boa".

- Me chamo Henrique, filha. - completou, ainda sorrindo.

Minha mãe continuava sua análise, mas passado algum tempo a cumprimentou com educação e nada mais, além disso.

- Bom, vamos comer. Estou morta de fome. - minha mãe falou enquanto virava as costas e começava a pôr a mesa. Leah foi ajudá-la e recebeu um "não precisa" nada simpático. Eu estava começando a passar mal.

Apesar da indelicadeza da minha mãe, Leah insistiu e acabou fazendo com que ela desse o braço a torcer. Enquanto as duas arrumavam a mesa Leah tentava puxar assunto atrás de assunto com minha mãe e com pouco tempo as duas se envolveram na conversa.

Eu não escutava nada. Estava nervosa demais mais conseguir assimilar qualquer coisa. Eu só sentia meu corpo vibrar e escutava o barulho do meu coração bater, como se isso fosse humanamente possível.

- Mana!

Eu olhei para Maria que tinha magicamente aparecido do meu lado e pisquei várias vezes tentando voltar ao meu estado normal.

- Ela realmente está empenhada em impressionar a nossa mãe.

Bruno se juntou a nós. Percebi que ele não conseguia tirar os olhos da Leah. Eu o encarava, com um sorrisinho no rosto.

- Maninha, de onde você tirou essa menina? Será que ela aceitaria me dar uns beijinhos?

Maria começou a sorrir na mesma hora que eu, sorrimos tanto que Bruno finalmente tirou o olhar da minha namorada e nos encarou com a testa enrugada, claro que ele não entenderia porque tudo isto era tão hilário.

O almoço ocorreu perfeitamente bem. Contei como tinha conhecido Leah no parque e tudo que se seguiu depois disso. Minha mãe agora estava encantada por ela. Tinham até conversado em francês, depois de Leah ter comentado que morou na frança por alguns anos. Meu pai continuava achando Leah muitíssima engraçada, ele sempre rias das suas brincadeiras e depois de um tempo eu percebi que de fato ele estava achando engraçado e não por simpatia. Bruno parecia totalmente hipnotizado por ela e por isso não tinha falado nenhuma palavra com ela até então.

Leah tinha sentado ao meu lado na mesa durante o jantar e passado algum tempo ela procurou minha mão debaixo da mesa e trouxe pro seu colo, apertando-a e fazendo carinhos em seguida. Ela sabia que eu estava nervosa e aquela era sua forma de me acalmar.

E tinha conseguido.

Depois disso eu consegui aproveitar o tempo com minha família e minha namorada, mesmo eles ainda não sabendo o que ela era de fato. Mas isso, por enquanto, me acalmava o coração.

Pelo menos eles gostaram dela.

Pensei.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora