6 - O dia mais feliz

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Junho – 2012

"Finalmente... É apenas o que posso dizer."

O Joer acabou, nossa escola não venceu, e desde aquele dia não vi mais Josué. Nos dias que fiquei sem vê-lo, comecei a me questionar sobre o que estava fazendo. Eu tinha treze anos, garotas nessa idade não deviam namorar. Se eu pensasse com cuidado, chegaria à conclusão que Josué era um completo desconhecido, e eu já estava lambendo o caminho por onde ele passava.

Agora, parada em frente ao espelho, eu me encaro e percebo que não importa quantas vezes eu diga a mim mesma que tenho apenas treze anos, ou que Josué é apenas um estranho, esse sentimento que tenho por ele não muda.

Eu queria perguntar a minha mãe se é normal uma garota se apaixonar nessa idade, mas ela iria me matar se soubesse dos meus sentimentos, e depois contaria ao meu pai e ele iria me ressuscitar para me matar novamente.

— Natasha! – Liane gritou em frente à minha casa. Hoje é quarta-feira, dia de educação física de manhã.

— Estou indo, mãe. – Aviso.

— Tá bom. – Saio de casa e encontro Liane. Antigamente eu ficava extremamente animada para ir à escola de manhã, mas nesse dia eu estava estranhamente desanimada. Eu queria ver Josué, mas ao mesmo tempo não queria. No dia do jogo ele disse que queria falar comigo, mas acabou não falando, e depois fiquei com a impressão que ele queria dizer que não gostava mais de mim. Eu estava com medo de encontra-lo hoje e ele dizer essas palavras, dizer que seu sentimento por mim acabou. Eu não quero isso. Faz apenas dois meses que Josué entrou em minha vida, e nem foi da forma como queria, mas mesmo assim parece que ele sempre esteve ali, sempre esteve em minha vida.

— Sorria ou vai espantar o Josué. – Liane zombou.

— Nem me fale nisso. – Se surgiu qualquer possibilidade de Josué fugir de mim, eu vou evitar.

                                                                              [...]

Hoje foi o dia de Kátia não vir conosco. Felizmente Liane estava comigo para o caso de o pior acontecer.

Quando entramos no colégio procurei por Josué em todos os lados, até me tocar de que ainda não era o intervalo, e então eu me sentei no banco mais distante de sua sala e aguardei com o coração na mão. Eu queria que Josué me visse, mas também não queria. As minhas incertezas estavam me atormentando.

— Fica calma. – Liane se pronunciou, tirando-me de meus devaneios. Olhei-a, e Liane apontava para minhas pernas, só então percebi que estava batendo meus pés impaciente. Eu estava ficando louca.

— Ele vai terminar comigo.

— Não dá para terminar o que nunca começou. – Ouvir aquelas palavras foi como receber um balde de água fria na cabeça. Ela tinha toda a razão. Eu me acostumei tanto a viver nesse rola ou enrola com Josué, que me esqueci de que ele não é nada meu. Não é meu namorado, e também não é meu amigo. Se ele, por acaso, disser que não quer nada comigo, eu nem mesmo posso usar a desculpa de continuarmos como amigos.

— Eu gosto dele. – Sussurro. Liane olha-me com pena.

— Eu sei.

— Não. – Olho para minhas mãos entrelaçadas em meu colo. — Eu gosto muito dele, tipo, muito mesmo. Eu não sei por que gosto tanto dele quando conversamos apenas uma vez e meia, e ele me tocou uma vez e foi no braço. Nós nunca rimos juntos, conversamos por horas ou nos abraçamos, mas eu gosto muito dele. – Suspiro. — Eu sinto como se esse sentimento sempre tivesse estado aqui, como se eu o conhecesse há anos. – Olho para Liane. — Eu... Eu acho que o amo. – Liane abre a boca para falar, mas eu a interrompo. — Eu sei que parece um absurdo, e você deve estar querendo falar isso agora, mas essa é a verdade. Eu amo Josué. Meus suspiros são direcionados a ele, meus pensamentos são sempre sobre ele. Eu passo horas apenas pensando como seria andar de mãos dadas com ele, ou receber um abraço seu. Meu coração dói, e me sinto sem ar quando penso nele. Eu o amo muito, muito, muito. – Enterro meu rosto em minhas mãos, e luto com todas as minhas forças para não chorar, porque o sinal para o intervalo havia acabado de soar.

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