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Três meses antes da expulsão.

Eu sempre soube que tinha algo de errado comigo.

Bruno sempre se deu muito bem com nosso pai. Maria, apesar de às vezes haver bastante atrito, era a cúmplice da minha mãe.

E eu nunca soube nem ao menos conversar com nenhum dos dois.

Sempre que minha mãe ou meu pai entravam em algum cômodo onde eu estava sozinha, procurava sempre um jeito de sair de fininho, sem que suspeitassem que eu estava, na verdade, fugindo.

Tudo para evitar conversas.

Eu não era assim com meus irmãos, no entanto.

E no colégio eu só tinha amizade com Nic e Lol por causa de um trabalho.

Sempre falei com todo mundo. Tanto no colégio quanto na rua. Mas eram conversas superficiais. Quando eu percebia que a dinâmica iria mudar eu pulava fora.

Eu evitava conversas, sim. Aquelas conversas com significado, que faz ambos participantes pensarem. Eu não gostava de pensar. Não no que dizia respeito a mim mesma.

Então, é... estranha por fora e por dentro.

Não imagino que alguém já tenha percebido isso. E se percebeu simplesmente não se importou o bastante para procurar mudar.

E falo isso pensando nos meus pais. Claro.

Paula Hernandes principalmente.

Não é que eu tenho uma relação ruim com minha mãe. É bem pior que isso, na verdade. Eu fui tão insignificante, por tanto tempo, que ela meramente não se importou em construir uma.

Por boa parte da minha vida eu imaginava que ela apenas me evitava. O porquê eu não sabia, e também não tinha nenhum resposta lógica o suficiente para ser considerada. Então, logo descartei essa ideia. Não adiantava ficar paranoica. Ela simplesmente não gostava de mim.

Não é por menos que eu esteja tão em alerta com a atenção que minha mãe vem me dando ultimamente. Ela até pediu um final de semana inteiro de folga, coisa que em toda minha vida eu não me lembro de ela já ter feito.

Durante essa semana ela fazia várias visitas ao meu quarto. Perguntava várias vezes ao longo do dia como eu estava. E teve até uma manhã em que ela bateu em minha porta e falou: “Filha, o café da manhã está pronto.”

E foi a partir disso que eu comecei a me preocupar verdadeiramente.

Minha mãe não fazia café da manhã pro seus filhos. Ela acreditava que independência se ensinava desde cedo.

E mesmo que uma parte de mim se sentisse apavorada com toda essa mudança repentina no comportamento da Dra. Paula, ainda havia, no mais profundo de mim, uma criança carente de atenção e carinho materno. Uma criança que lutava por aceitação, e mais importante, colo.

Eu odiava essa menininha frágil dentro de mim. Odiava com todas as minhas forças.

Ela desconstruía as barreiras que passei anos construindo, barreiras que mantinha no seu devido lugar os sentimentos, e o pior de todos, minhas lágrimas.

Um dia quando tinha acabado de sair do banho dei de cara com minha mãe no corredor. No mesmo instante apertei a toalha forte contra meu corpo e analisei a fuga mais rápida possível.

Eu não tive tempo suficiente, no entanto. Em quatro passos ela estava na minha frente.

Fui me preparando no mesmo instante para as críticas que ela sempre fazia questão em oferecer.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora