Christopher.
Pego mais uma carta e jogo na mesa. Eu jogava baralho com Gustavo no horário de almoço que ainda me restava.
─ Você é fodido ─ ele reclama após ver que eu havia ganhado. ─ Não quero mais jogar nada também.
─ Odeio jogar baralho contigo porque tu não sabe perder.
─ Sei mesmo não.
─ Viado.
─ Sua mãe, aquela gostosa que eu visito todo dia.
Gustavo se levanta e mete a arma na cintura, ele se despede com um aceno e vai embora. Relaxo na cadeira e encaro meu celular em busca de uma mensagem de Fernanda.
Nada ainda.
Resolvo nem ficar ligando ou mandando mensagem, deixa ela se divertir com sua amiga. Eu não iria ficar no pé dela. Eu vivia grudado vinte e quatro horas nela e tinha medo dela não gostar disso, mas a questão é que eu me preocupava muito com Fernanda. Odeio quando ela sai sozinha.
Coço meus olhos e vejo a porta do meu escritório ser aberta. É o Capitão José, meu ex-chefe do BOPE. Me levanto em imediato e cumprimento o mesmo. Capitão José havia me treinado quando eu escolhi o BOPE, ele me treinou para ser seu substituto, eu admiro esse cara como fosse meu pai. Mesmo com cinquenta anos, ele não deixava de ser um dos melhores e não deixava o BOPE.
─ Forzatt ─ sorriu. ─ Que bom te ver.
─ Capitão José, o que faz por aqui?
─ Vim pegar uns relatórios, sem querer ofender... mas aqui fede.
Eu abro um sorriso. Ele odeia a PM.
─ Eu também acho. Sinto saudade da pancadaria do BOPE.
─ Seu chefe está cantando a secretária ali fora, certeza que ele não aguenta um treinamento do BOPE.
O treinamento do BOPE é bem complicado, só fica mesmo quem é forte. Eu quase desisti. Apanhei muito, sofri muito, mas por conta desse treinamento hoje consigo sobreviver em qualquer lugar e me defender.
─ Por aqui é assim mesmo... graças a Deus que não me envolvo muito.
─ Eu sinto saudades de você, Forzatt... era um dos melhores, era o melhor. Você já matou muito vagabundo, não tem saudade não?
─ Muita.
─ Pois então volte, seu lugar sempre estará garantido lá... você nasceu pra ser Capitão Forzatt, meu filho. Delegado não serve pra você, eu sei como gosta da adrenalina.
─ Eu gosto... mas não se trata apenas de mim. Eu tenho um filho e minha esposa está grávida de uma menina. Ser Capitão é algo difícil.
─ Eu tenho cinco filhos e continuo firme e forte, sei que se morrer vou morrer limpo e sem esse fedor todo.
Eu acabo rindo.
─ Se quiser voltar... eu tenho uma missão pra você. Uma operação no Vidigal.
─ Matar quem dessa vez?
─ O chefe.
─ Sansão?
─ CC ─ ele se refere ao tio de Fernanda, Carlos.
─ Ele é o chefe agora?
─ Sansão morreu, meu filho... CC tá no comando da favela agora.
─ Que desgraçado.
─ Pois é... vou indo. Pense bem.
─ Tudo bem, Capitão José...
─ Faca na caveira ─ ele mostra sua tatuagem no braço e gargalha.
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Um presente da vida #2
Roman d'amourDois anos se passaram após o nascimento de Miguel, dois anos se passaram desde que Fernanda deixou seu filho pequeno pra ir em busca de novas oportunidades na vida, agora, com vinte anos ela leva uma vida totalmente diferente da que tinha anos atrás...