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Enquanto eu corria até Leah a única coisa que eu conseguia pensar eram nas ultimas palavras da minha mãe e o rosto do meu pai que tinha se transformado em algo que eu desconhecia. Eles me olhavam com nojo, como se eu estivesse imunda. Qualquer tipo de amor que eu encontrava antes em seus olhos quando se dirigiam a mim a muito tempo perdido. "Você não é mais minha filha", Minha mãe tinha me dito sem nem piscar, ou gaguejar, como seu eu realmente fosse nada. Como se de fato minha sexualidade invalidasse meu título de "filha".

Eu tinha guardado toda nossa historia em uma caixinha, que ficava escondida numa gaveta quebrada do meu guarda-roupa. Lá tinha recados, cartas, fotos, o bracelete que Leah me deu. Tinha tudo.

Quando eu cheguei em casa meu quarto estava revirado, e meu pai e minha mãe encontravam-se de pé no meio do quarto, minha mãe segurando uma foto e meu pai inclinado em sua direção para conseguir ver.

Diante da cena meu coração gelou e foi como se eu estivesse caindo.

Eu beijava Leah na foto.

Meu pai não falou nada. O que era estranho porque ele sempre tinha algo a falar. Minha mãe começou a falar coisas que nenhuma filha gostaria de ouvir. E então, quando eu pensei que as coisas não podiam ficar pior, elas ficaram.

- Eu quero você fora da minha casa agora! - minha mãe falou sem olhar para mim.

Eu não conseguia movimentar o corpo. Não conseguia falar, não conseguia reagir. Eu sou a encarava.

- AGORA!!

Na mesma hora virei de costas e sai. Sem levar nada comigo. Nenhuma troca de roupa, muito menos minhas economias. Eu não tinha nada. Eu não era nada.

Eu corria de uma forma que nunca corri antes, de uma forma que eu nem sabia que era capaz. O aperto no peito aumentava quanto mais eu me afastava de casa então tentava compensar com velocidade, deixando-me iludir de que talvez eu poderia correr até essa dor parar.

Quando eu cheguei na casa da Leah bati alguns vezes antes de ela aparecer na porta. Seu rosto foi tomado de preocupação na mesma hora que me viu. Eu nunca tinha ido à sua casa antes.

- Lu, amor... O que aconteceu?

- Eles... eles sabem. - Desabei nos seus braços.

Ela envolveu seu braço ao meu redor e fechou a porta com a perna. Me conduziu até o sofá e me apertou forte contra si. Tudo o que tinha acontecido ficava repetindo na minha cabeça e a vontade de chorar só aumentava. Eu não tinha onde morar, o que vestir. O que iria fazer agora?

- Leah, querida... o que houve?

- Mãe, você pode me esperar na cozinha? Eu já vou lá. Amor, olha para mim. Me conta direito o que houve, por favor.

Levanto a cabeça do seu colo e limpo o rosto.

- Desculpa, Leah... eu... eu não tinha onde ir. Eles me expulsaram de casa.

- Eles o que?! - seus olhos se arregalaram de horror e tristeza, -Espera aqui ta? não vai a canto nenhum, por favor. - Ela me dá um beijo rápido, passando o polegar no meu rosto, - eu volto logo.

Na mesma hora que Leah sai da sala meu celular começa a tocar. Quando vejo a tela meu coração volta a bater desregulado e dolorido. É Maria.

Respiro fundo e atendo a ligação da minha irmã.

- Onde você está Lua?!

- Eu vim pra casa da Leah.

Diferente dos meus pais minha irmã sabia de tudo. Menos o Bru, mas a essa altura meus pai já devem ter contado o tipo de irmã que ele tem.

- Bruno me contou tudo. Ele disse que viu toda a cena. Mãe não quis me falar nada. Lu, eu sinto muito por tudo isso. Eu tentei convencer eles a deixarem você voltar, mas... ah minha irmãzinha... - Minha irmã da um longo suspiro e mais lágrimas caem dos meus olhos. - Eu vou ai, ta? Me manda o endereço por mensagem. - E sem esperar mais nada ela desliga.

Com os olhos embaçados digito o endereço e as instruções para ela pegar o dinheiro que tenho guardado e aperto enviar. Nessa mesma hora Leah volta para sala, com sua mãe.

Leah senta do meu lado e passa o braço ao redor da minha cintura, sua mãe puxa uma cadeira e senta na minha frente, pegando minha mão e colocando no colo de forma maternal.

- Eu quero que saiba que você é bem-vinda aqui nesta casa, ta bom querida? Não, não chore. Vai ficar tudo bem.

Leah deita a cabeça no meu ombro depositando um beijo. Não era assim que eu deveria conhecer a mãe da Leah. Ta tudo tão errado.

- Muito obrigada pela gentileza, Dona Lucia, mas eu realmente não quero incomodar.

- Ah, que isso, meu bem! Não é incomodo nenhum, e eu não vou deixar a menina que minha filha ama sozinha por esse mundo. E por favor, me chame de Lucia, esqueça esse dona horroroso. - Ela afaga meu cabelo e se levanta - Eu vou deixar vocês duas conversarem. Leah, quando terminar traga Lua na cozinha pra comer algo.

Quando sua mãe desaparece dentro da cozinha Leah pede para contar tudo o que aconteceu. E eu conto. Tudo. Até mesmo as duras palavras da minha mãe. Conto tudo engolindo a vontade de voltar a chorar, engolindo o desespero e o medo.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora