Abril – 2012
"Ainda me lembro de como foi difícil nos aproximarmos, quando ambos eram tímidos demais."
Por algum motivo, Josué não fazia nada para se aproximar de mim, era como se ele nunca tivesse se declarado. Bem, na verdade ele meio que foi forçado, e nem foi diretamente para mim.
Ainda estou me perguntando como esse garoto foi se apaixonar por mim entre tantas outras bonitas. Por que eu? Com essa aparência sem graça e desleixada, nada popular e tímida demais.
"Até hoje não entendi por que ele foi se apaixonar por mim, mas eu fico feliz por ter sido eu, muito feliz."
Josué não apareceu mais na escola, e eu comecei a me questionar se ele havia desistido quando me viu pessoalmente. Pensar que ele desistiu me deixava estranhamente abatida, mais do que eu gostaria de admitir. Kátia e Liane até disseram para eu me animar e esquecer Josué, afinal sequer nos conhecíamos. Eu gostaria de dizer a elas que o que senti por ele ao encontra-lo havia se tornado mais verdadeiro que eu imaginava, mas que garota que se apaixona à primeira vista não seria taxada como louca?
A resposta para todas as minhas dúvidas veio ao final das aulas, e eu senti como se minha energia estivesse sendo recuperada.
— Quando podemos fazer o trabalho de geografia? – Perguntou Liane jogando a mochila no ombro. Eu não estava nada animada para fazer o trabalho, e Kátia parecia menos ainda. Liane era, sem dúvidas, a nerd do grupo. Era boa em todas as matérias e só tirava notas altas, enquanto Kátia e eu copiávamos o que ela fazia.
— Quando estiver faltando um dia para entregar. – Respondi. Liane revirou os olhos e Kátia riu jogando o braço sobre meu ombro.
— Apoio. – Rimos. Tínhamos que admitir, se não fosse por Liane estaríamos ferradas.
— Até amanhã. – Me despedi, correndo de encontro à Rafaela e Leila, que me esperavam no portão.
— Até. – Responderam em uníssono.
Desde sempre, Rafaela e eu fomos proibidas de voltar para casa sem a outra, e sequer podíamos sair sem a companhia da outra. Nossos pais são super protetores, eu nem sei o que é sair com minhas amigas.
— Vamos. – Falei para Rafaela quando a alcancei.
Rafaela não parou de conversar com Leila, apenas passou a caminhar em direção à saída em uma conversa animada com a amiga. Eu gostava de Leila, mesmo sendo melhor amiga da minha irmã, também era minha amiga.
— Natasha. – Leila falou alto me assustando. Olhei-a interrogativamente. — Olha lá na esquina. – Falou apontando.
Olhei na direção que ela apontava e meus pés travaram. Mais uma vez o mundo sumiu ao meu redor, meu coração se acelerou e eu não fui capaz de ouvir nada ao meu redor. Josué estava parado de bicicleta, junto a um garoto, na esquina da rua que eu usava para ir embora. Ele estava olhando diretamente para mim, mesmo que estivesse longe, eu podia ver.
— O que tá fazendo parada aí? – Fui despertada de meu devaneio ao ouvir Leila chamar minha atenção. – Vamos logo.
Eu queria ir, mas não queria. Sentia que assim que se chegasse perto dele, minhas pernas iriam falhar e eu cairia esparramada no chão. E se ele vier falar comigo? E se eu gaguejar? E se ele quiser me beijar? Eu estava ficando louca com as hipóteses que surgiam em minha mente, que nem mesmo percebi quando havíamos chegado à esquina. Eu, literalmente, estava andando como um robô.
Para minha total surpresa – e desapontamento – Josué subiu na bicicleta e saiu pedalando para longe de mim. Eu estava chocada, provavelmente meu queixo bateu no asfalto. A partir daquele momento eu comecei a pensar: "Qual é o problema desse garoto?".
— Eu hein, garoto estranho. – Resmungou Leila. Eu estava pensando absolutamente a mesma coisa.
— Acho que ele desistiu de você. – Falou Rafaela. Essa hipótese não é agradável.
Quando eu vi Josué parado na esquina e olhando para mim, eu pensei que ele realmente gostava de mim, mas estou começando a me questionar qual é a intenção dele.
— Deixa ele pra lá, eu mal o conheço, é claro que não gosto dele. – Menti da pior forma possível. Eu disse o oposto de tudo que estava sentindo, exceto o fato de que mal o conhecia. Eu não queria deixar pra lá, queria ir até ele, segurá-lo pela gola da camisa e sacudi-lo até falar de uma vez que gosta de mim, olhando em meus olhos.
Rafaela e Leila nada disseram, talvez soubessem que eu estava mentindo, talvez tivessem acreditado em mim.
Nós seguimos nosso caminho, e então Josué e seu amigo começaram a dar voltas de bicicleta próximos a nós. Eles nunca chegavam perto, mas continuavam andando em círculos como se não estivessem fazendo algo suspeito.
— Seu namorado é o cara mais estranho que eu já vi. – Falou Leila olhando-o como se fosse um alien.
— Ele não é meu namorado. – "Gostaria que fosse", era o que queria dizer, mas me impedi de falar. Não consegui desviar meu olhar dele, olhando-o ali parecia que nos conhecíamos há anos, essa sensação era estranha. Eu queria muito, muito, muito falar com ele, saber como é o som da sua voz, ouvir sua risada, falar qualquer coisa.
— Você queria que fosse. – Zombou Rafaela. Olhei-a surpresa, ela havia dito exatamente o que eu estava pensando, seria possível que minha irmã podia ler mentes? Ri com esse pensamento infantil.
— Eu nunca namoraria um cara estranho assim. – Menti mais uma vez, talvez eu estivesse ficando boa nisso.
— Ata. – Falaram Rafaela e Leila. É, acho que não estou tão boa assim.
Josué e seu amigo pararam no calçadão de uma casa. Josué conversava animadamente, mas notei que de vez em quando olhava em minha direção. Seu amigo não disfarçava, e ficava rindo olhando para mim. Eles estavam falando de mim? Essa possibilidade me deixou nervosa e feliz ao mesmo tempo.
Se Rafaela e Leila notaram o que eles estavam fazendo, fingiram não ver. Eu esperei que assim que passasse em frente a ele, Josué viesse, enfim, falar comigo. Eu tinha essa esperança.
Para minha total decepção, quando passamos por eles, apenas agiram como se não estivéssemos ali. Não olhei em direção a Josué, por mais tentador que fosse. Não olhei para trás quando já estávamos longe, mas não conseguia parar de me questionar se ele estaria olhando para mim e suspirando, assim como eu estava ao pensar nele.
"Não consigo me lembrar desse dia e não dar risada. Ele acabou se mostrando ser um garoto mais tímido que eu imaginava, pena que nessa época eu não sabia."
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Memórias Perdidas #1
RomanceBASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL. Há quem ache o amor assustador, e há quem mergulhe de cabeça sem ter medo. Eu estou classificada entre aqueles que acham assustador, mas mergulham de cabeça sem temer as consequências... Talvez esse tenha sido meu erro...