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Eu posso dizer que as coisas começaram a fluir entre mim e Leah na fase da lua nova. Era umas das fases que eu me sentia mais corajosa também. Eu costumava fazer tudo que eu não tinha coragem nas fases anteriores. Tudo isso com uma trilha sonora carregada de solos de guitarra e bateria nos ouvidos.

Assim que eu acordei no primeiro dia de lua nova eu vi uma mensagem de Leah no celular dizendo que não poderia me ver hoje, pois sairia com Aurora. Meu sangue ferveu na mesma hora. Mandei uma mensagem dizendo que precisava falar com ela urgente e fui me arrumar para ir para escola. Coloquei o típico preto da fase e fui pra escola, sem me importar em ver se Leah tinha respondido. Também deixei meu celular em casa, Leah teria que esperar pela minha resposta.

Lua nova, como eu disse, fico insuportável. Até para mim mesma.

Mas eu não sabia como agir diferente. Eu era quem era, até eu encontrar que eu seria de verdade.

Quando eu cheguei da escola naquele dia meu celular estava repleto de mensagens e ligações da Leah. Me senti mal no mesmo instante, mas decidi mentir dizendo que tinha esquecido o celular em casa. Ela sabia que minha "personalidade" mudava com as fases da lua, mas isso nunca foi algo que a afetou diretamente. E claro, ela riu quando eu contei minha teoria e me chamou de louca, então não acho que ela entenderia se eu tivesse dito que tinha deixado o celular em casa de propósito.

Sua última mensagem era de um minuto atrás. Imagino que ela saiba que a essa altura eu já teria chegado da escola. 

Leah: Cancelei com Aurora. Encontre-me no parque daqui a 10 min.

Eu não respondi. Só joguei a bolsa na cama e fui em direção ao parque. Ela sabia que eu estaria lá.

Quando eu cheguei no parque Leah já estava lá, de costas para mim. Aproximei-me devagar para que não percebesse que eu estava ali. Quando estava a poucos centímetros de distância, com os braços já levantados para provocar um susto Leah vira-se subitamente e eu pulo assustada.

– Droga, Leah. Você sabia o tempo todo que eu estava aqui? – digo sorrindo.

– Eu senti seu cheiro. – ao contrario de mim Leah não sorria, – Você me deixou preocupada, sabia?

Ela me olhou de cima a baixo e apontou em minha direção.

– Lua nova, eu suponho. Um das suas piores fases. Por acaso você me deixou preocupada de propósito?

Droga.

Ai está o lado negativo de ter alguém que lhe conhece tão bem. É impossível mentir para elas, mesmo que a mentira não tenha sido dita cara a cara.

– Leah, me desculpa. Eu... – Leah deixa a cabeça cair e xinga baixinho, de uma maneira quase inaudível. Leah não fala palavrões.

– O que você está tentando fazer, Lua? Que tipo de brincadeira é essa?

Eu me aproximo, tentando alcançar sua mão, mas ela não permite.

– Eu não tive a intenção de te deixar preocupada, eu só... Eu não sei Leah, talvez eu só quisesse que você sentisse um pouco da aflição que eu sinto todo santo dia.

– Você vai ter que explicar melhor que isso se quer que eu continue sendo sua amiga, Lua. Eu não consigo te entender. Você anda mais estranha ultimamente e eu fico me perguntando todos os dias se eu fiz algo de errado. Essa aflição é pouco para você? Pelo visto sim, se achou que tinha o direito de me deixar preocupada a porra do dia todo! Porque você não conversa comigo ao invés de agir como criança? ­– Leah suspira fundo e alto enquanto balança a cabeça.

– Eu não quero mais ser sua amiga. – digo.

– O que disse? – Leah pergunta levantando o seu olhar preocupado até o meu.

– Eu não quero mais ser só sua amiga. – respiro fundo algumas vezes e continuo, – Eu quero mais. Eu quero você. Você não entende? Os momentos com você são os únicos que vale a pena. Eu passo o dia ansiosa para te ver. E quando eu te vejo é como se meus problemas evaporassem, como se eu pudesse respirar novamente. E eu nunca senti isso por ninguém, Leah. Por ninguém. E a primeira vez que sinto é por uma menina? Eu me sinto apavorada toda vez que penso nisso. Eu sinto tanto medo.

Limpo uma lágrima que escorre pelo meu rosto enquanto olho para o chão. Eu não consigo encara-la, tenho medo do que eu vou encontrar no seu olhar. Leah põe a mão no meu pescoço e pede baixinho:

– Olha para mim, Lu.

Eu levanto o olhar rapidamente e a encaro. Ela é tão linda. Tão delicada. Seus olhos grandes me encaram de volta. Eu não consigo saber o que ela está pensando. Seus olhos me olham como se procurassem algo, alguma prova que tudo que eu disse é verdade. Imagino.

Talvez ela só me queira como amiga mesmo, e eu acabo de estragar a única amizade que ainda prezava na minha vida. Ela tem Aurora. Ela não precisa de mim. Não da maneira que eu preciso dela.

Quando eu começo a levantar minha mão para me afastar do seu toque, ela me aperta e me puxa contra si.

– Você tem certeza? – sussurra no meu ouvido.

– Sim, assim como tenho certeza da morte. – respondo.

Ela se afasta poucos centímetros e analisa meu rosto enquanto coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Seu rosto se ilumina com um sorriso e então... Ela me beija.

Meu corpo todo parece flutuar. O sentimento que cresce dentro de mim é ao mesmo tempo inebriante e desesperador. Mas eu não me importo porque eu tenho Leah Lee, nos meus braços.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora