Eleanor já esperava aquela traição de seu Coven.
Ela reconhecia que andava ausente demais, e que suas subordinadas queriam apenas poder.
Mas elas sabiam do histórico espiritual de Eleanor. E ainda sim não a compreenderam.
A bruxa suprema tinha ódio delas, seus olhos emanavam raiva, mas ainda não estava na sua encarnação mais poderosa. Tinha apenas de aceitar.
Enquanto estava amarrada firmemente com cordas grossas de cipó, era arrastada pelo chão de terra, tendo a pele esfolada pelo contato brusco com o solo. Os ancestrais a escolheram, mas eles não a ajudariam, pois era seu destino. Ainda assim ela tinha raiva pela traição, entretanto não resistia, tão pouco se debatia tentando impedir.
Estava amordaçada com um pano encardido e ensanguentado com o sacrifício da ave. O grande problema era que tinham colocado terra na sua boca. Ela tentava tossir para tirar, mas o pano bloqueava a saída.
Sua pele ardia enquanto era rasgada pelos galhos secos e pedras no caminho.
Era uma humilhação e tanto.
Chegando perto da fogueira, colocaram-lhe uma coroa de espinhos, só que tampando e ferindo seus olhos, que agora foram obrigados a se fecharem.
Ela sentia cada espinho, perfurar-lhe a pele, arrancando-lhe o sangue. Ferindo sua alma.
Malditas.
Eleanor tentava fazer grunhidos para xingá-las, mas a terra em sua boca fazia com que ela se engasgasse, tentava tossir, mas não conseguia. O suor misturando com o sangue de outros animais e com o próprio a molhava por completo, estava fedendo a carne podre, graças aos rituais que obrigaram-na a passar.
Sentiu quando jogaram-lhe um líquido gelado que fez seus ferimentos arderem.
Elas iriam pagar. Todas elas. Não sobraria nenhuma. Eleanor praguejava em sua mente, seus pensamentos tinha uma energia forte, mas no momento não era útil.
Havia passado dias em cativeiro, comendo carniça, bebendo sabe-se lá o que. Estava doente, pelo frio, pela falta de comida, pela situação em que lhe colocaram. Tentaram afogar-lhe. Mas não conseguiram, foi a única vez que Eleanor reagiu. Logo depois viu que não era preciso resistir, havia perdido sua posição no Coven... sem alguém para reconhecer sua grandiosa magia, ela não era nada.
Sentiu quando seus pés começaram a esquentar. E mentalmente recitava um cântico, uma prece.
Uma maldição.
O calor subiu, tornando-se insuportável nas pernas, a dor era intensa cada vez que subia o calor, ia piorando por onde passava. Sentia seu corpo fritar por inteiro. Grunhia com um animal, debatia mesmo envolvida pelas cordas ao tronco que lhe mantinha de pé. Queria se jogar no chão, apagar o fogo que consumia sua carne. Queria se jogar na água.
Debatia-se mais e mais. Calor. Dor.
Seus glóbulos oculares ferviam no próprio lubrificante.
Ela queria gritar.
Agora que o pano já estava consumido pelas chamas ela sabia que poderia, doeria. Precisava, não aguentava.
E então ela gritou. A garganta já queimada doeu, incomodou, não mais que sua pele cozinhando. O som ecoou por toda floresta, soou mais alto do que o natural. Era um grito de vingança. Um som horrível de seu ouvir, todas as bruxas ali presente taparam seus ouvidos. Lobos uivaram em respostas, gralhas enlouqueceram no céu, ursos rugiam de longe. E os corvos começaram a rodear. Grasnando, desesperados.
As chamas do fogo respondiam ela. Tentavam consolá-la. Mas ela gritava mais e mais.
Qualquer um que ouvisse, sentiria a agonia que ela sentiu, o ódio que ela sentiu.
Os corvos grasnavam ainda mais à medida que ela gritava. Alguns atacavam as bruxas, outros caiam debatendo-se no chão e logo morrendo.
Ela já não tinha mais sentidos, apenas sentia a dor. Estava no seu limite. Nem sequer sabia a quanto tempo estava ali, mas parecia uma eternidade.
Quando chegou ao seu limite, o fogo ainda sussurrava em seus ouvidos. Sua pele já estava consumida, perecia plástico derretido sobre os ossos carbonizados.
A alma agora perdida encontrava algum casulo, era seu Carma, ir para outro receptáculo, ainda lembrando de tudo. Mas já era uma alma velha, estava cansada de sofrer. Sua essência transbordava o desejo de vingança.
Foi então que pousou sobre o pequeno cadáver de um dos corvos caídos. E ali se fixou. Recolheu-se para algum lugar escondido e sossegado, estava de luto por ela mesma. Irritada, traída. Refletiu sobre todas as suas vidas, por algum motivo lembrava-se de todas. De todas as mortes e de quem era. Aradia. Não esconderia seu nome, nunca mais.
Ela teria sua vingança. E não sobraria ninguém para contar história.
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WSU's Aradia - Sangue de Vilão
Misterio / SuspensoAradia é uma alma que por muitas vidas sofreu. Uma alma perdida com um acúmulo de poder Ancestral. Amaldiçoada pelas vidas passadas, desta vez Aradia tem a missão de caçar àqueles que lhe traíram. Mas há muito mais do que um sentimento de vingança...