Capítulo 3- Criaturas Cintilantes

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Depois de algum tempo dormindo acordei com o barulho dos trovões, eles estavam anunciando a grande tempestade que está por vir, sentia a umidade no ar ao respirar, e mesmo a casa estando toda fechada escutava o violento sopro dos ventos, uivando sem parar, mandando as mensagens perdidas das pessoas para todos os cantos do mundo, murmúrios secretos de pobres crianças, escutava o sino da varanda tocar desesperadamente, aquele barulho agudo e irritante do tilintar, meus pêlos se eriçaram com esse despertar, miei duas, três, quatro vezes para Niall acordar. Essa não era mais uma tempestade natural, estava sendo controlada, vinha do Norte sendo que os pássaros estavam migrando para lá pela manhã, significa que este vento está sendo manipulado, por quem é minha duvida.

Quem teria esse poder em suas mãos não é uma criatura angelical disso tenho total certeza, nem mesmo uma rebelião de anjos com o bater de suas asas trariam um vento tão poderoso, atentamente olhei para a televisão em buscas de respostas, tenho conhecimento que posso estar presenciando a formação de um redemoinho ou furacão, antes, onde eu morava era raro acontecer esse tipo de coisa, como não recebi respostas corri em direção a janela, não, definitivamente aquilo não é algo da natureza, senti a cortina sendo aberta, agora com o Niall acordado, ele olhava espantado para o céu, suas nuvens estavam negras e carregadas de água, porém a coloração do céu em si era um azul esverdeado, cor jamais vista por mim em um céu nesse estado, por onde os raios do sol insistiam em passar a coloração era um pouco alaranjada em alguns pontos violeta, era uma mistura de cores sem motivos, folhas voavam junto com sacolas plásticas, os pássaros eram levados pelo ar sem nenhum destino, os troncos das árvores se retorciam, e nesse cenário algumas acabaram caindo, a energia da casa não existia mais, estávamos os dois olhando para a tempestade sem fazer nada, Niall correu para fora e eu o segui ficando parado no meio do caminho observando tudo a minha volta, captando todos os detalhes, o vento estava muito forte então prensei o pouco que sobrará de minhas unhas nas rachaduras entre os pisos para não ser levado para longe, já o Niall não teve essa sorte, o galho da árvore que havia no quintal caiu sobre sua cabeça e o mesmo caiu no chão.

Com o tempo o céu foi clareando, não totalmente, mas, agora ele apenas estava com as nuvens cinzentas e pesadas, da árvore começou a sair diversas criaturas que não sei ao certo dizer o que são, parece algum tipo de inseto, mas não aqueles que costumo ver, esses são brancos e cintilantes, suas asas delicadas são transparentes e possuem uma calda comprida e branca, nunca os vi em outro local, somente lá, elas rondam o corpo desmaiado do Niall e aproximam de seu ouvido, corro em direção a ele curioso, havia uma barreira delas impedindo qualquer contato a sua volta e com um toque fui lançado para longe, pude observar as delicadas criaturas de outro ângulo, sozinhas elas são fracas e indefesas, e juntas são fortes e destemidas, mas como insetos poderiam me empurrar de tal maneira? Não havia lógica!                                                      

Observei atentamente o trabalho delas, uma luz muito forte expandiu do Niall fazendo-me fechar os olhos, ao abrir notei algo saindo de si, eram 'coisas' coloridas e brilhantes faziam um circulo e dançava graciosamente pelos ares, de inicio achei que seriam novas criaturas, porém me enganei aquilo mais se parecia com magia, às milhares de cores agora se agrupavam formando desenhos sem muita lógica, vi um felino qualquer, um gato, se transformando em uma grandiosa criatura, de um rugido determinado e foi surgindo o que parecia ser fogos de artifícios, pessoas correndo, e um bebê, levantado ao céus em um assustador redemoinho de pássaros que se dissiparam dando inicio ao dia de hoje, quer dizer identifiquei como sendo hoje por causa da visão ampla de como estava o céu sendo observado por nós da janela. 

Aquilo estava me perturbando, estava assustado e pela primeira vez não sabia o que estava acontecendo, as criaturas sumiram pelo ar, deixando o corpo de Niall livre, fui em sua direção novamente, ao me aproximar pude notar que seu ferimento sangrava um pouco, o corte era pequeno e provavelmente ficaria roxo, meus miados se tornaram o único som no jardim silencioso, tudo estava quieto demais, os trovões pareciam ter parado, e os tilintar do sino também se acalmou, era como se as criaturas tivessem aparecido e levado consigo a atmosfera horrível a nossa volta, escutei alguns gemidos vindos de Niall e me calei, o garoto devia estar com uma tremenda dor de cabeça, seus olhos abriram mostrando um azul mais escurecido e suas pupilas diminuíram pela claridade presente do dia, não era muita, mas o necessário.

-Olá gatinho... Fiquei muito tempo apagado?

Dizia enquanto me acariciava novamente a pergunta foi feita para si mesmo, com um pouco de dificuldade ele se levantou indo para dentro, o segui, ele realmente estava mau, não vejo a razão, seu ferimento não foi tão grave a esse ponto, ele seguiu para cozinha onde retirou da geladeira (que estava desligada pela falta de energia) o resto de uma pizza em seguida indo para o banheiro em busca de um remédio, acabei por deduzir quando ele retirou uma pequena caixa de comprimidos da gaveta.

-Estou emocionalmente detonado, minha sensação é ter ficado o dia inteiro lendo, pensando e fazendo cálculos mentais.

Ele disse pressionando a mão contra a cabeça, fazia algumas caretas e depois soltou um longo suspiro, deve ser porque foi atingindo por galho?! pensei irônico, ele pegou seu celular e ligou para o que parecia ser o corpo de bombeiros ou algo relacionado a energia da cidade desejando o concerto, voltando para a cozinha ele acabou por comer a pizza gelada mesmo e foi se dentar, não havia muito o que se fazer, sem energia era quase impossível se realizar algo atualmente, principalmente para Niall que estimasse ter um pouco mais de 17 anos, me sustentei em ficar pensando deitado no carpete.

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