3 - Primeira Conversa

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Maio – 2012

"Não importa quanto tempo passe, jamais me esquecerei da nossa primeira conversa... Que durou menos de cinco minutos."

Josué sumiu, desapareceu. Ok, talvez não seja para tanto. Ele simplesmente parou de ir à escola durante a tarde, ou ficar parado na esquina de bicicleta. Eu continuava indo à escola de manhã toda quarta-feira para fazer Educação Física, e o via de vez em quando apenas de relance, mas em momento algum veio falar comigo.

— Vocês acham que eu devo começar a me arrumar mais? – Perguntei para Kátia e Liane na hora do intervalo. No mesmo instante, ambas me olharam como se eu tivesse sugerido que jogássemos uma bomba atômica no Banco.

— O que deu em você? – Liane, que era a mais tranquila do trio louco, ficou agitada.

— Você tá bem? Não tá com febre? Comeu comida estragada? – Kátia passava a mão pelo meu rosto como se estivesse medindo minha temperatura.

— Só... Sei lá, acho que eu devia me arrumar mais. – Depois de ter sido praticamente rejeitada por Josué (do meu ponto de vista) eu comecei a ficar paranoica com minha aparência. Ficava horas na frente do espelho encarando meu corpo magro demais, meus seios minúsculos que já deviam ter crescido nessa idade, meu cabelo volumoso cheio de frizz, e meu sorriso... Deus me livre, era o que mais odiava. Para meu (muito) azar, minha presa havia nascido encravada, eu odiava meu sorriso. — Se me falarem que estou boa desse jeito, nunca mais falo com vocês. – Katia e Liane me encararam silenciosamente. Até mesmo elas tinham noção da minha falta de beleza, e como eu era nada popular com os garotos.

— Por que não amarra seu cabelo em um rabo de cavalo alto? Você sempre o usa solto. – Sugeriu Liane. Liane sempre mantém seu cabelo cacheado preso, nunca a vi com ele solto, exceto quando está molhado.

— Passa um lápis no olho, rímel e um pouquinho de sombra... Ah, não esquece do gloss. – Falou Kátia animada. Eu a invejei desde o momento em que a vi. Kátia era linda com seu cabelo loiro e olhos verdes, além de ter o corpo de uma garota de dezesseis anos. Os garotos estavam sempre dando em cima dela.

— Eu não sei passar maquiagem. – Retruquei angustiada. Arrumar-me seria mais difícil do que eu imaginava, talvez devesse nascer de novo, se é que fosse possível. — Mas vou tentar. – Os olhos de Kátia brilharam de animação, e Liane me lançou um leve sorriso. A partir de amanhã eu seria uma nova pessoa.

                                                                                             [...]

Já era oito e meia da manhã, e Liane passaria na minha casa a qualquer instante. Hoje é quarta-feira, dia de fazer Educação Física na parte da manhã. Mesmo que fosse suar (e muito), eu me arrumei. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, e ficou mais bonito do que eu imaginava. Passei o lápis preto e rímel da minha irmã, dispensei a sombra. E pela primeira vez resolvi usar calça, mesmo que fosse me atrapalhar muito.

— Natasha! – Gritou Liane em frente à minha casa.

— Estou indo, mãe. – Despedi-me.

— Tá bom. – Calcei minha rasteirinha e corri de encontro à Liane.

— Nossa... – Liane me encarou como se fosse outra pessoa em sua frente. — Quem é você? – Zombou. Eu sabia que não havia chegado ao ponto de estar linda como Kátia, mas, pelo menos, melhor que antes estava.

— A nova Natasha. – Me exibi passando a mão pelo cabelo e sorrindo.

— Agora sim o Josué vai correr atrás de você. – Ouvir isso me deixou extremamente animada. Eu mal podia esperar para chegar à escola e ver a cara de surpresa dele.

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