Capítulo 1 - Baba Yaga

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A ponta da flecha apontando para o alvo, era o único foco que tinha, tudo ao redor estava em panorâmico, desfocado. Sua respiração era calma, contida, embora o coração batesse fortemente no tórax. Sentia-se nervosa, sim. Era época de inverno, um inverno cruel e rigoroso. Há tempos não aparecia um cervo gordo como aquele nas redondezas. Já estava farta de comer ratos, saciavam apenas três dias, tinham gosto de merda. Se errasse ao alvo, o barulho assustaria o animal, ele fugiria e nunca mais voltaria àquele local.

Puxou o ar brevemente com cuidado, continha as tremedeiras de sua mão, que logo começava a suar. Com o olho direito fechado, ela soltou a flecha do arco, ao mesmo instante em que soltou o ar dos pulmões...

No alvo. O objeto penetrou no pescoço do cervo. Que recebeu-a despercebido, provavelmente não tinha ideia do que o atingira. A caçadora avançou por entre os matos. Os galhos arranham seu rosto e se grudavam na sua roupa, mas ela precisava chegar rápido na sua presa, pois já haviam outros animais em volta, o sangue do cervo tinha um cheiro delicioso, qualquer predador se sentiria tentado.

Agachou-se até o veado e deslizou a mão sobre o pelo branco e ensanguentado do mesmo. Ainda estava vivo, com os olhos arregalados e direcionados à ela. O diafragma da caça inflava e esvaziava rapidamente, vestígios de uma respiração ofegante. Aradia tirou seu pequeno punhal embainhado na cintura e cortou o pescoço do cervo, terminando de vez com o sofrimento do mesmo.

O problema aparecia agora: Os predadores caninos começavam a se esgueirar por entre os galhos, parcialmente levantados, andando estreito, a neve começava a cair com mais intensidade graças ao vento. Mas Aradia tinha que manter firmeza, mesmo com medo dos lobos e cansada de ficar o dia todo à espreita. Com fome e frio, ela tinha de permanecer forte. Guardou seu arco sobre a parte de trás da capa, que tinha um lugar próprio para anexar.

Um veado era um pouco menor que um cavalo, um animal pesado, a galhada iria atrapalhar no transporte. Se fosse um pouco menor Aradia poderia tentar carregá-lo nas costas. Mas era um momento crítico. Não podia simplesmente comê-lo ali. Agarrou nos chifres do mesmo e com dificuldade o puxou, arrastando pelo chão coberto de geada. Um esforço que exigia força. A caçadora era alta, estava saudável, embora a fome lhe mantivesse fraca, ainda assim era a mesma fome que lhe incentivava a arrastar o corpo do cervo.

Os lobos iam e viam pelos árvores, observando-a. Aradia escutava os vultos por entre as folhas congeladas. Queriam cercá-la. Ela sorriu de canto, um som abafado, debochado, escapou de sua respiração, continuou andando e arrastando o veado. Seu abrigo não era tão longe. Até porque ela não poderia se dar ao luxo sair dos arredores. Não queria correr o risco.

Suas mãos, que estavam desprotegidas começavam a doer pelo frio, estavam expostas por estarem agarradas à galhada, segurava firmemente, tentando conter a dor. As botas que calçava começavam a ceder à umidade. Um lobo mais à frente dos outros se aproximava sorrateiramente, rosnando baixinho, conforme iam se aproximando os granidos ia ficando mais altos.

É apenas um cachorrinho. Pensou ela voltando a andar.

Aradia olhava para os lados, estavam cercando-a. Parou de caminhar e olhou para o lobo que tomava a frente, possivelmente era o líder. Ela o encarou nos olhos e rosnou de volta. Algo nos olhos dela fez com que o canino recuasse, quieto, de orelhas baixas e com o rabo entre as pernas. Se o alfa recuasse, todos os outros o seguiam.

Seguindo sua trilha pela mata, era complicado passar por entre os galhos arrastando um cervo. E isso atrasava a caçadora. Estava com o rosto todo arranhado pelos galhos secos e agressivos, mas por sorte, também estava molhado e gelado, assim ela não sentia a dor dos cortes, não agora.

WSU's Aradia - Sangue de VilãoOnde histórias criam vida. Descubra agora